
Administrando os conflitos
[2]A camponesa e o imperador
A camponesa e o imperador
Ouvi dizer que houve aquilo que os colunistas especializados chamam de "dança das cadeiras" na equipe econômica. Na realidade, não são as cadeiras que dançam, mas os seus ocupantes. Uma equipe curiosa, com gente que quer sair e gente que quer entrar. Tudo bem.
Duas novelas ou minisséries da TV Globo, a pretexto de apresentar o cenário ideológico vigente na primeira metade do século passado, fizeram referência ao integralismo fundado por Plínio Salgado, mas com manifesta má-fé, como é hábito dos chamados "esquerdistas", até o ponto de apresentá-lo como simples variante do hitlerismo, com gangues atuantes com deliberada e constante violência.
Somente Pedro 2º governou o Brasil mais tempo que Vargas.
Na campanha eleitoral americana, pela primeira vez, em fins de agosto, as pesquisas mostram Kerry à frente de Bush, no que era, ainda, o seu bastião de fiabilidade eleitoral. O democrata, numa opção de 47 contra 46%, é o comandante-e-chefe que passam a preferir os americanos, para o conflito continuado com o Al-Qaeda e o desfecho decisivo na guerra do Iraque. O mais importante é que esta mudança está associada a uma convicção ainda mais contundente quanto ao futuro do país. A invasão de Bagdá e a derrubada de Saddam não tornaram os Estados Unidos mais seguro, pensam 52% da população contra só 38%, a apoiar o propósito bélico de Bush.Ao mesmo tempo, a opinião pública americana repudia a tentativa de um grupo de militares da extrema direita, financiada por milionário texano, de contestar o heroísmo de Kerry durante o conflito do Vietnam. O tiro saiu pela culatra, levando um dos maiores baluartes republicanos, John Mcaint a denunciar a manobra. E o próprio Bush a reforçar o respeito ao senador de Massachusetts, confirmando a página de herói que escreveu no conflito asiático.
A Academia da Latinidade vem de concluir em Ancara e Istambul o XI Simpósio sobre a interrogação, ainda, das diferenças culturais no seio de um mundo ameaçado pela configuração hegemônica. Trata-se de buscar uma interlocução, em que esse Ocidente flexível, mediterrâneo, vindo de uma tradição pluralista, confronte a dureza crescente do fundamentalismo nascido do Salão Oval. Ou da determinação da cruzada, decretada a partir dos restos fumegantes da queda das torres de Manhattam, como revide à deflagração da ameaça difusa e pertinaz de um terrorismo sem quartel.
Ultimamente, vivemos uma enxurrada de pesquisas que não servem para nada. Li outro dia que, depois de um trabalho exaustivo de pesquisadores, chegou-se à conclusão de que os velhos pagam mais impostos. Ora, se os velhos compram mais remédios e todo remédio tem um imposto indireto embutido, é claro que, mais remédios, mais impostos. Óbvio que os velhos precisam de mais medicamentos. Há também a pesquisa de que os carecas têm a cabeça mais larga que os cabeludos. E daí? Para não ser careca tem de diminuir a cabeça?
A decisão do Supremo Tribunal, de 18 de agosto, sobre a contribuição dos inativos para a Previdência explicita de maneira exemplar o que seja a prática da democracia profunda pela cultura petista hoje no poder. Lance a lance, cada voto respondeu à interrogação cidadã, de até onde o imperativo de mudança se compadece com a garantia dos direitos adquiridos, e sua consagração no atual Estado de Direito no país. Ou melhor: em que termos a exigência da Justiça pode ir além do pacto social solene da Carta e, nele, das suas cláusulas pétreas, que não comportam sequer emendas constitucionais?
É necessário apelar para Aristóteles: a definição se faz pelo gênero próximo e pela diferença última. Exemplo: o homem é um animal racional. O gênero próximo é o animal; a diferença última é o racional. Aplicando a mesma definição ao jornalismo e à literatura, teríamos de encontrar a diferença última entre as duas expressões da comunicação humana.
Os rapazes da FAB, que retiraram do Equador o presidente deposto Lúcio Gutiérrez merecem aplausos. Nos velhos tempos de Hollywood seriam, sem dúvida, aproveitados num filme de aventura.
Ele chegara ao poder, em 1930, no bojo de uma revolução libertária que iria interromper o círculo vicioso de uma alternância do ''café com leite'', entre São Paulo e Minas, enterrando os ossos de 40 anos do liberalismo republicano, que ele considerava perempto, falido e ultrapassado. Superou várias tentativas para depô-lo: as revoluções constitucionalista de 32 e a comunista de 35, além do putsch integralista de 38. Conseguiu sair de todas cada vez mais forte.
