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Como nasce um vocabulário

 
Desde a gestão de Machado de Assis (1896 – 1908) começou-se a insistir, pela palavra do próprio patrono da ABL, na criação do “dicionário etimológico”, a ser 
futuramente produzido pela Academia. O assunto Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa sempre esteve presente nas discussões da ABL, dada a sua relevância.
 
No Natal de 1977, o então presidente Austregésilo de Athayde fez a apresentação da primeira versão completa do VOLP, em originais cuidadosamente coordenados por Antônio Houaiss. Ele foi o Relator da Comissão Acadêmica que cuidou da matéria: Pedro Calmon, Barbosa Lima Sobrinho e Abgar Renault, além do próprio Houaiss. O relatório foi subscrito no dia 20/12/1977.
 
Na ocasião, referindo-se à Lei no 5.765, de 18 de dezembro de 1971, assinada pelo presidente Emílio Médici e pelo seu ministro da Educação, Jarbas Passarinho, 
Athayde afirmou que assim se oferecia à lexicologia e à lexicografia da língua portuguesa “uma recolha tão exaustiva quanto possível do léxico da língua na sua feição 
escrita ou documentada em letra de forma.”
 
Em 1979, houve um encontro casual em Teresópolis de Arnaldo Niskier com o médico Noel Nutels, seu amigo, e Antônio Houaiss. Nutels, com o seu jeito expansivo, reclamou que nenhuma editora havia manifestado interesse pelo “trabalho patriótico” de Houaiss, que na época já havia registrado 350 mil verbetes. Diretor que era de Bloch Editores, Arnaldo levou o assunto ao conhecimento de Adolpho Bloch, que logo topou a empreitada e nos designou para as providências cabíveis. Foi de nossa iniciativa procurar o ministro Ney Braga para financiar o empreendimento, determinou que se fizesse por intermédio da então Fename, hoje FNDE.
 
Deve-se afirmar que o verdadeiro ponto de partida do VOLP foi uma proposta do prof. Celso Cunha ao acadêmico Josué Montello, então presidente do Conselho Federal de Cultura, onde ficou no período de 1967 a 1989. Montello designou o escritor Guimarães Rosa para relator da matéria, que, aprovada no CFC, foi levada à aprovação do Conselho Federal de Educação. Lá, tendo como relator Celso Cunha, mereceu igual aprovação. Daí o assunto veio à ABL, que encaminhou as conclusões à presidência da República e desta ao Congresso Nacional, para aprovação final. São esses os fundamentos do VOLP, que tem toda essa sustentação legal.
 
Registre-se que as instruções para a organização do VOLP foram apresentadas pela ABL na sessão de 12 de agosto de 1943.
 
A Comissão Acadêmica do VOLP foi designada no início de 1972. A primeira coleta ficou aos cuidados de um grupo de estudantes de Letras da PUC, dirigido pelo prof. Evanildo Bechara e secretariado pelo prof. Marcos Margulies, já então representante da Empresa Bloch (eu dava cobertura dentro da empresa). Numa 2a fase, que se estendeu pelos anos de 1974 e 1975, o relator agregou à coleta sua recolha pessoal, com a colaboração de Mauro de Salles Villar. A 3a fase coube a um grupo de 
trabalho integrado pelo lexicógrafo Antonio Geraldo da Cunha e professores Diva de Oliveira Salles, Bruno Palma, Ronaldo Menegaz e Júlio César Castañon Guimarães, 
todos sob a direção do relator (Antônio Houaiss). Este último grupo trabalhou na Manchete (9o andar). A Comissão Acadêmica do VOLP, em 20/12/1977, integrada por 
Pedro Calmon, Barbosa Lima Sobrinho, Abgar Renault e Antônio Houaiss (relator) agradeceu formalmente aos funcionários de Bloch Editores, “do seu chefe aos mais 
modestos auxiliares”. O chefe era Arnaldo Niskier.
 
Devemos um registro especial ao acadêmico Evanildo Bechara, indiscutivelmente, um dos maiores nomes brasileiros como filólogo e gramático, autor de obras fundamentais na matéria. Ele entrou para a ABL em 25 de maio de 2001 e a partir de então, integrando a Comissão de Lexicografia e Lexicologia, foi inexcedível nos cuidados com todos os nossos produtos. A ele devemos a atualização dos mesmos, especialmente do VOLP, cuja 5a edição tem 381 mil verbetes e foi lançado em 2009. Antes, em 2008, foi responsável pelo lançamento do Dicionário Escolar da ABL. Sua dedicação e competência merecem um carinhoso registro.
 
Correio Braziliense, 13/02/2016