O Acadêmico e professor Alfredo Bosi faleceu na manhã do dia 7 de abril de 2021, em São Paulo, vítima de pneumonia associada à Covid-19. Diante da recomendação de se evitar reuniões e aglomerações por conta do coronavírus, não haverá velório.
“A tanta dor, soma-se a morte do admirável acadêmico Alfredo Bosi. Sou tomado de profunda emoção. Nem encontro palavras. Escrevo com olhos marejados. Bosi: um homem de profunda erudição, humanista inconteste, um homem que estudou o Renascimento e que o representou. Realizou uma abordagem nova da cultura do Brasil. Dialética da colonização é um clássico desde o nascedouro. Sem Ecléa, sua querida companheira, o mundo ficou mais áspero, ele, o suave, o profundo e delicado espírito. Sabia Dante e Machado, com a mesma intimidade, Gadda e Guimarães Rosa. Em tanta dor, essa que nos fere. Jamais relegou a segundo plano os direitos civis e as liberdades. Amado amigo, fraterno, radical.”, declarou o Presidente da ABL, Acadêmico Marco Lucchesi.
“Lamento muitíssimo a morte de Alfredo Bosi, um dileto amigo, intelectual da mais alta envergadura, admirável ser humano, com quem tive a alegria e a honra de conviver, e que sempre considerei um de meus grandes mestres.”, afirmou o Acadêmico Antonio Carlos Secchin.
"Neste momento de tristeza pela perda do amigo Alfredo Bosi, doce figura e homem de caráter, fica a certeza da permanência de sua obra, tão importante para todos nós. Foi um intelectual dono de pensamento próprio e corajoso, capaz de análises fecundas e ousadas, apoiadas em inteligência aguda e sensibilidade para o humano. Igualmente equipado para examinar literatura e história, bem como suas interrelações, nos deu com sua Dialética da colonização uma obra marcante, um dos livros fundamentais para o entendimento da cultura brasileira.", declarou a Acadêmica Ana Maria Machado.
"Alfredo Bosi foi um notável integrante da República das Letras e um ilustre e querido confrade da Academia Brasileira de Letras. Com ele tive longo, estimulante e amigo convívio, beneficiado pelo espaço do diálogo que a Universidade de São Paulo, que integramos como professores, ensejou. Alfredo foi um grande crítico literário, muito à vontade no seu domínio da literatura comparada e na densidade de suas inclinações filosóficas. Descortinou horizontes de entendimento do nosso país, lastreado na sua sensibilidade de leitor de poesia, de ficção e da ensaística. A amplitude dos seus conhecimentos e a sua larga visada da cultura são marcas da identidade intelectual do seu percurso, que também se assinala pela autenticidade ex parte populi de uma postura ética perante a vida e a sociedade. Foi um límpido escritor e o seu estilo correspondia à lúcida qualidade da sua visão. A sua obra é vasta e não posso nesta curta mensagem de saudade fazer justiça à relevância e significado de que se reveste para todos nós. Menciono apenas como membro da Academia Brasileira de Letras – a Casa de Machado de Assis – a originalidade e a argúcia com a qual desvendou a pluralidade das facetas da obra do nosso patrono que é o grande patrono, de alcance universal, da literatura brasileira.", disse o Acadêmico Celso Lafer.
“Com a partida de Alfredo Bosi, perde a Literatura Brasileira um dos seus mais lúcidos conhecedores, perde a Universidade o Professor exemplar, iluminador de caminhos, perde a Cultura Brasileira, perde a Casa de Machado de Assis o convívio com a inteligência e a elegância do Acadêmico e Amigo fraterno.”, declarou o Acadêmico Domício Proença Filho.
O Acadêmico
Alfredo Bosi é o sétimo ocupante da Cadeira nº 12. Foi eleito em 20 de março de 2003, na sucessão de Dom Lucas Moreira Neves, e recebido em 30 de setembro de 2003 pelo acadêmico Eduardo Portella. O Acadêmico nasceu em São Paulo (SP), em 26 de agosto de 1936. Foi casado com a psicóloga social, escritora e professora do Instituto de Psicologia da USP, Ecléa Bosi, com quem teve dois filhos: Viviana e José Alfredo.
Descendente de italianos, logo depois de se formar em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), em 1960, recebeu uma bolsa de estudos na Itália e ficou um ano letivo em Florença. De volta ao Brasil, assumiu os cursos de língua e literatura italiana na USP. Embora professor de literatura italiana, seu interesse pela literatura brasileira o levou a escrever os livros Pré-Modernismo (1966) e História Concisa da Literatura Brasileira (1970).
Em 1970, decidiu-se pelo ensino de literatura brasileira no Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, da qual foi Professor Titular de Literatura Brasileira. Ocupou também a Cátedra Brasileira de Ciências Sociais Sérgio Buarque de Holanda da Maison des Sciences de l’Homme (Paris).
Foi vice-diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP de 1987 a 1997. Nesse último ano, em dezembro, passou a ocupar o cargo de diretor. Entre outras atividades no IEA, coordenou o Educação para a Cidadania (1991-96), integrou a comissão coordenadora da Cátedra Simón Bolívar (convênio entre a USP e a Fundação Memorial da América Latina) e coordenou a Comissão de Defesa da Universidade Pública (1998). Desde 1989 era editor da revista Estudos Avançados.
07/04/2021