Manhã dessas de domingo, decidi tomar um pouco de sol e evitei Ipanema, onde costumo encontrar conhecidos que de certa forma me atrapalham. Aproveito o sol, mas aproveito principalmente a solidão em que mergulho, lembrando coisas e esquecendo outras, remetendo-as para o lixo da memória. E há sempre o importuno que pergunta alguma coisa que eu tenho preguiça de responder ou o desinformado que me saúda pensando que ainda sou o Fernando Sabino.Como disse, fui para Copacabana e sentei no banco onde colocaram a estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade. Só que eu fiquei virado para o mar, e ele, pernas cruzadas e livro no colo, ficava de costas para a praia. Estou quieto, olhando as ondas e admirando as mulheres quando um casal de jovens se aproxima e fica olhando a estátua do poeta. Olham, olham, procuram decifrar quem é aquele homem imobilizado no bronze.
A Revolução Francesa derrubou o sistema das ordens. Eram três: clero, nobreza e povo. Eram ordens abertas, marcadas pelas ascensões de uma para outra. Mas poucos dias antes da Grande Revolução, o Terceiro Estado, com o apoio do baixo clero e de parte da nobreza, proclamou a independência da ordem popular, e entramos em nova fase histórica, a das representações por Assembléias.
Nas suas definições, Manuel Bandeira relaciona Guimarães Passos entre os ''são do Norte que vêm.'' No discurso em sua sucessão na cadeira 26 da Academia Brasileira de Letras, Paulo Barreto, mais conhecido como João do Rio, conta, com a graça costumeira dos seus textos, como se deu a vinda desse alagoano para o Rio: ''Por uma certa manhã dos fins do século passado - quase quatro lustros antes da terminação desse memorável século da ciência, da luz e do positivismo - um jovem poeta de Maceió resolveu acompanhar a bordo três amigos, que de viagem se faziam para a Corte, capital do império.
Navegar é preciso, sem dúvida. Como também escrever é preciso. Mapa da Europa, no fim do século XV, nos mostra Portugal como om "fim do mundo", uma verdadeira "finisterra", além da qual tudo era mistério. A latinidade ali se espremia - e também se exprimia - e terminava diante do mar. Para vencer aquele obstáculo, era preciso navegar.
Links
[1] https://www.academia.org.br/academicos/paulo-coelho
[2] https://www.academia.org.br/artigos/administrando-os-conflitos
[3] https://www.academia.org.br/academicos/carlos-heitor-cony
[4] https://www.academia.org.br/artigos/cadeiras-que-dancam
[5] https://www.academia.org.br/academicos/miguel-reale
[6] https://www.academia.org.br/artigos/o-integralismo-revisitado
[7] https://www.academia.org.br/academicos/jose-sarney
[8] https://www.academia.org.br/artigos/vargas-um-destino
[9] https://www.academia.org.br/academicos/candido-mendes-de-almeida
[10] https://www.academia.org.br/artigos/kerry-entre-alternativa-e-hegemonia
[11] https://www.academia.org.br/artigos/latinidade-frente-hegemonia-americana
[12] https://www.academia.org.br/artigos/condureza-ternura
[13] https://www.academia.org.br/artigos/justica-pacto-social-e-clausula-petrea
[14] https://www.academia.org.br/artigos/jornalismo-e-literatura-0
[15] https://www.academia.org.br/academicos/joao-de-scantimburgo
[16] https://www.academia.org.br/artigos/transferencia-de-gutierrez
[17] https://www.academia.org.br/academicos/murilo-melo-filho
[18] https://www.academia.org.br/artigos/agosto-de-1954-meio-seculo-depois
[19] https://www.academia.org.br/artigos/ondas-e-mulheres
[20] https://www.academia.org.br/artigos/o-presidencialismo-em-crise
[21] https://www.academia.org.br/academicos/marcos-vinicios-rodrigues-vilaca
[22] https://www.academia.org.br/artigos/guimaraes-passos-poeta-e-boemio
[23] https://www.academia.org.br/academicos/antonio-olinto
[24] https://www.academia.org.br/artigos/navegar-e-preciso-0
[25] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2196
[26] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2193
[27] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2194
[28] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2195
[29] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2198
[30] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2199
[31] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2200
[32] https://www.academia.org.br/pesquisar?page=2201