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Discurso de recepção

Discurso de recepção por Abgar Renault

Aceitei com prazer e honra o convite para, hoje, falar em nome da Academia Brasileira de Letras e sem nenhum temor deliberei-me a escrever esta saudação, porque Celso Ferreira da Cunha e sua obra dispensam qualquer exercício de imaginação.
 
Afirmo que esta Instituição quase centenária vos acolhe, Sr. Celso Ferreira da Cunha, com orgulho e carinho, que lhe brotam simultaneamente do espírito e do coração, mas não saberei dizer-vos o que em vossa personalidade mais nos seduz – o  gramático, o filólogo, o crítico literário, notadamente de Poesia, o medievalista, o professor ou o escritor que compõem rara estatura intelectual a surpreender e exaltar este País estranho, capaz de, lado a lado com o mais vivo culto ao analfabetismo de todos os graus, permitir que germine, floreje e frutesça em seu solo figura da vossa categoria.
 
A vossa obra é numerosa e vária. Sem dúvida, os seus pontos cruciais estão no estudo da linguagem da Poesia Trovadoresca, mas é dotada de outros raros aspectos, que tentarei indicar no correr deste discurso. Ela apresenta vivo caráter de essencialidade, especialmente no relativo aos textos da Poesia Medieval Portuguesa, cuja exata compreensão e avaliação completa se tornam impossíveis sem o conhecimento de quanto sobre ela escrevestes.
 
Assim, de início, estimarei mencionar O Cancioneiro de Martin Codax, dedicado às sete cantigas paralelísticas que restam da obra do poeta.
 
O estudo é completo e extremamente sedutor, a começar pelo mistério do sobrenome Codax, que demonstrais irretorquivelmente tanto poder ser esse como Codaz ou ainda Codar, sendo segura apenas a sua pronúncia oxítona. Dessa forma, afastais definitivamente soluções apresentadas por altas autoridades europeias.

O texto crítico das cantigas é minucioso, e não apenas isso, senão também admirável pela quantidade e pela qualidade da erudição que lança em evidência, interpretando e esclarecendo cada cantiga.

No decorrer desse trabalho, que é absorvente ao extremo, encontramos glossário completo das palavras usadas por Codax e, além disso, a etimologia de cada uma delas, a qual constitui, a nosso ver, um dos encantos e um dos valores desse precioso volume. Eis alguns exemplos: “banhar” e “bailar”; “ca”, conjunção com o sentido “de que”, “do que”, “como”, “coydado”, que se origina, muito apropriadamente, aliás, do ponto de vista psicológico, do latim cogitare.
 
Mas não vos limitais a oferecer a origem dos vocábulos, senão que também lhes estudais o uso antigo e o atual, como, por exemplo, no caso de el, ou “eu”, que data do século VI, e é oriundo de ego. Extremamente interessante e esclarecedor para o entendimento de alguns passos é o que diz respeito ao sentido de irmana, que demonstrais significar também “amiga”, contrariando assim a lição crítica de vários especialistas europeus. É, por igual, de sumo valor a informação de que o advérbio “nunca” tem, por igual, o significado de “alguma vez”.

A propósito de baylar, apraz-nos dizer que também a Língua Inglesa herdou da nossa a palavra ball com o significado de “bailar, dançar”, por intermédio do francês arcaico baler.

Esse volume sobre as sete cantigas de Martin Codax é bastante – pelo que contém de erudição, de sensibilidade crítica e de agudeza de pesquisador – a conferir-vos, Sr. Acadêmico Celso Ferreira da Cunha, o título de mestre acabado e perfeito de ecdótica.

Ainda a propósito de Codax, foi por vós publicado, em 1986, substancioso exame da lição crítica levada a efeito, no mesmo ano, pela filóloga italiana Barbara Spagiari.
 
Examinais o estudo dessa ilustre autoridade, louvais o seu trabalho, mas pondes abaixo todas as razões em que ela fundamentou a sua rejeição do Pergaminho Vindel em favor dos textos do Cancioneiro da Vaticana e do Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa.
 
