O que foi que levou à renúncia de Mubarak, após a maratona do vaivém entre as cheias e o quase cansaço do povo, da Praça Tahirir? A queda do regime não nasceu de nenhuma arquiconspiração, nem de um trabalho missionário de elites, nem de uma catequese que chegasse ao seu ponto de ignição. Funcionou, sim, o exemplo tunisiano, num quadro mimético, mas que acendeu uma profunda exaustão com o regime. Os protagonistas decisivos da mudança vieram a ser essas forças armadas, profundamente coesas, com um treinamento de elite, e que, desde a saída, com o assentimento presidencial, negaram-se a coibir, pela violência, a manifestação popular, Esta se fazia com toda a espontaneidade de um primeiro protesto, que encontrava, também, em outra experiência virgem, nestes trinta anos de governo, a ausência de repressão. A Praça Tahrir tornava-se o local de um plebiscito vivo e continuado. Ou, até mesmo, em estratégias de mobilização, do que fosse a massa, no contra ou pró-Mubarak. Esta, indiscutivelmente, nascida de organizações governamentais, apostando, inclusive, num primeiro cansaço do povo na Praça. O estopim recrudesceu, pela retórica de novos protagonistas, liberado das prisões iniciais, pelo jogo continuado do não-intervencionismo das forças armadas. Deixou-se à perseverança da presença popular o desfecho final, do que fosse o sustento do regime para a mantença da ordem.