
Para o mundo admirar
[2]Não deram muita atenção a uma advertência do deputado Romário sobre os preparativos da próxima Copa do Mundo, a ser sediada no Brasil em 2014, isso se a Fifa não mudar de ideia.
Não deram muita atenção a uma advertência do deputado Romário sobre os preparativos da próxima Copa do Mundo, a ser sediada no Brasil em 2014, isso se a Fifa não mudar de ideia.
Realizou-se nestes dias, patrocinada pela Academia da Latinidade, no seu XXIIl Seminário, em Barcelona, a discussão de todo o impacto das atuais revoluções democráticas no mundo árabe, bem como do avanço da radiealidade republicana, nos Estados Unidos, e das novas restrições migratórias, e justamente contra esta mesma cultura islâmica. O que inquieta é a queda da garantia do pluralismo, ou dos dois lados do cenário, nesta configuração do novo mundo global. O imperativo da democracia confronta os seus ditos universais, por todos os atores da contemporaneidade no próprio imo dos regimes ocidentais. Angela Merkel rejeitou o pluralismo na Alemanha, precedendo as declarações de Cameron, no último G-20, ao defender uma imigração "boa", em crescente restrição dos fluxos árabes. O Ocidente passa, hoje, a uma linha defensiva onde os regimes da liberdade confrontam um sistema de exclusão social, de repto ao completo reconhecimento do outro, implicado pela plena cidadania, na esteira das conquistas dos Direitos Humanos pela modernidade.
Quando recentemente viajei pelo interior do pampa, para cumprir o itinerário de lançamento em três Feiras do Livro -desde São Sepé (que lembra a grande figura do herói indígena, Sepé Tiaraju), Candelária e Porto Alegre, ao conversar com vários amigos, disseram-me: o governador Tarso Genro ganhou as eleições e mantém alto nível nas pesquisa , por um segredo. Quis saber qual era o segredo. Todos foram unânimes: a capacidade de escutar e discutir com as classes e o povo nos seus projetos. Soube até que recebeu homenagem nos redutos de sua terra - Santa Maria da Boca do Monte. Ora, venceu o que se tornou mais do que um provérbio, um destino: "Ninguém é profeta em sua terra". E ele está sendo. Eu o conheci há muitos anos. Ainda não era prefeito da capital, nem ministro da Educação ou de Justiça do governo federal. Era um poeta e advogado militante que prosperava com seu escritório nos assuntos'de Justiça do Trabalho. Encontrava-o, frequentemente, no foro entre audiências e clientes, com a fraternidade, a comunicante alegria, a imperiosa liderança, o respeito à diferença e o amor aos mais desvalidos. Nossa amizade cresceu no tempo como a flor no intervalo da pedra. Outro dia almoçamos juntos e senti no abraço a presença do irmão. Sim, hoje é o governador eleito de minha terra. Tem posto a educação, a cultura e a justa administração da coisa pública como metas fundamentais. Não é apenas um constitucionalista emérito, jurista provado em vários embates no exercício de cargos elevados, mostrando visão, conhecimento e integridade, coisas que raramente se aliam. E uma vocação de estadista que muito servirá a este País. Mas não se discute grandeza: basta reconhecê-la. Digo isso com serenidade, aquela mesma, a que Norberto Bobbio, nossa comum admiração, faz seu elogio, num de seus derradeiros livros. E não sou do partido do nobre governador e de nenhum partido, vivendo, honradamente, sob a bandeira auriverde desta pátria e do pampa. É que o único partido de um poeta, é o da condição humana. Mas não se discute grandeza: ela se impõe. Como o Minuano sopra.
Com o tempo, é possível ver o que significou para o Brasil o Plano Cruzado. Ele completou agora 25 anos. Nenhum plano despertou tanta paixão: os especuladores de 1986 o odeiam e o povo consumidor não o esquece, pois foi a primeira grande distribuição de renda do Brasil. Eu sabia dos riscos e perigos em fazê-lo, mas tive a coragem de congelar os preços e a taxa de câmbio, entre outras medidas. Abandonei a ortodoxia do FMI e da banca internacional. Enfrentei-os. Derrotei-os, pois o Brasil, a partir dali, nunca mais seria o mesmo — nem o FMI também. A Europa vive até hoje o que é o combate ortodoxo da crise de 2008. Desemprego em 20%, protestos em várias cidades e a agonia do Estado social isto é, o direito do povo a saúde, educação, aposentadoria e seguridade social.
As novas conquistas da política externa brasileira deparam uma interrogação: vão à conquista estrita da iniciativa internacional do país, saído das velhas dependências continentais ou das velhas servidões de periferia, -como já expresso na voz do país, no mundo árabe, ou à não interferência da Otan nas tensões de Trípoli e Damasco? Ou,cada vez mais, o novo perfil internacional do país se associa, por sobre os problemas nacionais e de soberania, ao avanço dos direitos humanos e aos ganhos da cidadania dos ditos reclamos, já, da própria humanidade, neste começo do século XXI? As primeiras visitas internacionais de Dilma associam-se, intrinsecamente, a estes imperativos e não é sem razão que sua visita a Pequim reforçou a liberação de Ai Wawet e outros contestadores do sistema.
Na Itália, quando procurava o caminho para visitar a Universidade de Bolonha, provavelmente a mais antiga do mundo (de 1088), surgiu à minha frente a placa desafiadora: “Museu Hebraico”. Não resisti à tentação e virei à esquerda, como indicava a seta, para realizar uma comovente visita ao passado daquela região.
