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Helio Jaguaribe, “nosso profeta da lucidez”

 

Poucas pessoas estão credenciadas a receber uma homenagem tão valorosa como a que Academia Brasileira de Letras prestou, na última quinta-feira ao Acadêmico Helio Jaguaribe, morto em 2018. Com a presença do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, do presidente da ABL, Merval Pereira, da professora Aspásia Camargo, do embaixador e Acadêmico Celso Laffer e do embaixador Roberto Jaguaribe – filho do homenageado - na mesa principal, familiares e amigos, o pensamento, as ideias, o trabalho e as várias facetas deste grande brasileiro foram abordadas e reverenciadas no Salão Nobre do Petit Trianon. O vídeo completo pode ser visto aqui no site da ABL, na seção “vídeos”.

Merval Pereira abriu a cerimônia falando da impressionante vontade de viver de Helio Jaguaribe. Companheiros de viagens ao exterior nos vários seminários organizados pelo professor e Acadêmico Candido Mendes, o presidente da ABL lembrou de várias ocasiões em que Helio mostrou sua exuberante vontade de aprender e de ensinar. ”Ele se admirava diante de tudo.”

Para Celso Laffer, Helio Jaguaribe é o patrono dos seus caminhos tanto na teoria política, quanto na teoria das relações internacionais. “Integra o panteão das minhas referências e na minha admiração o impacto do Helio como analista da conjuntura tem muito a ver com o vigor e Integridade de seu espírito republicano, ser superior, generoso e destituído de baixas paixões. Dizia ao Helio, que ele era o nosso profeta da lucidez".

O ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira afirmou que Helio foi um pensador cujo legado é um patrimônio comum da casa de Machado de Assis e da de Rio Branco. “Deixou-nos uma obra de abrangência única, um homem de letras e de Estado. Estudioso do mundo das ideias e das ideias sobre o mundo, na dualidade que costumava empregar. Representou um notável exemplo de pensamento crítico, que versando múltiplos temas, teve sempre como sentido de direção promover e implementar a racionalidade publica para ampliar democraticamente com liberdade e igualdade o poder de controle da sociedade brasileira sobre seu destino.”

Roberto Jaguaribe lembrou que a vasta obra de seu pai, dividida em vários aspectos do conhecimento, exigem nível elevado de coragem e de audácia para adentrar. Segundo ele, o próprio Helio dividiu-a em seis áreas: estudos sócio políticos, de relações internacionais, da América Latina, filosóficos, sobre o desenvolvimento brasileiro e os histórico-sociológicos.

“É uma obra muito vasta, que normalmente não se encontra nos autores contemporâneos. Meu pai tinha muitos amigos; os de toda vida, os mais recentes, os da família, e essas amizades foram muito construtoras do seu pensamento em grande medida e mobilizadas por ele também. O embaixador citou uma frase do embaixador Oscar Lourebço Fernandes, já falecido, amigo de infância, de que ”a convicção transparente de que o mundo seria alcançável e transformável pela razão, escorada na vontade ética que lhe seria inexplicavelmente entretecida, seria para experimentarmos uma imagem matemática euclidianamente linear, no meio de um espaço de muitas dimensões.”

Ele lembrou ainda uma outra dimensão presente na personalidade de seu pai, cuja inflexível disposição interior de não admitir a mais leve suspeita de comportamento menos ético, ou até menos elegante de quem quer que participasse das trocas de ideias de seu círculo, o inibia de processar qualquer informação ou evidência de interesses ou de comportamentos potencialmente conflitantes com seu modo de ser. Roberto Jaguaribe comparou uma frase de Machado de Assis com o modo de vida de seu pai. A delicadeza dos modos é obrigação de todos os homens que convivem entre os homens. “Era uma das coisas que meu pai efetivamente tinha."

A professora Aspasia Camargo disse se sentir muito feliz de fazer parte da família de admiradores de Helio Jaguaribe, com quem aprendeu muito. “Era uma fonte permanente de sabedoria, sua visão ambientalista é surpreendente”.

Em 2007, ela contou, quando o IPCC (Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas) alertou o mundo que a situação era muito mais grave do que parecia, se comoveu quando leu um texto de Helio, que demonstrava já estar a par de todo o previsto e já posicionado perfeitamente diante de um impasse que enfrentou nos últimos anos de sua vida, do qual não fugiu. “Enfrentou a realidade da finitude da espécie, ele que vivia a finitude de sua vida. É monumental essa visão, porque ela nos leva a perceber o Helio de outra maneira, desde o início. Como diz a fenomenologia, o ser humano se revela na sua experiência.”

21/07/2023

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