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100 anos de Raymundo Faoro: as marcas do passado na política e na sociedade brasileira

 

A ABL dá início à programação de maio do “Quinta é Cultura” com uma homenagem aos 100 anos do jurista Raymundo Faoro.

A entrada é gratuita e as inscrições podem ser feitas pelo link: https://www.even3.com.br/100-anos-de-raymundo-faoro-522344

Na próxima quinta-feira, 8 de maio, às 17h30, a Acadêmica, historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, o Acadêmico Joaquim Falcão e o doutor em antropologia da UFRJ Paulo Augusto Franco abordarão a obra de Faoro a partir de seu livro “Os donos do poder”, destacando seu papel como historiador e sociólogo.

Segundo Lilia Schwarcz, serão sublinhados os conceitos de intervencionismo e patrimonialismo na obra deste pensador, mostrando de que maneira Faoro vai ao passado para pensar no presente e como, diacronicamente, o contexto do autor ilumina o nosso presente.

Outro aspecto presente na obra de Faoro a ser explorado é que ele sempre indicou como os processos de escravização, de concentração de terras nas mãos de poucos proprietários e o lustro dos cargos públicos provocaram muita desigualdade e atraso econômico e social.

Paulo Augusto Franco abordará a formação do escritor e intelectual compreendida nos anos 1940, período em que o jovem Raymundo, entre os seus 16 e 23 anos de idade, habitou a cidade de Porto Alegre, na sua maior parte, como estudante de Direito.

Por meio da análise dos seus diários pessoais, um arquivo inédito, fará um experimento de interpretação antropológica no presente sobre os experimentos de escrita de Faoro no passado.

“Demonstrarei os fatos e significados que teriam, de acordo com as visões do autor, propiciado o seu “nascimento” como intelectual, marco, até então, ausente no conhecimento de sua biografia.”

A conferência tem a coordenação do Acadêmico Arno Wehling e será transmitida ao vivo pelo canal da ABL no YouTube.

No próximo episódio do “Quinta é Cultura”, o Professor Titular de Sociologia da UFRJ André Botelho, fará a palestra sobre "Minas Mundo: O Memorialismo Modernista Mineiro", marcada para a próxima quinta-feira (15), às 17h30.

Raymundo Faoro

Foi o quinto ocupante da Cadeira 6 da ABL, eleito em 23 de novembro de 2000, na sucessão de Barbosa Lima.

Raymundo Faoro nasceu em Vacaria, (RS), em 27 de abril de 1925, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ) em 15 de maio de 2003.

Filho de agricultores, depois de 1930 sua família mudou-se Caçador (SC), onde fez o curso secundário. Formou-se em Direito, em 1948, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Transferiu-se, em 1951, para o Rio de Janeiro, onde advogou e fez concurso para a Procuradoria do Estado, de onde se aposentou.

Colaborou na imprensa desde o tempo de estudante universitário. Cofundador da revista Quixote, em 1947, escreveu para diversos jornais do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Além de jurista, foi um dos mais importantes cientistas sociais brasileiros, autor de ensaios de direito e ciências humanas. Referência obrigatória na teoria política do Brasil contemporâneo, Faoro conquistou o respeito dos intelectuais do país através de suas análises do Estado, que contribuíram para o desenvolvimento da literatura crítica nacional.

Seus leitores mais atentos lhe atribuíram dons proféticos. Em “Os donos do poder”, publicado em 1958, analisou a formação do patronato brasileiro e buscou as raízes de uma sociedade na qual o poder público é exercido, e usado, como se fosse privado. É um teorema que Faoro demonstrou percorrendo a história luso-brasileira dos seus primórdios até Getúlio Vargas e antecipando os rumos seguintes. Em enquete feita pela revista Veja com os principais intelectuais brasileiros, este ensaio foi incluído entre os vinte livros mais importantes já publicados por autores brasileiros.

