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sindemia

Classe gramatical: 
s.f.
Palavras relacionadas: 

sindêmico adj. (contexto sindêmico, situação sindêmica)

Definição: 

Conjuntura em que os problemas socioeconômicos, sanitários e ambientais de uma determinada localidade propiciam a ocorrência de duas ou mais epidemias simultâneas (por exemplo, dengue e covid-19), com maior gravidade e impacto negativo sobre a população.

[Do inglês syndemic, de syn(ergistic) ‘sinérgico’ + (epi)demic ‘epidemia’. Termo criado na década de 1990 pelo antropólogo americano Merrill Singer.]

Exemplos de uso: 

“COVID-19 não é uma pandemia, é uma sindemia. A afirmação feita por Richard Horton1 chamou a atenção da comunidade internacional para o manejo restrito utilizado por governos, acadêmicos e sociedade no enfrentamento da pandemia. O autor destaca que a doença resultante da infecção pelo SARS-CoV-2 não pode ser compreendida nos mesmos moldes das emergências de saúde pública que acometeram anteriormente a população mundial.”[1]

Sindemias são caracterizadas pela interação entre duas ou mais doenças de natureza epidêmica com efeitos ampliados sobre o nível de saúde das populações2,3. Ainda de acordo com a teoria, os contextos social, econômico e ambiental, que determinam as condições de vida das populações, potencializam a interação entre as doenças coexistentes e a carga excessiva das consequências resultantes. Assim, as doenças se agrupam desproporcionalmente afetadas pela pobreza, exclusão social, estigmatização, violência estrutural, problemas ambientais, dentre outros4.”[2]

“[Enrique Falceto de] Barros explica o conceito de ‘sindemia’, por meio de exemplos de pacientes obesos que foram vítimas da covid-19. Sindemia, uma junção das palavras ‘pandemia’ e ‘sinergia’, representa uma soma de vetores que interagem entre si em um processo de retroalimentação. Dessa forma, ele explica que não apenas a covid-19 pode ser considerada uma sindemia, mas também todas as comorbidades que servem como doenças de base para pacientes afetados por ela. Barros menciona os estudos do professor Paulo Saldiva, do IEA-USP, sobre como as declarações de óbito são preenchidas sem que, na causa da morte, sejam explicitados todos os fatores associados e as comorbidades decorrentes das sindemias atuais concomitantes, como obesidade, hipertensão arterial decorrente das mudanças climáticas, entre outras.”[3]

“Há exatamente um ano – na primeira semana de 2021 –, constituía-se a Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis. O intuito da iniciativa era – é ainda – avançar para além de debates setoriais, considerando os impactos negativos do atual sistema alimentar predominante no Brasil e a perspectiva da Sindemia Global de obesidade, desnutrição e mudanças climáticas. A saber: sindemia é a ação conjunta de duas ou mais doenças ou problemas socioeconômicos que geram uma piora generalizada da situação de uma população.”[4]

“Daí é que surge o conceito de sindemia, onde alguns fatores isolados se somam a outros fatores pré-existentes exacerbando sobremaneira o efeito de cada doença/problema em separado. Para tratar sindemias de forma efetiva, apenas soluções múltiplas e integradas.”[5]

“Richard Horton, editor da revista Lancet, afirma que a pandemia da covid-19 não é apenas uma pandemia, mas várias juntas, chamada de sindemia. Embora as doenças cardiovasculares e idade sejam os principais fatores de risco associados ao agravamento do quadro e morte por covid-19, outros fatores, como socioeconômicos, afetam como as populações sobrevivem à crise sanitária do coronavírus. ‘A natureza sindêmica da ameaça que enfrentamos exige não apenas tratar cada aflição mas também abordar urgentemente as desigualdades sociais subjacentes que as afetam, ou seja, a pobreza, a moradia, a educação e a raça, que são fatores determinantes poderosos da saúde.’”[6]

