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Artigos

 
  • Despetalando a flor do Lácio

    O Globo (RJ), em 04/01/2009

    "Despetalando" está correto, tenho praticamente certeza. Não acredito que um filólogo desalmado tenha resolvido que aí vai hífen. Não, não vai, não é des-petalar. "Flor" e "Lácio" continuam, uma sem acento, outro com acento. Portanto, cem por cento de acerto em meu primeiro título na ortografia nova, brilhei mais uma vez. Isso, contudo, não me aplaca o nervosismo. Deve ser a idade, porque já encarei algumas reformas ortográficas nesta curta existência e me saí satisfatoriamente, mesmo no tempo em que a gente tinha que grafar "tôda" com circunflexo, para distinguir de "toda", que ninguém sabia o que era, embora, no ver de alguns, fosse uma ave amazônica pouco sociável, ou, segundo outros, uma exortação obscena de origem xavante. Acho que esse ponto nunca será esclarecido (de qualquer forma, cartas de esclarecimento para o editor, por caridade) e constituirá mais uma das graves interrogações sem cujas respostas minha geração deixará este mundo.

  • Palpite infeliz

    Jornal do Brasil (RJ), em 04/01/2009

    O título do samba de Noel Rosa parece que se aplica com muita propriedade ao noticiário que dá conta da intenção do governo de transferir a sede da Escola Superior de Guerra para Brasília. Mais essa, agora?

  • A crise na janela

    Jornal do Brasil (RJ), em 02/01/2009

    Ano novo, dores de cabeça novas. Vim passar o Natal e o fim de ano em São Luís. Minha casa tem uma vista para o mar, de frente para a baía de São Marcos, onde ficam fundeados os navios que vão para o porto da Madeira, da Vale do Rio Doce, ou Itaqui, terminal de carga geral.

  • Divagações espaciais

    Folha de S. Paulo (SP), em 01/01/2009

    Em teoria, a cada ano que se inicia, a Terra está no mesmo ponto espacial do ano que acabou e de todos os demais anos. O nosso planeta deu um giro completo em torno do Sol. Não tenho elementos – nem me interessa tê-los – para confirmar ou contestar os entendidos nessas coisas. Dou de barato que estejam certos e não me sentirei frustrado se estiverem errados.

  • O julgamento de 2008

    Folha de S. Paulo (SP), em 31/12/2008

    COMO ERA de esperar, o julgamento do ano de 2008 realizou-se na noite do dia 31 de dezembro e deveria terminar impreterivelmente à meia-noite. Primeiro falou o advogado de acusação."Meritíssimo, como é de seu conhecimento, este tribunal funciona há muitos anos -quase tantos quanto os réus aqui julgados, que não foram poucos. Já tivemos casos sombrios: 1914, que viu o começo da Primeira Guerra; 1929, que deu de presente ao mundo uma tremenda crise.

  • Lições e espantos de 2008

    Folha de S. Paulo (SP), em 30/12/2008

    O RECADO do êxito de Barack Obama foi sobretudo o da obrigatória convivência da democracia com os emergentes sistemas de poder do século 21. Veio à frente desse sucesso uma América profunda que nos trouxe de volta à cidadania arraigada em Estados drasticamente conservadores, como Iowa ou Virgínia do Sul, rompendo todas as previsões de jogo, que afinal fazem das eleições sempre meras alternativas de um mesmo establishment. O ganho do senador do Illinois livra-nos por outro lado do horror da permanência dos republicanos, o que só cristalizaria de vez o pior fundamentalismo ocidental. Na declaração de George W. Bush, esses valores autorizariam até a mentira política no enfrentamento previsível de uma guerra de religiões.

  • Civilização em crise

    Jornal do Commercio (RJ), em 30/12/2008

    Já comentei diversas vezes sobre um movimento de feministas radicais que tentou proibir o orgasmo das mulheres enquanto perdurasse a sangrenta tirania de Pinochet.

  • A difícil arte de adivinhar o futuro

    Folha de São Paulo (SP), em 29/12/2008

    ERAM OITO DA NOITE e, depois de ter atendido mais de 20 pessoas, o adivinho, cansado, preparava-se para ir para casa.Quando, porém, abriu a porta da sala, viu-se diante de um desconhecido, um homem alto, grande, forte que ali estava, imóvel no corredor do velho prédio. Por um instante ficaram os dois parados, olhando-se. Finalmente o homem disse:

  • Posições e acidente de percurso

    Folha de S. Paulo (SP), em 28/12/2008

    ALI POR VOLTA DOS ANOS 70 , fez sucesso entre os aficionados um livrinho ilustrado que tinha título inocente, mas propósito nem tanto. Em inglês, era "Positions". Ensinava posições especiais, algumas especialíssimas, para se praticar o ato sexual. Até então, a maior e melhor referência para o assunto era o "Kama Sutra", que, se não me engano, codificava 48 maneiras de fazer aquilo que os livros sérios chamam pelo feio nome de "coito".