No ensaio “A pirâmide e o trapézio”, publicado primeiramente em 1974 (mesmo ano da reedição revista e ampliada de Os donos do poder), Faoro interpretou com mestria e originalidade a obra de Machado de Assis, na qual se encontra a dissecação da sociedade da capital do país no final do século XIX. Ao escrever seu ensaio, levou em conta os estudos machadianos até o início dos anos de 1970, dialogando especialmente com Augusto Meyer, Eugênio Gomes, Astrogildo Pereira, Raimundo Magalhães Jr. e também Sílvio Romero.

Este vasto estudo sobre Machado de Assis pode ser visto como uma continuidade e um complemento do ensaio anterior. Seu grande objeto de estudo era ainda o Brasil, pois pretendia captar, através da vida que Machado de Assis infundiu em seus personagens, o país, o funcionamento concreto e cotidiano da ação dos donos do poder e seus agregados, a presença dos valores e da ideologia, os vícios e as virtudes, a constrição das instituições (família, Estado, igreja), os preconceitos, o amplo e variadíssimo jogo da vida social e individual.

Foi presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, de 1977 a 1979. Lutou pelo fim dos Atos Institucionais e ajudou a consolidar o processo de abertura democrática na década de 1970. Com ele, a sede da OAB, no Rio, transformou-se num front de resistência pacífica contra o regime militar. Partiu de lá a primeira grande denúncia circunstanciada contra a tortura de presos políticos. No governo João Figueiredo, lutou pela anistia ampla, geral e irrestrita. Com a anistia e a retomada das liberdades políticas, a casa de Faoro nas Laranjeiras tornou-se lugar de encontro de políticos.

Desde o momento em que deixou a OAB, foi colaborador permanente da revista Senhor (segunda fase), inspirador e parceiro na revista IstoÉ e no Jornal da República, das quais foi presidente. Colaborou também na revista Carta Capital.

Recebeu o Prêmio José Veríssimo, da Academia Brasileira de letras (1959); Prêmio Moinho Santista - Ciências Sociais -1978 (foi o terceiro premiado, depois de Fernando de Azevedo e Gilberto Freire), assim como a Medalha Teixeira de Freitas, do Instituto dos Advogados do Brasil.

Sobre Lilia Schwarcz

Lilia Katri Moritz Schwarcz é historiadora, antropóloga, curadora, professora titular e sênior do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP) e global scholar/visiting professor da Universidade de Princeton (desde 2009). É autora de mais de 30 livros e catálogos de arte, publicados no Brasil e no exterior, como: O espetáculo das raças (1997), As barbas do imperador (1998), Brasil: uma biografia (2009), Lima Barreto triste visionário (2018), Enciclopédia Negra (2021), Imagens da branquitude (2024), tendo recebido 8 prêmios Jabuti.

Foi curadora para histórias do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) de 2015 a 2023, e curou mais de 20 exposições no Brasil e no exterior: incluindo Histórias Afro-Atlânticas e Brasil futuro: as formas da democracia (Brasília, Belém, Salvador, Rio de Janeiro). Foi Professora Visitante nas Universidades de Oxford, Leiden, Ècole des Hautes Études, Brown, Frei Universitat e Tinker Professor na Columbia University. É professora emérita da Universidade de Buenos Aires (2024) e membra da Academia Brasileira de Letras desde 2024.

Sobre Joaquim Falcão

Joaquim Falcão é professor de Direito Constitucional. Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Membro da Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABD -Const). Sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).

Sobre Paulo Augusto Franco

Paulo Augusto Franco de Alcântara é doutor em Antropologia (UFRJ) e pesquisador colaborador no Departamento de Antropologia da USP.

Atualmente é professor da ESPM/SP. Em suas pesquisas e publicações mais recentes, Alcântara tem abordado os seguintes temas: memória, biografias, arquivos em perspectiva crítica (texto e imagem) e pensamento social brasileiro. Paulo Augusto é autor de artigos acadêmicos e livros, entre outros: "Raymundo Faoro. A República em Transição (co-autor com Joaquim Falcão", "A invenção do mercado".

30/04/2025