Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Noticias > Waldemar Lopes: lembranças de acadêmico

Waldemar Lopes: lembranças de acadêmico

 

Waldenio Porto, presidente da Academia Pernambucana de Letras

É sábado. Dia do sabalopes. Waldemar poeta acorda-se cedinho. Deixa brilhar a primeira luz no horizonte. Ouve cantar o seu galo, que sempre vem espiá-lo na janela do seu quarto, quando nasce o dia. Escuta o primeiro passarinho trinar a alegria matutina. Waldemar Lopes, o poeta escolhe o sábado e o despontar do dia para entrar em sua nova dimensão. Mas antes manda convidar todos os seus amigos para a reunião deste sábado, que vai haver, não na rua Artur Muniz, mas na Academia Pernambucana de Letras. E estamos todos aqui Waldemar, para participar do último sabalopes, que não será o derradeiro pois o faremos realizar aqui, cada semana, como um rito. Para perpetuar-te nesta Acadmeia, tua casa, nossa casa, a casa de todos os escritores e de todas as academias. Para continuar o teu espírito e tua obra de congregar a todos na deleitosa e gratificante hora do teu encontro literário.

Continuamos a escutar tua voz. As modulações de tua voz. O timbre compassivo da tua voz. E aquele olhar risonho a nos acolher a todos, flocos de ternura se acamando como a neve no silêncio da nossa grande solidão.

Saudade, enxuga o nosso pranto.

Afeto, mitiga a nossa dor.

Lembrança, torna menos sofrida a grande perda, sustém o pesar que nos esmaga.

Pois todas as emoções vividas e compartilhadas contigo, Waldemar, os pensares, os risos, as discussões poemáticas, a tua palavra esclarecedora, a comoção estética embutida no teu verso, não mais terão vez.

Que todas as emoções vividas e compartilhadas contigo, Waldemar, nestes últimos trinta e cinco dias, reprimidas até então, deságüem agora, porque outra vez não se repetirão.

Tua pregação Waldemar, foi ouvida. Se hoje vivemos este enriquecedor momento ecumênico cultural em Pernambuco devemo-lo a ti, que durante toda a tua longa vida o praticaste.

Trabalhador incansável nos deixas como legado derradeiro três livros de uma só vez, já na editora, prontos para serem lançados.

Pressentias teu encantamento. Confidenciaste a mim e a tantos dos teus diletos amigos. Mesmo assim pelejavas e te consumias na revisão exaustiva da tua última obra.

Colho dos teus poemas os versos que me parecem terem sido escritos para este momento: “Se a morte se aproxima é tempo de plantar;/outros farão depois a festa depois da colheita”.

Descansa Waldemar. Pode ficar sossegado. Nós te continuaremos poeta, na colheita das tuas ações e no plantio da tua palavra.

08/11/2006 - Atualizada em 08/11/2006