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ABL na mídia - O Globo - Domício Proença Filho une Portinari e documentos jurídicos em livro de poemas sobre a Inconfidência Mineira

 

“Oratório dos Inconfidentes: Faces do verbo” revive a Inconfidência Mineira unindo documento histórico, literatura e arte pictórica. Mais do que um livro de poesia, a obra de Domício Proença Filho é um mosaico de vozes que reflete sobre a construção simbólica da palavra “liberdade” através dos séculos. Os poemas em verso e prosa se entrelaçam com os arquivos jurídicos (os processos judiciais contra os inconfidentes) e os estudos e desenhos de Candido Portinari para o Painel Tiradentes (alocado no Memorial da América Latina, em SP), que ilustram a publicação.

Publicado originalmente em 1989, nas celebrações do bicentenário do movimento republicano, o texto é agora reeditado com novo projeto gráfico pela editora Tinta Negra. Para comemorar o seu relançamento, a Academia Brasileira de Letras promove, nesta quinta-feira (4) às 17h30, uma leitura dramática dos poemas do livro com o ator Lázaro Ramos. A entrada é gratuita e as inscrições podem ser feitas pela plataforma de eventos Even3. Haverá sessão de autógrafos.

— A primeira edição do livro foi modesta e circulou pouco fora de Minas Gerais, mesmo sendo a única obra poética a celebrar o bicentenário da Inconfidência na época — relembra Domício, de 89 anos, que ocupa a cadeira 28 de Imortal da Academia Brasileira de Letras desde 2006. — Teve duas tiragens pequenas que se esgotaram naquele mesmo ano e pouca repercussão na imprensa. Agora, o livro ganhou roupa nova.

“Oratório dos Inconfidentes” se inscreve na tradição da poesia histórica brasileira, que tem entre seus representantes obras como “O auto do frade”, de João Cabral de Melo Neto, ou ainda “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles. Diferentemente dos seus antecessores, porém, o autor divide o texto em diferentes blocos linguísticos. O primeiro traz poemas em verso, que podem ser lidos de forma independente; misturam-se vozes como a de Tiradentes, Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Bárbara Heliodora e anônimos das ruas de Vila Rica (antiga Ouro Preto), palco da revolta. O segundo traz textos em prosa e expõe suas fontes de documentação histórica.

Domício mergulhou nos famosos Autos da Devassa, peça produzida no decorrer do processo judicial pela coroa portuguesa contra Tiradentes e os demais inconfidentes. Ele percorre petições, termos de audiências e certidões, confrontando o duro dialeto jurídico com a linguagem poética. Um dos principais pesquisadores do nosso idioma, o imortal da ABL transcreveu o português do século XVIII, exatamente como a mesma grafia dos autos, sob o título “As palavras da lei”.

— Claro que o documento tem um contexto histórico de insurreição, mas quando li a sentença achei curioso como a estrutura jurídica se mantém coerente hoje — diz Domício, que em 2017 lançou “Muitas línguas, uma língua”, no qual tenta entender como a língua de Camões se transformou no que é hoje. — Achei que seria interessante fazer uma comparação entre uma linguagem literária, que vale pela estética, e a linguagem comum da comunicação, que vale pela coerência dos elementos práticos. A linguagem literária passa na prova da verdade pela coerência dos elementos, enquanto a não literária passa pela referência.

Na origem do livro, contudo, está o encontro com a pintura. Domício começou a escrever os poemas inspirado no Painel Tiradentes, produzido por Portinari em 1948. Já o acréscimo da contextualização histórica, à maneira de Ezra Pound, foi sugestão do amigo Rubem Fonseca (1925-2020), um aficionado por poesia. Quando viu o livro na gráfica, o filho de Portinari, João Cândido, cedeu os direitos dos esboços do pintor e disse que Domício “escolhesse o que quisesse” para acompanhar o texto.

— Essa integração de várias modalidades do discurso me levou ao subtítulo: “Faces do verbo” — diz Domício. — Meu desejo era criar uma relação interdisciplinar de vários aspectos da cultura. O livro se faz História, se faz língua, e essas várias faces compuseram o mosaico.

Passadas mais de três décadas da primeira edição, o relançamento de “Oratório dos Inconfidentes” acontece em outro momento histórico. Prestes a completar 90 anos, Domício brinca: “nunca achei que viveria para ver tantas mudanças de papa”.

— Vivemos uma mudança de paradigma existencial, uma transição que ninguém sabe para onde vai — diz Domício. — Tenho essa noção que o processo cultural vai se modificando e a literatura acompanha. O leitor vai encontrar no poema a sua própria medida, mas o fundo é a exaltação do ser humano e da liberdade de escolha. Meus amigos dizem que o livro é um cântico dos cânticos da liberdade. E a liberdade permanece atual em qualquer tempo.

Serviço

Título: ‘Oratório dos inconfidentes: Faces do verbo’. Autor: Domício Proença Filho. Editora: Tinta Negra. Páginas: 120. Preço: R$ 89.

Matéria na íntegra: https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2025/09/02/domicio-proenca-filho-une-portinari-e-documentos-juridicos-em-livro-de-poemas-sobre-a-inconfidencia-mineira.ghtml

02/09/2025