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Artigo

  • Se vivo estou, é algum milagre

    O GLOBO (Rio de Janeiro - RJ) em, em 30/06/2002

    Alguns de vocês (a maioria, meu Deus do céu?) é capaz de não suportar jornalistas e, portanto, achar merecido o que passamos, em horas, por exemplo, como estas que atravesso, tendo de já ter escrito sobre uma final de copa sem ter visto nem um lancezinho. E em que circunstâncias, meu caro senhor? Nas mesmas efetivadas no dia do jogo com a Inglaterra, na hora em que alguém inventou que só ganharíamos o jogo se o assistíssemos no boteco, com o resultado de que o boteco ficou entupido de gente exaltadíssima para ver o jogo já por volta das oito horas - e vocês podem muito bem imaginar o que aconteceu devido a isso, eis que diversos companheiros tiveram que ser reconduzidos às suas residências bem antes de o jogo começar.

  • Vida dura

    Estado de São Paulo (São Paulo - SP) em, em 23/06/2002

    Pode não parecer, mas a vida do jornalista é muito dura. Não me refiro a casos como o do Tim Lopes, que, como tudo mais o que de criminoso se faz no Brasil, nunca vai ser satisfatoriamente apurado. Lá se foi mais um herói, movido por vocação e ideal, porque por fama e por dinheiro ele não era. Jornalistas como ele morrem aos montes, em toda parte do mundo, vítimas de quem quer que contrarie interesses poderosos. Acontece aqui, acontece no Oriente e até no chamado Primeiro Mundo, só que com métodos mais sofisticados, como carros-bombas e semelhantes. Ninguém liga, como ninguém praticamente ligou à passeata em memória do Tim Lopes, um bando de gatos-pingados passeando comoventemente pela orla do Leblon. E nisso mesmo vai ficar, posso apostar.

  • Eles me pegaram novamente

    Estado de São Paulo (São Paulo - SP) em, em 16/06/2002

    Não se pode facilitar. Atualmente, vinha adotando, com notável êxito, a técnica já divulgada aqui mesmo e fornecida por um deles num momento de fraqueza, seguindo a qual, quando um médico dizia "quero ver você", eu lhe mandava uma foto minha recente, com uma gentil dedicatória e anunciando que tinha mais à disposição, sempre que se fizesse necessário ver-me. Funcionava às mil maravilhas e já até previa uma velhice feliz, quando a escada interveio. Muito ancho com minhas imunidades, esqueci a escada, essa traiçoeira construção que liga meu escritório à sala de visitas e comecei a não dar bola para ela.

  • Entre abogados nos vemos

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ) em, em 26/05/2002

    Não sei se já contei aqui que sou advogado. Advogado, não, formado em direito, porque nunca exerci a profissão, não compareci à formatura e demorei muito em ir buscar o diploma, que por sinal desapareceu num dos muitos triângulos das Bermudas que toda casa tem e onde, ao se guardar um objeto, ele esvanece para sempre. Achar esse diploma, por sinal, é invariavelmente a tarefa urgente da próxima segunda-feira, porque pretendo inscrever-me na OAB uma hora dessas. Não precisa ninguém ficar alarmado, pois meu fito não é exercer a profissão, mas simplesmente pegar uma celazinha especial, no dia em que algum juiz crítico literário achar que fui longe demais, cometi um solecismo hediondo e mereço cana sem fiança. Nunca se sabe quando se vai precisar de uma boa carteirinha da OAB.

  • Viajar, viajar

    O GLOBO em, em 24/03/2002

    Estou em Paris e sou um fenômeno. Pagaram minha passagem, deram-me ajuda de custos e aqui estou eu. Dirão vós: que há de tão fenomenal nisso? Afinal, alguns brasileiros, talvez em número bem maior do que estimamos, já estiveram ou estarão em Paris. Verdade, verdade, mas meu caso é raro, pois que sou o único que se queixa de viajar a uma cidade sem rival e, com perdão da má palavra, imperdível, ainda por cima sem gastar praticamente nada do parco dinheirinho que ganho escrevendo coisas sem as quais o mundo permaneceria tal e qual. Verdade, verdade, mas encaro minhas viagens como uma sina, porque detesto viajar e cada vez detesto mais. Conto-vos por quê, na esperança de encontrar alguma compreensão.

