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Artigos

 
  • A estátua e o gesto

    RIO DE JANEIRO - Não chega a ser um objeto de culto, não pertence a nenhuma religião específica, embora tenha o visual e o nome do fundador de uma delas. Na verdade, é um bloco de cimento rude revestido de pequenas escamas, como as naves espaciais. Um gigante de muitos metros de altura, com os braços abertos, incansavelmente abertos apesar do gesto, não lembra uma cruz, mas um abraço.

  • Suposições

    RIO DE JANEIRO - Formadores de opinião (entre os quais não me incluo), sociólogos, psicólogos e outros entendidos que procuram explicar tudo foram unânimes em condenar a ação policial no complexo de favelas do Alemão, da qual resultaram 20 e tantos cadáveres de "supostos" traficantes.

  • Hábitos e iluminação

    Numa cidade da Espanha, existe uma antiga ermida escavada na rocha, onde vive, há alguns anos, um homem que se dedica à contemplação. Fui procurá-lo. Depois de dividir um pedaço de pão, pediu que o acompanhasse até um riacho para colher alguns cogumelos. No caminho, um jovem se aproximou. “Santo homem, tenho escutado dizer que, para atingir a iluminação, não devemos comer carne. É verdade?”, perguntou o jovem. “Aceite com alegria tudo o que a vida lhe oferece. Não pecarás contra o espírito, mas não blasfemarás contra a generosidade da terra”, respondeu.

  • Pequenos e médios

    O Diário do Comércio informou que o governador José Serra vai submeter à Assembléia Legislativa de São Paulo um projeto de lei que beneficia as micros e pequenas empresas. Aduz nosso jornal que o compromisso foi firmado pelo secretário do Trabalho, Guilherme Afif Domingos, durante ato que teve lugar na Frente Parlamentar de Apoio a Micro e Pequena Empresa.

  • Brasil versus Argentina

    É antiga, muito antiga, a questão do Prata. Essa questão não passou de um arrufo diplomático. Lamento que o meu confrade Sérgio Corrêa da Costa, diplomata e historiador, não tenha escrito um livro sobre essa questão. Agora voltamos a ter a nova questão do Prata, com a falta de luz e gás para os nossos vizinhos. Ao mesmo tempo, temos notícias sobre a candidatura da senhora Kirchner para a presidência da República e notícias sobre a era Dunga no futebol brasileiro...

  • Regras dos guerreiros

    Os livros de Castañeda, que foram muito lidos pela geração hippie, nos falam do comportamento que um Guerreiro da Luz precisa ter diante da vida. Abaixo, uma síntese das regras: Guerreiros sempre escolhem o campo da batalha; um Guerreiro relaxa, para que os Poderes Superiores ajam durante a luta; um Guerreiro confrontado com o desconhecido retrai-se por algum tempo; nunca se acovarda; um Guerreiro sabe improvisar. Os Guerreiros só pensam em uma coisa: sua liberdade. Morrer, ou ser vencido, não tem importância. Um Guerreiro se arrisca.

  • Pan-Pan-Pan

    EU NÃO SOU grande autoridade para falar de esportes, pois, afinal, nunca fui desportista. Quando estava no ginásio tive uma única irrupção de atletismo. Tornei-me torcedor do Flamengo e fazia corrida, naquele tempo chamada de "atlética". Logo percebi que aquele não era o meu chão e, em vez de correr, deu-me praticar o esporte de ler. Pouco a pouco fui deixando de ouvir os jogos nos velhos rádios cheios de chiados, que chamávamos "descargas", e que impediam a compreensão do que era transmitido. E por falar em "descargas", lembro o primeiro rádio que chegou em Pinheiro, comprado pelo farmacêutico José Alvim.

  • Não reforma nada aí

    Deve haver alguns entre vocês que ainda se lembram do tempo em que se falava em reformas de base. Era até meio moda intelectual falar-se nas reformas de base. O sujeito nem sabia direito o que eram as reformas de base, mas, nas boas conversas em sociedade, se manifestava, ainda que muitas vezes moderadamente, a favor das reformas de base. 'Claro que, sem as reformas de base, nada poderá ser feito', concluía-se judiciosamente qualquer pensamento sobre a realidade nacional.

