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Vilaça na Cultura: uma grande solução

 

Pedro do Coutto

Na sua coluna de quarta-feira, Helio Fernandes revelou que, uma vez confirmada a saída de Gilberto Gil da pasta da Cultura, aliás por sua própria iniciativa, o nome de preferência do presidente Lula é o do ministro Marcos Vilaça, que acaba de concluir uma atuação brilhante na presidência da Academia Brasileira de Letras. Se a perspectiva se confirmar, terá sido uma grande solução para o País e o governo.

Ninguém melhor e mais vocacionado do que Vilaça para o cargo, cuja estrutura aliás nasceu em suas mãos quando foi secretário de Cultura do MEC na gestão do ministro Marco Maciel. No ano seguinte, com a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral e a posse de José Sarney, nascia também o Ministério da Cultura, cujo primeiro titular foi o meu inesquecível amigo José Aparecido de Oliveira, a quem sempre chamo de embaixador do cristianismo no mundo de hoje.

Por uma coincidência, Aparecido e Vilaça, duas pessoas enormemente construtivas e de atuação marcada por larga visão a respeito do processo cultural. Sem preconceitos e sem restrições tanto à arte, que está em todos os lugares, quanto aos vôos alados da ciência sempre à espera de uma ruptura com o que passou.

Ciência e arte pertencem ao universo tanto do conhecimento humano quanto da intuição impulsionados pela emoção. Afinal, cultura é a passagem do ser humano pelo mundo, seu eco, seu rastro, sua sombra. Por onde passam o homem e a mulher ficam - como sempre assinala o ex-presidente da ABL - as impressões digitais do destino e da aventura.

Ao longo dos seis anos em que presidiu a Casa de Machado de Assis, cargo que passou a Cícero Sandroni neste final de ano, Marcos Vilaça desempenhou um mandato marcado por uma série de grandes realizações. Tanto no campo das letras quanto no universo das imagens. Pela primeira vez, a música popular brasileira foi tocada e cantada pela platéia do Petit Trianon.

A Biblioteca Rodolfo Garcia, sob a direção de Murilo Melo Filho, abriga hoje, informatizada totalmente, um dos maiores acervos literários do País. Vilaça uniu a tradição ao moderno, o passado ao presente, projetando ambos para o futuro. Porque o processo cultural também será eternamente o futuro. São os intelectuais, os artistas, os cientistas, os produtores culturais que surgem todos os dias e que, como definiu Bertolt Brecht, virão depois de nós, que movem o mundo.

A cultura é também, além de tudo que se possa dizer dela, um processo transformador, mágico, aliás como está cantado em bela cação de Gilberto Gil. A transformação da sociedade, tanto a brasileira quanto a mundial, pela cultura, é um fato. Ela necessita apenas não ser dirigida, mas apenas encontrar palco e telas para os talentos novos.

Ser ministro da Cultura, portanto, penso eu, e daí porque penso que Vilaça é perfeito para o cargo, é abrir oportunidades, descortinar horizontes, convocar para o primeiro plano aqueles que muitas vezes encontram dificuldade em galgar os degraus do reconhecimento. Acontece e disso não temos informações - porque só encontramos as estatísticas do êxito, não das oportunidades perdidas.

Marcos Vilaça, por seu belo impulso construtivo, é o homem absolutamente certo para reduzir os obstáculos do destino, os quais também fazem parte da vida.

Todas as iniciativas desenvolvidas até hoje no mundo para dirigir a cultura fracassaram. A maior delas por parte de Hitler na Alemanha nazista. Uma outra, a dos governos militares que assumiram o poder no Brasil, de 64 a 85. Cultura é algo que exige liberdade. Não direcionamento e redução de propósitos e de sentidos. Tanto assim que a história universal não registra nenhuma interdição de obra de arte ou a qualquer texto, filme, peça de teatro, que não tenha desabado com o tempo.

O processo cultural, na realidade, ocorre à frente do tempo assimilado. Basta ver como os conceitos mudam com o passar dos anos. Com o passar dos anos? Agora com o passar dos meses. Vejam os leitores como são os episódios da aventura cultural. Nelson Rodrigues, cujas peças dividiram a sociedade brasileira até 50 anos atrás, quando houve a explosão de "Perdoa-me por me traíres", Teatro Municipal, novembro de 56, hoje é um autor clássico, consagrado por todos.

Há algumas décadas, contra ele, seus adversários utilizavam o argumento (falso) do que aquilo que escrevia era impossível. Mas sempre argumentei em contrário. Para os que sustentavam a impossibilidade de certas situações, eu indagava: o nazismo foi possível? Se o nazismo aconteceu, pode acontecer qualquer coisa.

A Alemanha nazista significou uma sinistra situação-limite, na realidade inultrapassável em crueldade, desrespeito, violação de todos os direitos humanos. Além do mais, a arte é uma linguagem em si mesma. É impacto, emoção, talento, tradução do cotidiano para o palco ou para a tela. Para a cultura, portanto, é essencial descortinar o palco, a tela, a edição literária.
Marcos Vilaça, um intelectual construtivo, homem que vai ao encontro das idéias e que ama a arte, é o ministro indicado para tornar o processo cultural uma eterna e dinâmica descoberta do talento e do gênio humano.

Tribuna da Imprensa (RJ) 28/12/2007

01/01/2008 - Atualizada em 01/01/2008