  • Ovinos pela própria natureza

    O Globo em, em 10/03/2002

    Longe de mim aceitar a velha tese de que o Brasil é um país onde os conflitos sociais são resolvidos em paz, na base do jeitinho e assim por diante. Nossa História, de Canudos ao Contestado, está aí mesmo e não me deixa mentir. Ao mesmo tempo, é óbvio que nos comportamos - nós, a chamada classe média - como uma carneirada sem rival. Resignamo-nos a tudo, até mesmo a sermos governados de maneira condescendente e, ao mesmo tempo, autoritária, entre mentiras, fraudes, hipocrisia e falsas alegações. Fico assim achando que, no fundo, estamos é satisfeitos com o que ocorre em nosso destino coletivo. Acostumamo-nos, por exemplo, à violência urbana e até aceitamos a tese de que ela tem exclusivamente raízes econômicas. Não é inteiramente correto. Tem raízes econômicas, certo, mas também tem raízes culturais muito fortes, eis que, se pobreza e miséria gerassem necessariamente criminalidade, a Índia e Bangladesh, para ficar somente em dois exemplos, seriam matadouros humanos, onde se assaltariam até templos religiosos, como já aconteceu aqui no Brasil - e vive acontecendo, com os geralmente chiques ladrões de imagens enriquecendo suas coleções à custa da pilhagem de igrejas.

  • Impressões ingênuas

    O Globo (Rio de Janeiro), em 28/08/2005

    Manda a honestidade lhes dizer que esta crônica está sendo escrita com indecorosa antecedência. É porque vou passar uma semana fora e meu computador pequeno, acionado a manivela, deu para sofrer convulsões e acessos de asma, de maneira que não posso mais me fiar nele. Mas a Providência acode os desvalidos e, nos dias que correm, já não é tão temerário antecipar colunas. Não vai haver novidades, exceto algum (alegado) ladrão denunciado e mais negativas da parte dos acusados. De resto, imagino que o panorama continuará mais ou menos o mesmo e, no momento em que escrevo, acredito que o presidente Lula se encontra talvez em Acopiara, no Ceará, usando chapéu e gibão de couro, inaugurando uma cacimba participativa ainda sem água (mas amanhã vai ter), anunciando como o governo dele é o maior de todos, fura-bolos, cata-piolho, como está todo mundo empregado e, finalmente, fazendo com que as mais devotas gastem o dinheiro para a próxima feira em velas aos santos de sua devoção, para ele conseguir vencer a tal Elite, que deve ser um nome difícil para Satanás.

  • Aqui me tens de regresso

    O GLOBO em, em 13/01/2002

    Tenho um fã aqui no Leblon, sobre quem só sei que o apelido é Gugu e que freqüenta botecos na Rua Humberto de Campos, e que, toda vez que me vê, junta as mãos, curva-se para a frente numa atitude de veneração meio oriental e o mínimo que faz é me chamar repetidamente de “mestre”. Às vezes ele também me beija as mãos. Trata-se de um homem meio careca, aparentando, acho eu, 40 e poucos anos. Pois bem, estou eu na Bartolomeu Mitre, aqui pertinho de casa, esperando um táxi passar, quando Gugu surgiu não sei de onde e começou a mesma rotina, só que desta vez com abraços e me beijando fervorosamente as mãos. Eu já tinha acenado para um táxi, que parou, e consegui fazer um sinal para o motorista para que ele esperasse que Gugu acabasse seus ritos de saudação. E Gugu, num rompante entusiástico, disse que não queria atrapalhar, porque estava vendo o táxi à minha espera e me tacou um beijo na bochecha. Agradeci atabalhoadamente, entrei no táxi e contrariando, como sempre faço, o lema de Henry Ford III ( never explain, never apologize - nunca explique, nunca peça desculpas), dei uma explicação ao motorista.

  • Sim, mas quem não é?

    O Globo (Rio de Janeiro), em 21/08/2005

    Vejam vocês, o sujeito pensa que já viu tudo, tendo nascido na primeira metade do século passado, e se tornado foca (involuntário - meu pai não era moleza e me meteu numa redação de jornal sem me consultar e eu que voltasse para casa rejeitado, porque destino mais ameno teria quem embarcasse para a Coréia por volta daquela época) aos 17 anos e militado em tudo que é tipo de coisa em redação de jornal, no tempo em que se berrava e fumava nas redações, só tinha uma mulher ou outra, assim mesmo considerada meio anormal, ou de comportamento sexual aberrante ou vítima de distúrbios mentais, e bastava aprender a pilotar uma Remington para tentar se dar bem.

