
Perguntas na CPI
[2]1) Responda sem tergiversações: onde Vossa Senhoria estava no dia 31 de fevereiro de 2002?
1) Responda sem tergiversações: onde Vossa Senhoria estava no dia 31 de fevereiro de 2002?
Já sabemos, desta vez, pelos scripts óbvios da irrupção moralista nacional não vamos aos desfechos de sempre. Talvez, de fato, por estar na fogueira, a carne do partido diferente. As cinzas já são outras no combustível das denúncias ao deixa-disso final que sempre convém ao País de sempre. Não está em causa apenas o Brasil dos cartolas, nem a demolição a que possa chegar o denuncismo como paixão em desenfreio sob o álibi moralista. Dos escândalos de libreto conhecido, passa-se por uma vez à interrogação de se o País que, pela primeira vez, foi ao poder com Lula se reconhece numa comoção tradicional do regime estabelecido, seus abusos continuados do poder como cosa nostra, e do remédio das CPIs sazonais para vociferar e esquecer.
Deu-me desejo de escrever sobre esse tema quando participei, em São José de Ribamar, cidade referência de peregrinação religiosa no Maranhão, de um festival de literatura -uma réplica pobre do de Parati- que reúne intelectuais e leitores para discutir e divagar sobre os temas da cultura, principalmente da criação literária.
Cresce no Brasil o número de rádios comunitárias, especialmente em regiões periféricas. A lei estima que elas devem operar em caráter secundário, mas o que está ocorrendo é uma brutal distorção no uso do canal 200, com interferências dramáticas em canais de radionavegação aérea.
Vou contar uma história que poderá parecer inverossímil, mas é verdadeira, embora fantástica. Um sujeito -cujo nome não importa, mas que viveu realmente, sendo inclusive vizinho de um tio que morava no Grajaú-, ali pelos 50 anos, decidiu fazer uma viagem pelo mundo, mas foi sozinho, sem levar mulher e filhos. Deixou dinheiro suficiente para os dois anos que passaria fora e uma instrução suplementar, diria que pétrea: em sua ausência, a família compraria, todos os dias, os jornais que ele habitualmente comprava, inclusive edições extras, se as houvesse.Tudo deveria ser guardado religiosamente, em ordem cronológica, e deviam ser tomadas cautelas de preservação, impedindo que baratas roessem os jornais e a poeira os maltratassem. Ele não podia prever que, estando em Lubeck, lá em cima, onde a Alemanha acaba, nas margens do Báltico, tivesse um mal-estar e fosse internado num hospital, onde passaria mais de dois anos.
É citado com freqüência nos livros sagrados o próximo, a quem o Cristo nos aconselhou a amar como a nós mesmos.
A caminho do terceiro mês de crise, e como se não bastassem a confusão nacional e a indignação da sociedade, setores mais entusiastas do "quanto mais cuspe melhor" criticam o silêncio dos intelectuais. Uma cobrança polêmica. Nunca os intelectuais falaram tanto, contra, a favor ou mais menos. Falaram e continuam falando mais do que os depoentes das CPIs, as autoridades, os inocentes e os culpados.
Lembro-me com nitidez do primeiro choque do petróleo. Foi em 1973; o bruto passou de US$ 2,50 o barril a US$ 12,00, de um dia para outro. O mundo ficou de joelhos diante dos potentados do ouro negro, esse óleo viscoso, mal odoroso, que domina o mundo. Pequenas nações, sem peso com os grandes problemas no mundo, como a Venezuela e a Colômbia, foram guindadas à altura de potências decisivas.
Luiz Paulo Conde andou passeando pela Galícia e trouxe na bagagem um livro sobre Allariz, pequenina cidade, próxima à fronteira com Portugal, uma região que como toda a península ibérica, sofreu (ou gozou) invasões romanas e árabes, além de abrigar os judeus sefaradistas que não a invadiram mas ali se fixaram após a diáspora.
