
Cara e coragem
O Zé Dirceu está sendo vítima de uma choradeira geral. Ministros, ex-ministros e interessados nisso ou naquilo reclamam que o chefe da Casa Civil é quem está realmente mandando. Ora, pois, qual é a novidade nisso?
O Zé Dirceu está sendo vítima de uma choradeira geral. Ministros, ex-ministros e interessados nisso ou naquilo reclamam que o chefe da Casa Civil é quem está realmente mandando. Ora, pois, qual é a novidade nisso?
Somos testemunhas da existência de uma cultura elitizada, para uns poucos. A indispensável popularização da cultura (massificação) é assunto para debate, por imperiosa necessidade.
"Estimado senhor meu pai. Espero que esta vos encontre gozando da mais perfeita saúde bem como a todos os nossos familiares em Portugal. Seja-me permitido, senhor, prestar a vossência relatório acerca da importante missão que a mim foi por vós confiada: encontrar, neste país chamado Brasil, onde resido, um lugar onde pudésseis instalar um entreposto comercial, aplicando assim os recursos que nossa família auferiu no bem-sucedido comércio das especiarias. Destarte, dirigi-me ao lugar conhecido como São Paulo de Piratininga, que, segundo informações por mim obtidas, preencheria as condições requeridas por vós, a primeira das quais era evitar o trópico, por vós considerado região insalubre, de gente preguiçosa, indolente. O dito lugar, ao contrário, teria ares frios e temperados; seria uma terra mui sadia, fresca e de boas águas, situada entre dois rios, o Tamanduateí e o Anhangabaú. De Recife, onde resido, tomei um navio, e depois em lombo de mula, subi até o planalto, onde fica São Paulo de Piratininga. Quando lá cheguei, a 25 de janeiro do ano da graça de 1704, invadiu-me o desânimo.
Este espaço é dos leitores e do jornal. Não deve expressar sentimentos que possam parecer pessoais, por mais justificáveis que sejam. Mas o meu tema de hoje, embora pessoal, é daqueles que merecem uma meditação universal: a relação entre pais e filhos, os valores da família, o amor e a morte.
Dentre as datas literárias de 2004, este se apresenta, na realidade, como o ano de José Cândido de Carvalho. Nascido em 1914, chegaria agora aos noventa anos. Sua obra-prima, "O coronel e o lobisomem", saiu em 1964 - há quarenta anos, portanto. E ele morreu, em 1989 - há 15 anos. São três datas "redondas", no sentido de comemoráveis. É o que diz, em nota prévia, a escritora Lourdes May, que escreveu um livro, "Vida e obra de José Cândido de Carvalho", a sair este ano.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei nº 10.753, de 31/10/2003, instituindo a Política Nacional do Livro. O texto precisa ainda ser regulamentado pelo Congresso Nacional, entretanto o que não deu para entender foi que, um dia antes da assinatura do presidente, o Governo editou a Medida Provisória nº 135, vetando alguns artigos fundamentais da lei. O fato mereceu até um comentário jocoso da imprensa, que apelidou a polêmica MP 135 de "Medida Premonitória".
Em todos os dados do pró e contra do ano I do PT avulta um número crucial: a permanência da confiança em Lula, por 69% da população, não obstante o apoio ao governo flutuar em torno de 45%, no seu suporte. O mais estável dos capitais para os meses à frente é o da solidez da espera do país, a ter como artífice a exclusivíssima figura do presidente. Árbitro da esperança do outro Brasil, pela primeira vez trazido à crença na viabilidade da mudança. Não é nos “sem terra”, ou nas populações marginais, que se vê a rebeldia às promessas do PT. Mas nos donos do poder e sua impaciência de salão.
Uma semana depois de terminada a feira de livros de Frankfurt de 2003, recebo um telefonema de meu editor da Noruega: os organizadores do concerto a ser realizado para o Prêmio Nobel da Paz, a iraniana Shirin Ebadi, solicitam que eu escreva um texto para o evento.
Vai ter reclamação. Sempre tem reclamação, quando me declaro velho. Vem de leitores com mais idade do que eu, que me consideram um infante mal saído dos cueiros e vêem no que digo a insinuação de que já estão mais ou menos com um pé na cova. Nunca pretendi fazer tal sugestão, mas compreendo que reajam dessa forma e até parei de me chamar de velho. Agora, contudo, é oficial, está na lei. Não a li, mas é do conhecimento público que quem tem mais de sessenta atualmente se enquadra na categoria de idoso, ou seja, velho mesmo. Isto quer dizer que sou idoso há três anos e, portanto, se não posso ter-me na conta de veterano, não há como classificar-me de calouro.
O novo Código Civil começa proclamando a idéia de pessoa e os direitos da personalidade. Não define o que seja pessoa, que é o indivíduo na sua dimensão ética, enquanto é e enquanto deve ser.
A reunião da Cúpula das Américas deixou um saldo insosso. Tanto falaram em fugir da retórica latina que os americanos aderiram a ela. Esse formato nasceu há 15 anos, quando foi fundado, em Acapulco, o Grupo dos Oito, através do qual os principais países da América do Sul e o México se dispuseram a construir uma cúpula para acertar uma política presidencial conjunta, face a problemas como a Nicarágua vir a ser uma nova Cuba.
A vinda do PMDB ao poder define uma ambiciosa estratégia do Governo para assegurar uma vantagem qualitativa na conquista do Brasil das prefeituras. Permanece hoje um condomínio de base - naquele país profundo - entre o PFL e o PMDB. Neste verão o PT quer remarcar estes preços políticos. O poder municipal em 80% do seu conjunto na verdade se divide entre os chamados partidaços, sucessores tradicionais da Arena e do MDB, tal como estes são herdeiros do PSD e da UDN, do primeiro retorno à democracia no pós Estado Novo.
Evandro Lins e Silva vai nos fazer muita falta - a nós, da Academia Brasileira de Letras - porque era o proprietário de uma cultura suficientemente esclarecida e sólida, para resolver os problemas de natureza regimental, estatutária ou jurídica, que surgiam nas nossas reuniões das quintas-feiras, quando sempre propunha uma solução pertinente, correta e sensata. Ele ocupava a Cadeira nº 1, que tem Adelino Fontoura, como patrono; Luís Murat, como fundador; e, como sucessores, Afonso Taunay, Ivan Lins e Bernardo Elis.
Li num jornal de Paris que a administração do metrô estuda fazer como os japoneses, engatar em cada composição um vagão especialmente exclusivo para mulheres que tomam o trem de manhã e voltam à tarde para casa, depois de um dia de grande labuta nos escritórios.
Sua carta me sensibilizou, trazendo-me palavras muito amáveis. Mas não participo das suas apreensões ante a perspectiva da presidência Luiz Inácio Lula da Silva. Por tudo o que representa a sua esteira de compromissos político-administrativos com lideranças não-petistas, não vejo o que temer. Além do mais, a equipe que o assessora é da melhor qualidade, e não tem, até pela formação intelectual e política, qualquer vínculo com o trabalhismo predatório. Basta citar dois exemplos: Antônio Cândido e Cristovam Buarque, indicado para o MEC.