Obra que confirma integralmente o que afirmamos sobre a excelência do vosso saber é o volume intitulado Estudos de Versificação Portuguesa – Séculos XIII a XVI, que se afirma positivamente como um tratado – o melhor que conhecemos da arte da composição de versos durante o período que figura no seu título. Erudição, finura crítica, sensibilidade em face da Poesia, agudo exame dos textos e riqueza de documentação marcam indelevelmente esse livro.

Não é das características menos valiosas do estudo de que ora falamos o final de cada capítulo, intitulado “Conclusões”, em que se sintetizam excelentemente os resultados atingidos pelos estudos levados a efeito nos textos poéticos.
 
Indicaremos, a seguir, alguns outros pontos que nos causaram forte impressão nesses Estudos de Versificação Portuguesa: o primeiro está ligado à contestação que levantais a certos pontos de vista do grande mestre Rodrigues Lapa em relação à heterométrica de versos corteses, citando, entre os seus elementos de convicção, este, que figura no item “a” das conclusões e nos parece dos mais importantes: a correlação íntima entre letra e música dos versos trovadorescos e, em consequência, a impossibilidade de ser a contagem das sílabas fundada em critérios imutáveis, pois é evidente que, ao ser cantada, a poesia adotava o ritmo da música, deixando à margem a rigidez com que as sílabas eram contadas quando independentes da música.
 
São dignos de menção especial os elementos com que contestais Henry H. Lang no relativo ao “dobre”, bem como os de que vos socorrestes para contestar os de Ramón Menéndez Pidal acerca das considerações que dispensou antes à etimologia dos vocábulos usados pelos poetas do que ao seu valor fônico – elemento essencial da Poesia.
 
Outro volume fundamental sobre a técnica poética é o vosso Língua e Verso, em que são tratados seis temas clássicos, e, a demonstrar a vossa rara sensibilidade em face da Poesia em geral, é feito significativo exame do decassílabo usado pelo poeta português Camilo Pessanha, exame que analisa minuciosamente, apoiando-o, o trabalho de Antonio Coimbra Martins, o primeiro crítico, segundo nos parece, a estudar a técnica daquele autor.
 
Todos os capítulos desse livro são do mais alto interesse, parecendo-nos dificultoso distinguir entre eles e indicar os mais valiosos. Todavia, a nossa predileção pende para o capítulo dedicado ao “e” paragógico nos romances, letra que aparece com frequência nos vocábulos finais agudos do verso, por exemplo: sone por “som”, deytare por “deitar”.
 
Um só e pequeno reparo nos consentimos: não logramos entender o “apoio rítmico” de que falais na página 65: em verdade, o adjetivo rítmico não nos parece aplicável ao caso, já que o acento final não recai no “e” paragógico. Nós o compreendemos perfeitamente como “apoio fonético”, tal qual está escrito na página 57. Como quer que seja, esse capítulo é dos mais interessantes, versando matéria pouco e mal estudada e esclarecendo-a cabalmente.
 
O outro capítulo de nossa preferência é o relativo à linguagem da Poesia Portuguesa na primeira metade do século XVI, hiato, sinalefa e elisão nas églogas de Bernardim Ribeiro e no “Crisfal”.

Parece-nos aí de suma importância a advertência que fazeis, logo de início, acerca da falta de documentação para a afirmativa de Epifânio Dias, segundo a qual foi Camões o primeiro poeta português que contou sílabas versificadas de acordo com os princípios ainda hoje em vigor. As conclusões a que chegastes sobre o exame das églogas de Bernardim Ribeiro e o “Crisfal” podem ser resumidas nestes termos: a) a autonomia do “que” e do “se” (conjunção) perde-se na versificação portuguesa antes de perder-se a do “e”; b) Bernardim Ribeiro foi senhor de métrica mais apurada do que a de Cristóvão Falcão; c) o poema “Crisfal” é anterior às églogas de Bernardim Ribeiro; d) a época em que essas obras foram escritas poderá ser esclarecida mediante o exame da Linguagem e dos metros nelas usados; e) a necessidade de pesquisas que estudem os encontros vocálicos intra e interverbais nas obras poéticas em Língua Portuguesa, notadamente no século XVI.
 