Já se definiu a "Comédia humana", de Balzac, ao longo de seus noventa e sete romances, como sendo uma narrativa cujos personagens estão sempre na iminência de ganhar ou perder um milhão de francos. É que a filosofia adotada então pelos franceses, depois de um período de terror e depois dos gloriosos, mas devastadores, dias imperiais de Napoleão, levara o país a ingressar numa fase de sua história que veio a se chamar de Restauração e cujo lema foi dado no discurso de um ministro que, diante de uma platéia entusiasmada, aconselhou: "enrichessez-vous!" Esse "enriquecei-vos" foi o lema da França até que o país perdeu a guerra contra a Prússia em 1870.
É domingo e, como em todos os domingos, deverei comparecer ao boteco, item indispensável em minha agenda cultural. Não, não é preciso me de-nunciar como uma ameaça aos bons costumes e à saúde dos que acham que meu exemplo é seguido pela juventude ou mesmo pelos coroas do meu tope. Não só não acredito que meu exemplo seja seguido por ninguém como não estou recomendando que se encha a cara todos os fins de semana, ainda por cima chamando isso de atividade cultural. Já há bastante tempo, para espanto geral (inclusive de um senhor desconhecido que, incrédulo, se dirigiu um dia desses à minha mesa e cheirou minha bebida, aproveitando para fazer uma lavagem nasal e me obrigando a trocar de copo, eis que, talvez preconceituosamente, não bebo lavagem nasal nem minha, quanto mais dos outros), venho tomando porres exclusivos de guaraná, no qual posso me considerar experto (esta palavra existe, escrita desta forma, e só a estou empregando para me exibir mesmo) e creio já reunir qualificações para assumir um emprego de degus-tador numa firma do ramo ou assinar uma coluna para apreciadores.
No mesmo ano em que celebramos duas décadas da morte de Alceu Amoroso Lima - o nosso leigo canônico - perdemos, a 8 de dezembro último, José Vieira Coelho, seu sucessor imediato na presidência da Ação Católica Brasileira nos idos do meio século e do começo dessa interrogação pela Igreja no seio do seu tempo que levaria ao Vaticano II. Paraibano, sucedia ao carioca cosmopolita, ex-aluno de Bérgson, e aberto ao diálogo internacional, a partir da experiência francesa.
O pior cego, dizem por aí, é aquele que não quer ver. Pior do que esse é quem vê e não entende o que está vendo. É o caso de muita gente, o meu caso, principalmente. Quero ver tudo, a aurora boreal, a queda do Império Romano, Joana D'Arc na fogueira, queimada como uma bruxa, César atravessando o Rubicão e dizendo "alea jacta est", a assinatura da Dieta de Worms e do Edito de Nantes, a tempestade num copo d'água e, se possível, ver também o circo pegar fogo, embora nada lucre nem com o circo nem com o fogo.
Creio que foi o historiador Jacob Burckhardt que disse, no final do século 19, que o século seguinte seria o dos "terríveis simplificadores". A profecia de Burckardt se realizou. Os dois principais simplificadores do século 20 chamaram-se Adolf Hitler e Josef Stálin. Ambos simplificaram a história, reduzindo-a a um confronto maniqueísta entre o bem e o mal, e o resultado foi a produção em massa de seres humanos radicalmente simplificados, convertidos em cinzas e ossadas. Os simplificadores não desapareceram no século 21. Como no passado, eles operam por meio do que poderíamos chamar de a distorção holística, a tendência a ver o todo como um conjunto indiferenciado, sem perceber que qualquer totalidade é tensa, que qualquer harmonia é aparente, que todo conjunto é fraturado por forças contraditórias. É preciso opor a esses simplificadores o que [o filósofo francês] Edgar Morin chama de "pensamento complexo", que tem entre suas características a de evitar a formação dos falsos universais, das generalizações espúrias. Os simplificadores de hoje atuam em várias frentes, entre as quais duas são especialmente importantes: a relação com os Estados Unidos e a relação com Israel.
Segundo Martin Heidegger, por influência de Aristóteles e dos pensadores medievais, os filósofos têm cultivado tão-somente a "teoria dos entes" (Metafísica), e não a "teoria do ser" (Ontologia). Daí a sua idéia de basear esta no Dasein, palavra de múltiplos significados, aceita tanto por Heidegger como por Karl Jaspers, embora com diferente sentido.
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