O filólogo Ricardo Cavaliere, de 70 anos, tomou posse, na Academia Brasileira de Letras, na noite desta sexta-feira (18), ampliando o grupo de renomados gramáticos da casa de Machado de Assis. Ele passa a ocupar a Cadeira número 8, vaga desde a morte da professora, pesquisadora e crítica literária Cleonice Berardinelli, em janeiro deste ano. Sua entrada reforça o setor de lexocologia da ABL, que tem o filólogo Evanildo Bechara, de 95 anos, como um dos Acadêmicos. Cavaliere foi eleito em abril com 35 votos contra dois de Mauricio de Sousa.
Na cerimônia, a espada foi entregue pelo Acadêmico Arnaldo Niskier, o colar pelo Acadêmico Antonio Carlos Secchin e o diploma pelo Acadêmico Domício Proença Filho os Acadêmicos, José Paulo Cavalcanti, Godofredo de Oliveira Neto e Ruy Castro formaram a comissão de entrada; a comissão de saída foi formada pelos Acadêmicos Ana Maria Machado, Rosiska Darcy de Oliveira e Carlos Nejar.
O Acadêmico é professor aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro da Academia Brasileira de Filologia, área que se dedica ao estudo da língua por meio da análise histórica de documentos escritos.
Um dos seus projetos é reforçar o compromossio com o vocabulário da língua portuguesa e dar continuidade ao desenvolvimento do dicionário.
— O compromisso com a língua portuguesa está nos estatutos da casa, projetos como o do dicionário e o do vocabulário são constantemente renovados e já conferem bastante trabalho na área. Nesse sentido, a entrada de mais um filólogo traz sangue novo e vai contribuir não apenas para a continuação desses projetos como também na criação de novos projetos nessa seara - destacou Cavaliere.
— Pergunta-se com frequência: por que “defesa da língua”? Estará a língua sob ameaça de desaparecimento? Vivemos um estado de coisas que impede, em certa medida, que o investigador se afeiçoe ao objeto da pesquisa, numa relação protocolar que subestima a intimidade inerente do homem com a língua que fala. Afinal, linguistas também são falantes da língua e... humanos - acrescentou.
Para o presidente da ABL, Merval Pereira, Cavaliere é um dos maiores filólogos brasileiros junto a Evanildo Bechara. Ambos são fundamentais para que a ABL conclua o projeto do dicionário.
"Como nossa função básica é cuidar da língua, Cavaliere vai ser fundamental para a comissão de lexicografia. Ele vai nos ajudar a levar adiante um projeto que está há muito tempo acalentado, de criação de um dicionário. Já começamos a fazer online e estamos montando uma equipe maior para concluir esse grande projeto que vamos tocar nos próximos anos", pontua Merval.
O Acadêmico Evanildo Bechara fez o discurso de recepção, que foi lido pelo Acadêmico Arnaldo Niskier. Nele, Bechara abordou a contribuição de Cavaliere e sua relevância para o desenvolvimento do saber linguístico-historiográfico da gramaticologia brasileira:
"Seus livros mais recentes, "A gramática no Brasil: ideias, percursos e parâmetros", lançado pela Editora Lexikon em 2014, e "História da gramática no Brasil: séculos XVI a XIX", publicado pela Editora Vozes em 2022, afiguram-se hoje como leitura indispensável na seara dos estudos linguísticos, sociológicos e historiográficos", disse no discurso.
Mais sobre Ricardo Cavaliere
Ricardo Cavaliere é professor aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro da Academia Brasileira de Filologia, área que se dedica ao estudo da língua por meio da análise histórica de documentos escritos. Obteve o título de mestre em Língua Portuguesa (1990) e de doutor em Língua Portuguesa (1997) pela mesma universidade. Cumpriu estágio de pós-doutorado em História da Gramática no Brasil (2005), na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sob supervisão do Prof. Dr. Evanildo Bechara.
É autor de diversas obras, entre elas: Fonologia e morfologia na gramática científica brasileira (2000), Pontos essenciais em fonética e fonologia (2005), Palavras denotativas e termos afins: uma visão Cargumentativa (2009), A gramática no Brasil: ideias, percursos e parâmetros (2014) e História da gramática no Brasil: séculos XVI a XIX (2022). Foi eleito para ocupar a cadeira n.º 8 da Academia Brasileira de Letras em 27 de abril de 2023. Dentre as comendas recebidas, destacam-se o título de Grande Benemérito do Real Gabinete Português de Leitura (2008), a Medalha do Mérito Filológico da Academia Brasileira de Filologia (2018) e o Prêmio Celso Cunha da União Brasileira de Escritores (2015).
21/08/2023
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