“Recentemente, os cientistas passaram a classificar a covid-19 como uma sindemia e não mais como uma pandemia. Sindemia é um termo criado em 1990 pelo antropólogo norte-americano Merrill Singer, a partir da combinação das palavras sinergia e pandemia, para explicar que determinada doença pode causar danos muito mais extensos, dependendo das condições de saúde e socioambientais da pessoa infectada. Na ocasião, ele estudava os impactos do consumo de drogas na população e percebeu que seus efeitos, aliados a outras doenças preexistentes ou condições socioambientais precárias, causavam danos muito mais graves. Ou seja, sindemia se caracteriza por provocar danos mais extensos do que a simples combinação de uma ou mais doenças.”[7]

“Por um lado, diz [Richard] Horton, existe o Sars-CoV-2 (o vírus que causa a doença covid-19) e, por outro, uma série de doenças não transmissíveis. E esses dois elementos interagem em um contexto social e ambiental caracterizado por profunda desigualdade social. Essas condições, argumenta Horton, exacerbam o impacto dessas doenças e, portanto, devemos considerar a covid-19 não como uma pandemia, mas como uma sindemia. Não é uma simples mudança de terminologia: entender a crise de saúde que vivemos a partir de um quadro conceitual mais amplo abre caminho para encontrar soluções mais adequadas.”[8]

Referências: 

SINDEMIA. In: ISTITUTO TRECCANI. Vocabolario Treccani.  Disponível em: https://www.treccani.it/vocabolario/sindemia_(Neologismi). Acesso em: 21 mar. 2023.

SYNDEMIC. In: DICTIONARY.COM. Disponível em: https://www.dictionary.com/browse/syndemic. Acesso em: 21 mar. 2023.

 

[1] BISPO JÚNIOR, José Patrício; SANTOS, Djanilson Barbosa dos. COVID-19 como sindemia: modelo teórico e fundamentos para a abordagem abrangente em saúde. Fundação Oswaldo Cruz, Cadernos de Saúde Pública, 37(10), 2021. Disponível em: http://cadernos.ensp.fiocruz.br/static/arquivo/1678-4464-csp-37-10-e0011.... Acesso em: 16 mar. 2023.

[2] Idem, ibidem.

[3] SIMONI, Renata. “Não há vacina para as mudanças climáticas”. Saúde Planetária, s.d. Instituto de Estudos Avançados – Universidade de São Paulo (USP). Disponível em: http://saudeplanetaria.iea.usp.br/pt/nao-ha-vacina-para-as-mudancas-clim.... Acesso em: 27 mar. 2023.

[4] BORTOLETTO, Ana Paula; CAMPELLO, Tereza; JAIME, Patrícia. A sindemia global na perspectiva brasileira. Nexo, 1 abr. 2022. Políticas Públicas. Disponível em: https://pp.nexojornal.com.br/opiniao/2022/A-sindemia-global-na-perspecti.... Acesso em: 16 mar. 2023.

[5] FOGUEL, Débora. A covid-19 deve ser enfrentada como uma sindemia! O Globo, 25 jan. 2021. Ciência e Matemática. Blogs. Disponível em: https://blogs.oglobo.globo.com/ciencia-matematica/post/covid-19-deve-ser.... Acesso em: 16 mar. 2023.

[6] BOTTALLO, Ana. Combinação de covid-19 e doenças crônicas cria ‘sindemia global’, sugere estudo. Folha de S.Paulo, 15 out 2020. Saúde. Coronavírus. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/10/combinacao-de-cov.... Acesso em: 16 mar. 2023.

[7] REDAÇÃO. O papel do Estado frente à sindemia. Estadão, 29 out. 2020. Blog do Fausto Macedo. Disponível em: https://www.estadao.com.br/politica/blog-do-fausto-macedo/o-papel-do-est.... Acesso em: 27 mar. 2023.

[8] CEE FIOCRUZ. ‘Covid-19 não é pandemia, mas sindemia’: o que essa perspectiva científica muda no tratamento. Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho, 14 out. 2020. Notícias. Disponível em: https://cee.fiocruz.br/?q=node/1264. Acesso em: 28 mar. 2023.

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