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Artigos

 
  • Conselho de leitura

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 30/10/2005

    Sofremos, mas insistimos. É antiga a luta pela melhoria das condições de oferta de livros à sociedade brasileira. Primeiro foi uma longa fase de colonialismo cultural. Éramos escravos de obras produzidas na Europa e que influenciaram nossos maiores escritores. Portugal e França se revezaram nessa espécie de imposição, agravada pelo fato de que o Brasil foi proibido, até 1808, de ter suas próprias gráficas.

  • Leite derramado

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 30/10/2005

    Até onde vai minha memória, em meus muitos anos de crônica, nunca passei uma semana falando de um só assunto. Mas o referendo do último domingo tanto me espantou que aqui estou eu para comentá-lo mais uma vez, sem a autoridade de ter tomado parte nele, nem ativa nem passiva, antes pelo contrário.

  • Salvando a pátria

    O Globo (Rio de Janeiro), em 30/10/2005

    Sobrolho franzido, ar tão grave quanto lhe permitem os bermudões e as sandálias velhas, o escritor abandona de supetão o teclado e resolve descer à rua. Está difícil escrever hoje, nesta primavera londrina que o Rio de Janeiro tem vivido, com o céu sempre carregado e o sol foragido. Paradoxalmente, o que aflige o escritor não é o que, pelo menos de acordo com o folclore do ramo, volta e meia se abate sobre os que escrevem com obrigação e prazo, ou seja, a famosa falta de assunto. É justamente o contrário, é o excesso de assuntos. E, na distante juventude, tempo em que se estudava latim, ele aprendeu que quod abundat non nocet - o que abunda não faz mal. (Carece de suporte linguístico a tradução, corrente nessa época, por “quando a bunda não é nossa”.) Portanto, não teria razão de queixa.

  • Endireitando as coisas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 29/10/2005

    Parece um ato falho da esquerda nacional: volta e meia clama pela necessidade de "endireitar" as coisas, ou seja, endireitar a vida nacional, o Congresso, o sistema como um todo, os indivíduos em particular.

  • O supremo entra na crise

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 28/10/2005

    Talvez não exista critério mais claro da chegada da crise aos seus limites que de uma intervenção inovadora do Supremo no usar, ao lado da guarda da Constituição, o seu poder de normalização do sistema. Nessas interpretações extremas do que seja manter a Carta Magna do País, a Corte se investe da latitude que lhe permita este valor profundo pelo nosso Estado de Direito. Ela não está vinculada ao espartilho das súmulas, nem deixa de levar a interpretação da lei que recomenda o melhor direito romano, no respeito ao bem comum. Há um intrínseco poder moderador da mais alta Corte, que se exerce em favor da estabilidade geral da nação, quer contendo o fio do legalismo extremo, quer não fugindo à norma inovadora, rebelde ao precedente.

  • Como não ter raiva

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 28/10/2005

    Lourival Batista, um estreito amigo e experimentado político de Sergipe, sempre me dava um conselho, que era um pouco inútil, uma vez que eu já praticava esse comportamento: "Não tenha raiva, dá erisipela". Ele, também, no exercício de vários mandatos de senador, fazia uma campanha indormida contra o tabagismo e incluía entre os males associados ao tabagismo ser irascível. Quando viajava, seu hobby no avião, em tempos em que ainda se fumava no avião, era dirigir-se às senhoras que estavam fumando, pedir licença e dizer: "Minha senhora, não fume, a senhora é tão bonita; e fumar provoca rugas e raiva, e ter raiva dá erisipela".

  • Revistando a obra de Herberto Sales

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 28/10/2005

    Publicado em 1944, quando Herberto Sales tinha 27 anos, "Cascalho" é o imenso romance que logo se colocou ao lado das grandes obras do nosso ciclo nordestino, iniciado com José Américo de Almeida e prolongado por Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado e Rachel de Queiroz.

  • A invenção do Caixa 2

    Diário do Comércio (SP), em 28/10/2005

    Há invenções das quais ninguém ouviu falar, nem mesmo do nome do inventor, e que, no entanto, mudaram a face da terra. Cita-se sempre a roda, que os gaiatos atribuem a um português, mas não têm provas. Outras invenções entraram nos hábitos cotidianos e tornaram mais cômoda a vida e ninguém ouve falar do seu autor.

  • Vamos lá, gente boa!

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 27/10/2005

    À margem do referendo sobre o comércio das armas, confesso minha preocupação com a gente boa deste país. O povo eleito, bacana, politicamente correto, transparente, saudavelmente pra frente, a turma que nos guia e ilumina com seus conselhos e seu comportamento ético, quebrou a cara com a derrota do "sim", mas o caso não é para o desespero e o ranger de dentes, que, aliás, não ficam bem em gente bem e tão boa.

  • Criminalidade crescente

    Diário do Comércio (São Paulo), em 27/10/2005

    Fomos, eu e o professor Miguel Reale Júnior, fazer conferências políticas, cada um para um partido, em Piracicaba, na Universidade Metodista.

  • Vinte brasileiros em um tempo diferente

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 26/10/2005

    Ele é o olho do repórter e do jornalista nesta nossa ABL: invariavelmente, aproveita o espaço do expediente das sessões plenárias para dar-nos notícia de um livro publicado, que encaminha à nossa Biblioteca; para comunicar-nos a conferência pronunciada por um confrade, com pedido de inserção nos anais; ou para informar-nos do prêmio concedido a um colega em júri nacional ou estrangeiro.

  • Solução radical

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 26/10/2005

    Vamos e venhamos, foi uma temporada divertida, essa que passou, das opiniões sobre o referendo do último domingo. Besteiras de um lado e de outro foram proclamadas, mas nenhuma delas se equiparou a das feministas que aproveitaram a onda para tirar as casquinhas de sempre.

  • O mercado e o sagrado

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 25/10/2005

    No princípio era o mercado. No princípio e também por todo o sempre que veio depois. Base de um avanço e de um encontro, chão do homem já civilizado, nada supera o mercado como elemento aglutinador por excelência das comunidades que, mesmo heteromorfas quando unidas por interesses e idiomas comuns, precisam de outros pontos de união e reunião, e de permutas, de entendimento eventual e de trocas de produtos. No princípio era o verbo, e este se exercitava comunalmente nos lugares de compra e venda, em que a necessidade absoluta de comunicação aguçava o raciocínio, despertava idéias e provocava planos itinerários.

  • A turma do bem e do mal

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 25/10/2005

    Desta vez, a culpa não é nossa, é do próprio Criador, que, não tendo nada o que fazer, nos criou à sua imagem e semelhança e, de quebra, sem necessidade aparente, criou uma tal árvore do bem e do mal para dividir os bons dos maus, os certos dos errados. Resumindo: eu (que pertenço ao mal) e os outros, que formam o bem, no qual não acredito por ignorância ou cálculo.