O desfecho da crise dos "restos a pagar" das emendas parlamentares só fez reforçar a percepção disseminada pela classe política de que o governo não tem estrutura para aguentar as pressões da sua própria base aliada.
Com mais de 50 anos de escrevinhação nas costas, descobri algumas ideias que muita gente faz da vida de um escritor. Por exemplo, tem quem ache que os escritores, notadamente entre eles mesmos, só falam difícil, uma proparoxítona para abrir, uma mesóclise para dar classe e um tetrassílabo para arrematar. "Em teu parecer, meu impertérrito amigo", perguntaria eu ao Rubem Fonseca, durante nosso almoço periódico, "abater-se-á hoje, sobre a nossa urbe, uma formidanda intempérie?" Ao que o Zé Rubem reagiria com uma anástrofe, um mais-que-perfeito fazendo às vezes do imperfeito do subjuntivo e uma aliteração final show de bola, coisa de craque mesmo. "Augure do tempo fora eu, pressagiá-lo-ia libentissimamente", responderia ele. "Todavia, de tal não me trato." E assim iríamos almoço afora, discutindo elevadíssimos assuntos, em linguagem só compreensível por indivíduos especiais.
Ao mesmo tempo em que utiliza todos os instrumentos legais para tentar impedir a formação do PSD que o ex-correligionário e prefeito de São Paulo Gilberto Kassab está organizando, principalmente com dissidentes do Democratas, o partido procura reforçar seu posicionamento ideológico para ocupar o nicho eleitoral que o PSD também disputará se for concretizado. O presidente do DEM, senador Agripino Maia, diz que o partido é basicamente de "centro-conservador", evitando o termo "direita". Na tentativa de globalizar a linha do partido como de centro, ele esteve nos últimos dias, em companhia do ex-deputado José Carlos Aleluia, que preside o instituto de estudos Liberdade e Cidadania, em duas reuniões no exterior para reforçar os contatos do DEM com partidos da mesma 'tendência no mundo.
Um leitor nos pergunta se é válida a explicação da origem da nossa palavra 'forró' pelo inglês 'for all' para designar um tipo de baile popular. Essa etimologia deve ser rejeitada, graças ao estudo da história do nosso vocabulário.
A proposta do professor Fredric Litto, criador da Escola do Futuro da USP, era muito clara: "Como superar os desafios numa sociedade conectada?" Para aquecer a discussão, no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio, ele propôs que falássemos sobre a profissão de docente.
Parece que um escritor para ser plenamente reconhecido, tem que morrer. Vejam os exemplos de Jorge L. Borges, Sábato ou Bioy Casares, na próxima Argentina. Suas obras se multiplicam por livrarias e até em bancas de jornais. E pela "autoridade da morte", usando a expressão feliz de Machado de Assis, que também pressentiu o que lhe sucederia, postumamente.Porque em vida não foi poupado nem por Sílvio Romero, nem por José do Patrocínio. De um lado, a morte é reveladora do que se mostrou grande, em qualquer arte. De outro, é caridosa com o medíocre. Faz com que tudo dele desapareça, como se nunca tivesse existido.
Os temores do Acadêmico Josué Montello não se confirmaram. Na última visita que fez à Casa de Machado de Assis, sentado na clássica poltrona do salão nobre, chamou-me para perto e disse uma frase que jamais saiu do meu pensamento: "Arnaldo, você é como meu filho. Não deixe que eu seja esquecido". Josué foi um dos nossos mais férteis autores, com livros de grande repercussão, como é o caso do seu famoso Os tambores de São Luís. Uma particularidade pouco explorada na saga de Josué Montello: foi autor também de preciosas obras infantis, primeiro na coleção O tico-tico, depois em trabalhos avulsos, como o que editamos sob o título A formiguinha que queria ser bailarina. Um sucesso, em todos os sentidos. Falecido aos 88 anos de idade, Montello foi uma das mais prodigiosas memórias entre os nossos imortais. Lembrava-se de datas, fatos e biografias como ninguém. Nas sessões da ABL, sempre tinha uma palavra de lembrança carinhosa dos acadêmicos. Tivemos cerca de 50 anos de convívio, incluídos os tempos gloriosos da revista Manchete. Josué era uma visita semanal, sempre bem-vinda, com sugestões de reportagens que eram normalmente acolhidas pela direção.
Faleceu em 1º de julho a madre abadessa Maria Teresa, da Ordem de São Bento, filha de Alceu Amoroso Lima. Não temos, talvez, na nossa história contemporânea, diálogo cultural entre duas gerações que nos tenha permitido o dia a dia único, por mais de meio século, do primeiro dos católicos brasileiros. A interlocução com a abadessa, na multiplicidade das anotações recíprocas, garante-nos, hoje, a reconstrução do pensamento de Tristão, na conversa diária com Lia, a sua Tuca. Dá-nos, na sua vastidão, a perplexidade e a coragem, ao mesmo tempo, com que se interroga sob os seus deveres da militância da fé, em todo esse longuíssimo périplo.Desde a conversão, por Dom Leme, na sequência da correspondência com Jackson de Figueiredo, em 1928, até se ter transformado no primeiro dos combatentes, pela imprensa, contra o governo militar.
Vou buscar na sabedoria bíblica palavras para escrever este artigo, feito com lágrimas.
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