Língua e Verso obedece aos mesmos critérios de seriedade crítica que preside todas as vossas obras.

Três estudos vossos versam a delicada questão da Língua Portuguesa no Brasil: são eles Língua Portuguesa e Realidade BrasileiraUma Política do Idioma e Conservação e Inovação no Português do Brasil. Para que se avaliem a significação de tais trabalhos e a repercussão que atingiram, bastará assinalar que o primeiro alcançou nove edições; e o segundo, cinco, sendo de observar que o terceiro foi publicado em revista da Universidade Federal de Minas Gerais.

O que faz notáveis esses estudos, além da segurança, da penetração e da isenção críticas com que os versastes, é a conclusão alcançada de sereno meio-termo entre os que sustentam a total independência da Língua Portuguesa escrita e falada no Brasil e a Língua Portuguesa de Portugal e o que entendem deva aqui ser mantido como princípios canônicos vigentes naquele País.
 
Parece-nos terdes alcançado o que em Latim se denomina felicitas de estilo, quando afirmais com clareza e economia raras o vosso ponto de vista: “[...] qual seja o da conservação da superior unidade da nossa Língua dentro da sua natural diversidade.” Eis aí o raro meio-termo entre dois excessos – o purismo baseado no Português escrito em Portugal e a doença nacionalista a desprezar todo e qualquer vínculo com o idioma tal como falado e escrito no país irmão.
 
A nosso ver, vós atingis as raízes mais profundas desse problema ao asseverar em palavras insubstituíveis:
   
Opõe-se, de regra, a língua comum de Portugal aos falares das classes humildes do campo e das cidades do Brasil. Procedendo-se assim, não é de admirar que se chegue a diferenças profundas em todos os domínios: na Fonética e na Fonologia, na Morfologia e na Sintaxe, no Léxico e na Semântica. A esse método vicioso se deve o esquecimento frequente dos traços comuns, sem dúvida, os preponderantes, pois que permitem a intercomunicação, a superior unidade não só da língua literária, mas também da língua falada pelas classes cultas nos dois países.
   
Ao mesmo tempo, chamais a atenção para o fato inegável de que “toda língua culta, em particular quando escrita, é tradicional e, de certa maneira, uma língua especial”, correndo, entretanto, o risco de estratificar-se, caso não se contagie do falar comum.
 
No relativo à denominação de “Língua Brasileira” para o Português falado e escrito no Brasil, vós a condenais, irremissivelmente, com a vossa autoridade incontrastável, ao escrever que José de Alencar “imprudentemente chegou a falar em Língua Brasileira”. Imaginemos – acrescentamos nós – o Inglês dos Estados Unidos denominado “americano” ou “norte-americano” ou o espanhol do Chile apelidado de “chileno”...
 
Concordamos calorosamente convosco, quando afirmais que “a história de uma língua é justamente a história de suas inovações”. Em consonância com esse pensamento, não podemos deixar de admitir o uso, no Brasil, de vocábulos da Tecnologia Moderna, como software e hardware, para os quais não temos equivalentes. Mas por que usar cartunista (cartoonist) em lugar de “caricaturista”? De outra parte, repugnamos vivamente a adoção de “pacote” como tradução de package, que tem tal significado, mas possui também mais quatro, entre eles “conjunto”, “elenco”, o que torna despropósito falar ou escrever “pacote de medidas”, “de providências”, como se vem fazendo até em documentos oficiais. Também estúpido é o emprego de media, corretamente usado por americanos e ingleses para significar “meios de comunicação em geral” e que no Brasil vem sendo empregado precedido de “a mídia” (escrito como se pronuncia em inglês). O mesmo acontece com o verbo to develop em sentenças como: “os laboratórios americanos ‘desenvolvem’ remédios para a hipertensão”, qual se um remédio fosse ‘desenvolvido’ e não ‘produzido’ (outro significado de to develop). Coisa igual ocorre com outros modos de dizer copiados servilmente da Língua Inglesa: é raro ouvir-se discurso que não comece por “Eu gostaria de dizer que...”, (tradução de I would ou should like to say that...). Para que esse condicional idiota, se o orador já está gostando, já está falando?... Pior que tudo é a invasão da nossa regência:“interferir com”, “exceto por”, “se não fosse por ele, eu teria sido assaltado.”

