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Artigo

  • A volta do caderno rabugento

    Não sei se vocês se lembram de quando lhes falei, acho que no ano passado, num caderninho rabugento que eu mantenho. Aliás, é um caderninho para anotações diversas, mas as únicas que consigo entender algum tempo depois são as rabugentas, pois as outras se convertem em hieróglifos indecifráveis (eu sei que o recomendado é “hieróglifo”, mas sempre achei que quem diz “hieróglifo” está tentando descolar alguma coisa dos dentes), assim que fecho o caderno. Claro, é o reacionarismo próprio da idade, pois, afinal, as línguas são vivas e, se não mudassem, ainda estaríamos falando latim. Mas, por outro lado, se alguém não resistir, a confusão acaba por instalar-se e, tenho certeza, a língua se empobrece, perde recursos expressivos, torna-se cada vez menos precisa.

  • A misteriosa sabedoria oriental

    Por não saber bem do que se trata, já que existe uma infinidade de culturas e subculturas muito diferentes entre si, mas que podem ser chamadas de orientais, sempre procuro evitar contatos mais aprofundados com a Misteriosa Sabedoria Oriental, particularmente em certas circunstâncias como, por exemplo, nas conferências que alguém sempre faz, quando se vai a um restaurante japonês. De modo geral, explica-se que a Misteriosa Sabedoria Oriental chegou à conclusão de que peixe cru é mais sadio por isso, por aquilo e por aquilo mais. Na verdade, a sabedoria oriental envolvida nisso não tem nada de misteriosa. Os japoneses inventaram maneiras atraentes de comer peixe, legumes e algas crus porque moravam e moram num arquipélago sem combustível, onde até lenha sempre foi escassa. Aí, claro, o pessoal aprendeu a comer cru e elogiar, é natural e compreensível. (Sei que tem gente que encara essa afirmação como sacrílega; cartas indignadas para o editor, por caridade.)

  • No tempo do livro

    Ah, nem conto a vocês como era, fico com medo de acharem que estou mentindo. Mas sei que não estou, quando lembro o dia começando a se esgueirar por entre as frestas dos grandes janelões do casarão térreo em que morávamos, e eu, menino de oito ou nove anos, pulando afobado da cama, para mais uma vez me embarafustar pelo meio dos livros. Quase febril, ansioso como se o mundo fosse acabar daí a pouco, eu nem sabia com quem ia me encontrar e aonde viajaria, em nova manhã encantada. Não havia problemas para eu me embolar com os livros, porque eles não só estavam junto à minha cama, mas espalhados da cozinha ao banheiro, em estantes para mim altas como torres, algumas das quais tão pejadas que volta e meia estouravam, viravam cachoeiras de papel e vinham abaixo, dando a impressão de que as paredes e o chão se dissolviam em livros.

  • O plantão do Inspetor Brasílio

    Começo de noite quieto, no Comando Especial de Proteção ao Cidadão. Talvez quieto demais, pensou o Inspetor-Chefe Brasílio, olhando o relógio. Já passava das nove, nenhuma ocorrência marcara o plantão até então modorrento e Brasílio, com um bocejo, se preparava para tomar um cafezinho, quando o telefone tocou e, por alguma razão, ele soube imediatamente que seria uma daquelas noites.

  • Se o Brasil precisar

    De modo geral, pode-se dizer que a convocação feita por Dunga foi bem recebida em Itaparica. A exceção mais notável fica por conta da, no ver de muitos, flagrantemente injusta não-inclusão de Obina entre os convocados. Como sabe qualquer um que acompanhe o futebol, Obina é natural do progressista distrito de Baiacu, situado na contracosta da ilha. Não foram ventiladas suspeitas contra a integridade de Dunga, mas formularam-se as habituais denúncias de discriminação contra nós e o Nordeste. Se bem que Ary de Almiro, que é filósofo e sabe coisas de que Deus duvida, tenha observado que se trata de um problema jurídico.

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