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Uma nova Ciranda de pedra

 

Próxima novela da Globo é uma das adaptações em produção da obra de Lygia Fagundes Telles

Antonio Gonçalves Filho
Agência Estado

A acadêmica Lygia Fagundes Telles vai comemorar 70 anos de atividade literária com duas adaptações de obras suas. A primeira estréia no dia 5 de maio, trazendo de volta à TV seu primeiro romance, Ciranda de pedra, de 1954. A segunda ainda não tem data de lançamento. Trata-se de uma versão teatral de seu terceiro romance, As meninas (1973), pela dramaturga Maria Adelaide Amaral. Os dois livros já foram anteriormente adaptados, o primeiro para a TV, em 1981, e o segundo para o cinema, em 1996.

Nenhum dos dois antigos projetos é particularmente memorável, o que torna ainda mais difícil a tarefa dos adaptadores, sobrecarregados com a responsabilidade de traduzir para a TV e o teatro a ousadia dos dois livros, entre os melhores produzidos pela escritora.

O dramaturgo Alcides Nogueira revela sem temor que recuou deliberadamente ao adaptar Ciranda de pedra para o horário das seis da tarde. Assim, na novela que a Globo começa a exibir dia 5 de maio, a tenista Letícia, campeã das quadras no livro Ciranda de pedra, será derrotada em sua atração por mulheres, uma vez que a classificação por faixa etária – eufemismo para censura – não permite que crianças vejam pessoas do mesmo sexo se amando na TV.

A saída encontrada por Alcides Nogueira para driblar a camisa-de-força da classificação etária foi compensar o tônus peculiar de Ciranda de pedra – a força social do romance – com o desenvolvimento do perfil psicológico dos personagens.

Assim, a lésbica Letícia deixa de ser a desbravadora do virgem território da sexualidade alternativa, nos anos 50, para ser simplesmente uma mulher que rejeita o modelo patriarcal, assumindo sua autonomia como esportista profissional.

Conrado, o correspondente brasileiro do “belo Antonio” de Brancati, homem consumido pela desolação, não será um impotente sexual, mas “afetivo”, tendo dificuldades para assumir o cargo de diretor da siderúrgica que recebe como nefasta herança.

“Lygia tem aquela coisa das pequenas tragédias de Katherine Mansfield”, define Nogueira, justificando sua opção por um caminho mais intimista para narrar essa história de desestruturação familiar, na qual a matriarca Laura (Ana Paula Arósio) seria o que hoje se conhece como vítima de transtorno bipolar.

Laura, porém, não é a protagonista, mas sim sua filha Virgínia (Tammy DiCalafiori), uma solitária rejeitada pela família, espécie de gata borralheira que herda as sobras das reformas dos quartos das irmãs quando a mãe decide se separar do rico marido advogado, Natércio (Daniel Dantas), para assumir sua relação extraconjugal com o pobre médico Daniel (Marcello Antony).

Jornal do Commercio (PE) 8/4/2008

08/04/2008 - Atualizada em 07/04/2008