  • O tijolo que faltava

    Durante uma viagem, recebi um fax de minha secretária: “Falta um tijolo de vidro para a reforma da cozinha”, dizia ela. “Envio o projeto original e o projeto que o pedreiro usará para compensar a falta”. De um lado, havia o desejo de minha mulher: fileiras de tijolos de vidro. Do outro lado, o projeto que resolvia a falta de um tijolo: um quebra-cabeças, em que os quadrados de vidro se misturavam. “Comprem o tijolo que falta”, escreveu minha mulher. E o desenho original foi mantido. Quantas vezes, pela falta de um tijolo, deturpamos o projeto original de nossas vidas?

  • Ouro

    Um homem ouviu falar que um alquimista perdera uma famosa pedra filosofal, que tinha o dom de transformar em ouro todo metal que tocava. Como não sabia exatamente o aspecto da pedra filosofal, o homem começou a pegar todos os seixos que encontrava pelo caminho, colocando-os em contato com a fivela de seu cinto. Assim, caminhava por todo lugar, testando um seixo atrás do outro. Certa noite, antes de dormir, deu-se conta de que a fivela de seu cinto havia se transformado em ouro! Mas, qual das pedras que encontrou naquele dia tinha sido? O que começou como uma aventura transformou-se numa obrigação aborrecida. Percorrera o caminho certo, e deixara de prestar atenção ao milagre que o esperava, obcecado por fazer fortuna.

  • O bom professor

    O sábio Confúcio estava meditando à sombra de uma árvore quando foi interrompido por alguns de seus discípulos, que queriam lhe fazer perguntas. “O que é um bom professor?”, questionaram eles. Confúcio respondeu: “O bom professor é o que examina tudo aquilo o que ensina para seus alunos. As idéias antigas não podem escravizar o pensamento do homem, porque elas se adaptam e ganham novas formas. Então, tomemos a riqueza filosófica do passado, sem jamais perder de vista os novos desafios que o mundo presente nos propõe”.

  • Tipos de prisão

    Dois ex-presos políticos argentinos se encontraram, já de volta ao país, depois de muitos anos sem qualquer contato entre eles. Os dois sentaram-se num bar na Avenida de Maio e começaram a se lembrar dos anos negros que viveram na repressão, quando as pessoas sumiam sem deixar qualquer vestígio. A conversa fluía bem quando, em certa altura , um perguntou ao outro: “Por quanto tempo você ficou preso?”. “Dois anos”, respondeu o homem acomodado do outro lado da mesa. E continuou contando. “Eu sofri torturas que nunca imaginara que acontecia antes. Vi minha mulher sendo violentada na minha frente. Mas os responsáveis já foram presos e condenados. Isso é o que importa para mim”. “Ótimo. E sua alma já perdoou também?”, insistiu na conversa o primeiro. “Claro que não”, replicou o outro, de forma bastante veemente. “então você continua prisioneiro deles”, respondeu o amigo.

  • A força da memória

    Em meu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, usei uma frase que, de vez em quando, repito, levado pela verdade que ela transmite. Esta: "País sem memória está morto e não sabe". Diga-se que o mesmo acontece com regiões definidas, com cidades e até com burgos menores. Louvo, por isto, os livros que registram, discutem e mostram os movimentos culturais de uma região e levantam a memória de trechos de nosso País onde nos reunimos para viver, agir, amar, pensar, enfim, ser. Temos permanente necessidade de guardar o que fazemos: sonetos, narrativas, contos, pinturas, músicas, móveis, prédios, como sinais individualizados de um determinado lugar.

  • Nada de novo

    RIO DE JANEIRO - Deve ser uma vocação esquisita. O Rio é bagunçado, parece que nada é levado a sério pelo carioca, mas sempre encontra um jeito de arrumar as coisas e arrumar-se. Dois meses antes da abertura do Pan, era voz geral que nada ficaria pronto para o encontro dos atletas das três Américas.