  • Medo de voar

    O GLOBO em, em 18/11/2001

    Admito que se pode rir de quase tudo, a depender da perspectiva que se tome, mas não tenho achado graça nenhuma nas piadas que, para citar somente um veículo, circulam na internet, com montagens, cartuns e frases espertinhas sobre as tragédias que vêm acontecendo nos Estados Unidos. E também tem gente me escrevendo com reprovação porque não fico dizendo “bem feito”, em relação aos americanos. Assumir uma postura crítica quanto, por exemplo, à política externa americana é uma coisa; aprovar a morte indiscriminada de inocentes, americanos ou não (ou até achar que não existem inocentes entre os americanos), é absolutamente outra coisa.

  • Você não decide

    Jornal O Globo - Rio de Janeiro - RJ,, em 25/03/2001

    Manda a honestidade que eu avise aos que me lêem e, espantosamente, ainda não notaram que sou paranóico assumido. Estes últimos dias têm sido particularmente estressantes para a minha laia (sim, porque acredito firmemente que muitos compatriotas meus, em graus diversos, partilham desta triste condição). Começou com uma crise financeira na Turquia (!), recrudesceu com o Japão e agora com a Argentina e, de certa forma, os Estados Unidos. Embora eu não tenha nada a perder, a não ser, se a coisa engrossar mesmo, o ganha-pão (vou começar a treinar vender tangerinas nos cruzamentos aqui no Leblon, por via das dúvidas), fico nervos. Leio os jornais e suo frio só com essa zona financeira, para não falar no caso da LBV e nos escândalos e picuinhas políticas.

  • Não se pode sair nem um bocadinho

    A gente custa a reconhecer certas verdades desagradáveis, mas o tempo acaba por impô-las. Nunca fui candidato a cargo público nenhum e, por conseguinte, jamais pedi votos a ninguém, nem sou responsável pela administração de qualquer serviço do Governo, de qualquer tipo. Mas a realidade conspira em contrário, e a dura verdade é que sinto no ar um dever indefinido de não deixar o país. Quando estou lá fora, sempre aprontam alguma coisa, até mesmo se se trata de país tão amigo e fraterno quanto Portugal. Começam a acontecer coisas lá mesmo, se bem que, no geral, somente na alfândega. A alfândega portuguesa, que me deu uma boa coça no Porto, não faz muito tempo, alimenta graves suspeitas sobre minha pessoa e, no Porto, quase peço permissão ao Sr. Dr. Alto Funcionário da Aduana para dar um pulinho lá fora e tentar conseguir pelo menos uma maconhazinha, a fim de que ele não ficasse tão desalentado com o fato de só haver roupas em minha bagagem. Chateia um pouco, mas não reclamo. É direito deles e a culpa, como já sublinhei aqui, certamente se deve à minha cara de contrabandista congênito.

  • Vocês aí

    O Globo (Rio de Janeiro), em 07/08/2005

    Peço desculpas pela repetição de algo que já escrevi aqui diversas vezes, mas acho necessário, porque persiste minha impressão de que o povo brasileiro esquece uma verdade importante. Entre nós vigora a soberania popular, expressa no belo enunciado “todo poder emana do povo e em seu nome será exercido”. Embora a Constituição seja violentada ou ignorada o tempo todo, a manutenção desse princípio é básica e consagra a verdade de que o dono do país é o povo e que todo servidor público, eleito, concursado ou nomeado por compadrio é empregado do povo e lhe deve serviço e satisfações.

  • Ocasião um pouco tensa

    O Globo - Rio de Janeiro - RJ,, em 06/02/2000

    Não sou muito bom em questão de férias. Na verdade, férias mesmo, com tudo a que o sujeito tem direito, acho que jamais tirei na vida. Desde pequeno, por exemplo, meu pai encarava as férias escolares como o perigoso ingresso numa vida de vagabundagem impenitente, de maneira que, apesar de me permitir jogar futebol e tomar uma folguinha aqui e acolá, sempre me lembrava que eu não estava fazendo nada de produtivo e, portanto, solidificando um caráter duvidoso e contribuindo para um Brasil cada vez pior, convicções que nunca me abandonaram. Nas férias, a depender do humor dele, eu era obrigado a copiar sermões de Vieira com boa letra, decorar trechos dos Lusíadas, tirar letras de canções francesas na vitrola ou, aos dez anos de idade (juro a vocês, quem não acredita é porque não conheceu meu pai), ler e comentar os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loiola.