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A vitoriosa consagração acadêmica

 

Mànya Millen

O GLOBO (13.07.2001)



Há muito tempo o nome de Ana Maria Machado tornou-se uma unanimidade quando o assunto é literatura infanto-juvenil. Bem distante da unanimidade burra, a escritora, que enfileira mais de uma centena de livros dedicados às crianças, mostrou o poder de sedução de sua prosa tanto cativando gerações de leitores como conquistando prêmios. O mais importante deles foi arrematado em março de 2000, quando ela recebeu o Hans Christian Andersen, dado pelo International Board on Books for Young People (IBBY). E ontem a escritora virou novamente uma unanimidade: a Academia Brasileira de Letras anunciou seu nome como a vencedora do Prêmio Machado de Assis, a mais significativa distinção literária nacional, que premia (com R$ 50 mil) o conjunto da obra de um autor.

O prêmio é particularmente caro a Ana, não apenas por sua importância mas porque consagra, na seara acadêmica, a autora de diversos romances "para adultos" - um deles, "A audácia dessa mulher" (Nova Fronteira), gira em torno do personagem Capitu, de "Dom Casmurro", obra-prima de Machado - e variados livros de ensaios, filhos igualmente queridos.

- Era como se eu tivesse duas filhas lindas e só falassem de uma delas - brinca Ana, que, passando uma temporada na casa que tem numa praia do Espírito Santo, está recebendo todos os parabéns pelo telefone. - Estou muito feliz porque meu filhote esquecido está sendo lembrado.

A escritora foi premiada pelo conjunto da obra, e desse conjunto a literatura infanto-juvenil é parte fundamental. Mas ela conta que, na reunião em que seu nome foi indicado com (de novo) unanimidade - pelo júri composto pelos imortais Eduardo Portella, Lygia Fagundes Telles e Carlos Heitor Cony - e também aprovado com unanimidade, o enfoque foi dado à sua produção para adultos.

- Disseram-me que o Portella fez uma brincadeira no discurso dele, falando o tempo todo apenas nos meus romances e ensaios e lembrando dos tempos em que lecionei na Sorbonne e em Berkley - lembra Ana. - Só foi falar da minha obra para crianças no finalzinho, dizendo que esta todo mundo já conhecia bem, e que por isso nem precisava de justificativa. Ele queria realmente fazer uma distinção.

Ana vai receber o Machado de Assis na próxima sexta-feira, dia 20, juntamente com outros premiados pela Academia, que também concede o Prêmio ABL para obras publicadas ao longo do ano em quatro categorias: ensaio, crítica e história literária; literatura infantil; ficção e poesia (R$ 30 mil cada). E Ana terá mais um motivo para estar contente nesse dia: sua grande amiga Ruth Rocha, outra estrela maior da literatura dedicada às crianças, venceu em sua categoria pela adaptação da "Odisséia".

Além de saborear a conquista do Machado de Assis - "Ainda estou em estado de êxtase com esse prêmio que não esperava ganhar", confessa ela - Ana vai dando os últimos retoques em "Texturas", uma nova coletânea de ensaios sobre leitura e literatura que sai até o final do ano pela Nova Fronteira. Também deve chegar às prateleiras até lá "De carta em carta" (Salamandra), o primeiro livro infantil inédito de Ana pós-conquista do Andersen, e "Do outro mundo" (Ática), título ainda provisório para um novo texto juvenil. Bem antes disso, já no próximo dia 23, Ana faz uma noite de autógrafos para lançar seu romance mais recente, "Para sempre" (Record).

Ana aproveita a temporada capixaba para descansar mergulhando nas tintas e pincéis. Pintora que um dia, no início dos anos 70, entendeu que sua contribuição às artes plásticas seria "muito modesta", voltou a ter aulas de desenho e não abandona suas telas. Assim como não desiste de um sonho especial:

- Meu sonho não é particular, é algo mais coletivo. Gostaria que as pessoas chegassem mais perto dos livros, da literatura, do romance, da poesia. A literatura brasileira é tão rica e tão vasta que merece essa aproximação.

 

OS PREMIADOS

CONJUNTO DA OBRA: Ana Maria Machado.

ENSAIO, CRÍTICA E HISTÓRIA LITERÁRIA: Octávio Ianni (por "Enigmas da modernidade").

LITERATURA INFANTIL: Ruth Rocha, pela adaptação da "Odisséia".

FICÇÃO: Marcos Santarrita (pelo romance "Mares do sul").

POESIA: Luiz de Miranda ("Trilogia do azul, do mar, da madrugada e da ventania").

 

13/06/2006 - Atualizada em 12/06/2006