  • O sol por comissão

    Folha de S. Paulo (SP), em 28/12/2008

    RIO DE JANEIRO - Li reclamações na mídia sobre a visita do presidente francês ao Brasil. Os resmungões de sempre (entre os quais o cronista) chegaram a chamá-lo de caixeiro viajante, um mascate que vai com sua mala cheia de novidades às regiões distanciadas do consumo, levando artigos de armarinho que não chegam lá.

  • O ano do desafio

    Zero Hora (RS), em 28/12/2008

    Em A Era dos Extremos, o historiador Eric Hobsbawm, que já esteve em Porto Alegre e é uma das melhores cabeça de nosso mundo, diz que o século 20 na realidade começou em 1914, com o início da guerra que marcou o fim do velho liberalismo. Da mesma maneira podemos dizer que o século 21 vai começar em 2009. Até agora ainda vivíamos sob os efeitos da otimista conjuntura que marcou o fim do século 20, a expansão econômica, o desenvolvimento da informática, a emergência de novas potências, nelas incluído o Brasil. Agora estamos em crise, uma crise cujas proporções ainda não conhecemos, mas que certamente terá conseqüências. Por causa dessa crise, já podemos dar um apelido ao ano que se inicia: será o ano do desafio.

  • "Intérprete da condição humana"

    O Estado de S. Paulo (SP), em 28/12/2008

    É difícil falar em Meu Machado tratando-se de um escritor de obra tão vasta, tão variada e tão surpreendente. Meus Machados é melhor. No meu caso, incluem Dom Casmurro, claro, e também contos (Uns Braços, Missa do Galo) e crônicas. Mas há um texto, às vezes classificado como conto, às vezes como novela, que sempre me fascinou - como leitor, como médico, como escritor. Trata-se de O Alienista, publicado originalmente - sob a então habitual forma de folhetim, isto é, em capítulos - no jornal A Estação, entre outubro de 1881 e março de 1882.

  • Admirável ano novo

    O Globo (RJ), em 28/12/2008

    Era comum, talvez ainda seja, que o infeliz plantado numa redação na véspera de Natal, com uma página somente esperando uma matéria dele para rodar, não resista ao título que, em temível concerto telepático, também vem à cabeça dos outros na mesma situação, e taque lá “Admirável Mundo Novo”, tirado, como sabemos, do livro do mesmo título de Aldous Huxley. Aqui, fiz uma inovação, na esperança de que ela não ocorra também a mais de dez por cento dos aflitos. Boto “ano”, em vez de “mundo” porque é cada vez mais assim. O que era para acontecer somente daqui a décadas acontece amanhã e, descontada a crise, creio que certos setores, notadamente do mercado de eletrônicos às vezes pisam no pé das novidades, para que elas não terminem embotando a capacidade de absorção ou compra do consumidor.

  • Evitando a ressaca

    Zero Hora (RS), em 27/12/2008

    A melhor maneira de evitar a ressaca é não beber ou beber com moderação. Quem o diz não é o autor destas linhas, abstêmio por opção, mas sim um exaustivo estudo publicado no British Medical Journal. Os autores examinaram centenas de formas de tratamento supostamente eficazes no controle dos sintomas da bebida, chegando a esta conclusão: nenhum deles resolve o problema. Que, no entanto, tem de ser enfrentado, sobretudo nesta época do ano em que o consumo de álcool aumenta substancialmente – e assim também a ressaca. A palavra, aliás, tem dois sentidos: designa o movimento agitado das ondas (e por isso Machado de Assis falou nos “olhos de ressaca”, de Capitu) e os sintomas que se seguem à ingestão excessiva de álcool.

  • Quem inventou a prosperidade?

    Folha de S. Paulo (SP), em 26/12/2008

    O ANO podia ter sido pior -aliás, tudo nesta vida e na outra podia ser pior.Sempre impliquei com o lugar-comum que obriga a humanidade a maldizer o ano que passou e a bajular o ano que chega, desejando-o próspero. A verdade é que todos os anos que já maldizemos, íntima ou publicamente, todos os anos que ficamos aflitos em vê-los para trás, todos esses anos - repito - foram prósperos no início e acabaram malditos, como os demais. Quem inventou essa prosperidade?