Assim, voltando ao uso de vocáculos estrangeiros, pedimos vênia para divergir de vós, Mestre ilustríssimo, quando afirmais, generalizando, que o estrangeirismo entra num idioma por necessidade. Entendemos que nem sempre: em muitos casos ele surge por desleixo, ignorância, estupidez.
 
O vosso incomum discernimento crítico domina também os admiráveis estudos intitulados Uma Política do Idioma e Conservação e Inovação do Português no Brasil, a ambos os quais já fizemos minuciosa referência nas páginas iniciais deste discurso, mas de que trataremos novamente sob aspectos que nos haviam fugido.

Do primeiro, extraímos estas sábias palavras que figuram logo no prefácio da segunda edição e deveriam ser meditadas pelos que ministram o ensino da nossa Língua: “Esta atitude de ruptura com o passado é para nós – e apressamos em dizê-lo – bem mais danosa do que o reacionarismo anterior, já que põe em risco o inestimável patrimônio que recebemos de nossos ancestrais – a unidade linguística, base da própria unidade nacional.
 
Em Conservação e Inovação no Português do Brasil, demonstrais que não é possível ainda, em face dos estudos levados a efeito, afirmar que a Língua Portuguesa usada entre nós é conservadora ou inovadora, conquanto não se vos afigure exato assegurar que ela é “estática”.
 
De outra parte, assegurais que a unidade do Português popular no nosso País não é uma realidade, parecendo-vos, com razão, que destroem tal afirmativa os nossos atlas linguísticos. Assim, na vossa incontestável opinião, o que caracteriza a língua falada no Brasil é a sua insegurança, é a sua variedade. Isso é demonstrado com clareza por meio de numerosos fatos fonéticos, os quais são encontrados em todo o território nacional, variando em extensão, mas não perdendo nunca o seu caráter regional.

Por essas razões, que muito resumidamente acabamos de expor, consideramos esse ensaio de vossa autoria capítulo importante da vossa extensa obra, o qual revela minucioso conhecimento da Prosa e da Poesia Clássicas e, por igual, das Modernas, sendo por vós nomeados, entre outros autores, Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade.

Outro livro vosso igualmente digno de admiração pelo fulgor estilístico e pela erudição é Língua, Nação, Alienação, em que examinais em profundidade a situação da Língua Portuguesa no mundo, de vários pontos de vista, inclusive o político, e mostrais que ela ocupa o quinto lugar entre as línguas mais usadas, prevendo as possibilidades da sua expansão. Despertam grande interesse as páginas dedicadas aos pidgins e aos crioulos.
 
O que expus não esgota a vossa personalidade: nela avulta ainda a figura incomum do professor que se revelou na cátedra de nível secundário e na de nível superior e compôs, entre outros, dois livros dignos de figurar entre os mais notáveis de qualquer país para o estudo de sua língua nacional.

Um deles, escrito em colaboração com o mestre emérito que é Wilton Cardoso, Estilística e Gramática Histórica, constitui no gênero o que de mais admirável apareceu no Brasil para o ensino do Português em profundidade.

Depois de oferecer ao estudante, com clareza inigualada, um resumo de Teoria Linguística, no qual são objeto de exame a história externa e a história interna da Língua Portuguesa, acompanhadas de atraente exposição sobre palavras hereditárias e palavras de empréstimo, formas convergentes e divergentes, neologismo, arcaísmo, etc., e são, em seguida, apresentados textos de grandes prosadores do século passado e deste século, bem como uma antologia da Poesia Anteclássica.
 
Filha da liberdade crítica, veio a nascer Nova Gramática do Português Contemporâneo, sem dúvida a obra mais importante desse gênero, em confronto com qualquer outra publicada seja no Brasil, seja em Portugal. Trata-se de livro completo, moderno, com grande riqueza de exemplificação colhida em autores de nomeada, inclusive poetas e prosadores como Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Cecília Meireles, Cyro dos Anjos, Guimarães Rosa, Herberto Sales. Além disso, é raro em vários sentidos, especialmente no de demonstrar que sua construção obedeceu ao princípio, quase nunca observado, de que nenhuma língua é jamais instrumento intelectual apenas, não sendo, portanto, passível de submissão completa a lógicos princípios rigorosos e imutáveis. Quero lembrar, ainda, a clareza e a síntese com que são tratados todos os problemas e citarei, como exemplos lapidares, os capítulos consagrados à colocação dos pronomes oblíquos e ao uso do infinito pessoal.
 
Dir-se-ia, ao compulsar esse compêndio sem igual, que, decorridos alguns anos, o medievalista veio a transformar-se, diacronicamente, no autor da mais moderna, mais completa, mais lúcida das obras sobre a Língua Portuguesa, sendo importante assinalar que a linguagem escrita é objeto de reiteradas comparações com a linguagem oral.

O Brasil precisa urgentemente de ler esse livro fundamental e introduzir nas nossas Faculdades de Letras esta advertência de Jean Paul Vinay: Il faut se garder de confondre enseignement de la linguistique et enseignement des langues vivantes.
 
Uma das consequências da ignorância de tal princípio didático está na ignorância, a que conduz, de princípios fundamentais de Gramática, até mesmo em autores de nomeada, fazendo tornar à memória esta afirmação, aparentemente paradoxal, de Chesterton sobre Dickens: “He is a great writer but not a good one.” Toda a vossa obra se caracteriza pela erudição múltipla e profunda, toda ela de primeira mão, pela clareza expositiva, pela facilidade na discussão de controvérsias, pela solidez das conclusões e, por igual, pela graça estilística. São predicados que raramente se fazem boa companhia e exigem paciência continuada, estudos perseverantes, pesquisas incansáveis, seriedade de espírito. Além disso, a argumentação técnica, os exemplos colhidos em poetas e prosadores de várias épocas, a análise de tais exemplos, a riqueza bibliográfica, a síntese das conclusões – tudo aponta para um caso de raro scholarship.
 
Havemos por seguro que os termos conclusivos da nossa apreciação crítica podem sintetizar-se nesta afirmação: Celso Ferreira da Cunha alcançou, de forma segura e definitiva, reduzir a finais lógicos a ilogicidade fundamental da Linguagem.
 
Sr. acadêmico, vossa erudição, vosso espírito crítico, vossa estese diante da Poesia, vossa capacidade de pesquisador, vossa exatidão escolástica, nada de tudo isso esgota a descrição da vossa personalidade, pois o escritor está presente em todo o conjunto da vossa obra, que, sob esse aspecto, se caracteriza pela rigorosa propriedade vocabular, pela claridade do estilo, pela linguagem límpida e ágil, sem ranços de outrora, isto é, livre de contágios antiquados, moderna, mas de alva correção. Demais disso, todos os volumes que compusestes revelam, pelo que contêm de conhecimentos os mais variados, que eles sempre e em tudo obedecem àquele sábio preceito de Henri Delacroix no seu justamente famoso Le Langage et la Pensée: Il n’y a pas de faits indépendants; chaque catégorie de faits reste inintelligible, tant qu’on s’enferme dans une étude spéciale, car elle est liée à d’autres, qui en sont la raison d’être.
 
As minhas opiniões expostas neste discurso colhi-as diretamente na leitura ou releitura da vossa obra, mas quero que este auditório saiba que não as infirma, antes as confirma, a autoridade incontestável de grandes especialistas de Portugal, Espanha, Itália, França, Inglaterra, Estados Unidos, que leram os livros de vossa autoria e sobre eles se manifestaram em estudos publicados nesses países e vos conferiram nome e renome internacionais.
 
É a Academia Brasileira de Letras que enobrece os seus títulos ao receber-vos, Sr. Acadêmico Celso Ferreira da Cunha. 
    

4/12/1987