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Os Políticos

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As comemorações do primeiro centenário da Academia Brasileira de Letras são excelente oportunidade para que, lembrando-lhe um pouco a história, o Brasil possa conhecer toda a riqueza do patrimônio cultural, cívico e moral em que ela se constituiu, e que não encontrará paralelo em nenhuma outra instituição, aqui ou alhures. Em todas as áreas da vida nacional, e não apenas no conhecimento ou no campo literário, avulta sua riqueza, ostentando os mais ilustres nomes da vida do país, com os serviços mais relevantes à terra e à gente.

Por isso, a feliz iniciativa de relembrar aqui aqueles que, nas várias áreas do pensamento ou da ação, dela participaram, serve ao Brasil, como ocasião ímpar de recordar-lhes o trabalho, o esforço, o desvelo, aos quais devemos nossa grandeza, nosso passado, nosso presente e os rumos do nosso futuro.

Não haveria de ser diferente na nobre arte da política, compreendida como a arte do bem comum, conceito amplo que prevalece desde Aristóteles, “ciência e arte do Governo”, até os mais pragmáticos, que nela vêem o uso dos instrumentos e meios disponíveis para atingir o poder e, aqui, convocando a participação do sentido ético, para restringir esse uso aos meios bons, lícitos e justos. Se o fim da política é o poder, e se a este é autorizado o uso de todos os meios, inclusive a força, há que impor-lhes um fim ético: o da busca do bem da sociedade como um todo, da ordem, do bem comum, da justiça e da paz.

Mas deixemos essas elucubrações para outra oportunidade e busquemos, na lista venerável dos fundadores e ocupantes das quarenta Cadeiras da Academia, em todos os tempos, os que mais marcadamente tiveram, entre nós, a oportunidade de exercer a atividade política e não apenas cultivar o conhecimento da ciência política.

Natural que homens do pensamento, que move a ação e a orienta, exerçam todos atividade política no mais alto sentido, começando na política das boas letras, sem descurar da política do bem comum, que a todos interessa. Na verdade, todos os acadêmicos, de uma ou de outra forma, participam ou participaram da ação política, convocados pelo anseio de bem servir ao país; e quem fala sobre políticos na ABL erraria menos citando todos os acadêmicos, do que numerando os que lhe parecessem políticos pela atividade desenvolvida.

Rachel de Queiroz – há alguém mais político do que Rachel de Queiroz? – como lembra Murilo Melo Filho, que no seu excelente testemunho político disse bem, como sempre, que “a tentação da política é muito forte para os literatos”. Por isso mesmo, na Academia, encontramos os expoentes de todos os movimentos políticos no Brasil moderno, desde a República e até antes dela, como quando deparamos com a presença de defensores intransigentes do Império, como Carlos de Laet, e ardorosos republicanos, como Rui Barbosa; partidários de Washington Luís, como Octavio Mangabeira, e revolucionários de 1930, como João Neves da Fontoura; legalistas de 1932, como Alcântara Machado; e adversários como Getúlio Vargas; em 1964, Hermes Lima e Luís Viana Filho, e mais recentemente Darcy Ribeiro e Lyra Tavares; e até pessedistas como Geraldo França de Lima, que nos honra com a sua presença, e udenistas como Oscar Dias Corrêa, sem que as divergências partidárias magoem a convivência acadêmica.

Daí a dificuldade acrescida deste levantamento sumário e a necessidade de fixar um critério, ainda que não rígido. Foi o que fizemos, indicando, de preferência, aqueles que exerceram mandato eletivo, recebendo a sagração das urnas, ainda que, de passagem, nos refiramos aos que exerceram outras atividades, igualmente políticas, da mesma altitude, como a política internacional e cargos de relevo da administração pública.

Uma exceção aparentemente estranha abrimos, porque obrigatória, sobretudo neste primeiro centenário da Academia, para Machado de Assis. Dir-se-á que ele não se submeteu ao veredito popular, não foi deputado, nem exerceu cargo substancialmente político; e talvez se afirme que ele não se envolveu em política, e até que, tendo “tédio à controvérsia”, não se imiscuiria nessas disputas.

Quem diz o contrário, porém, é Magalhães Júnior, no seu Machado de Assis desconhecido (Civilização Brasileira, p. 73 e segs.), ao tratar de Machado de Assis e a política. O capítulo comprova-lhe a veia política e afirma que Machado chegou a ser cogitado para deputado pelo Partido Liberal, por indicação de Saldanha Marinho, então presidente da província de Minas, nossa província de Minas. Candidato, precisamente, honramo-nos em dizê-lo, pelo Segundo Distrito de Minas, para a legislatura 1867/1868, com o apoio do presidente da província, a quem ajudava no Diário do Rio de Janeiro, conforme notícia de A Opinião Liberal, de 12 de maio de 1866.

Aguardo que o Tribunal Superior Eleitoral me confirme se Machado chegou a ser incluído na lista dos candidatos. Fiz uma consulta que ainda não obteve resposta. Parece, contudo, que Machado de Assis não se candidatou, mas, nem por isso, a preocupação política o abandonou, e em personagens, em inúmeras passagens, surge o deputado eleito, ou simplesmente candidato, ou meramente aspirante, ou imaginário, o que Magalhães Júnior sumaria no artigo, e aqui, infelizmente, não há como repetir.

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Voltando ao tema, mesmo aos lembrados, não nos cabe senão brevíssimas menção da obra literária realizada. Além disso, obedecemos à ordem numérica das Cadeiras, para não valorizar, segundo o nosso próprio critério, os nomes a tratar, na preferência em que os enumeraríamos. Comecemos, obviamente, pelos acadêmicos que foram presidentes da República, e dois deles surgem: Getúlio Vargas e José Sarney; tendo exercido o mais alto cargo da República, hão de ter encarnado a política no sentido mais pragmático e amplo da condução da coisa pública, arcando com as responsabilidades na direção dos nossos destinos.

Getúlio Vargas (Cadeira 37), chegou à Academia como o todo-poderoso chefe de Estado e do Governo em 1941, quando fez a transição da democracia para o autoritarismo, no ciclo 37/45. Credita-se-lhe como obra A nova política do Brasil, reunião de pronunciamentos, em onze volumes. Assis Chateaubriand, no memorável discurso de sucessão nesta Casa, pintando-lhe com a força de sua estranha adjetivação, a figura, refere-se ao seu estilo, dizendo: “Tinha uma prosa castigada, corrigia o que ditava ou que redigia, mais de uma vez. De sangue ibérico, fugia, entretanto, a toda forma de gongorismo, de linguagem derramada. Era preciso, elegante, e sobretudo, proporcionado. Seu estilo de escritor se apresentava o oposto daquele dos homens públicos gaúchos da sua geração. Era usurário de adjetivos, sabia podar a crespa vegetação de nossa oratória.” (Discursos Acadêmicos, vol. XIV, p. 99)

José Sarney (Cadeira 38), foi presidente da República em difícil período de transição, do autoritarismo para a democracia, atuando sempre com tolerância e compreensão democrática. Figura com relevo no conto, com  Norte das águas; na poesia, com Marimbondos de fogo; e no romance, com O dono do mar, recentemente publicado, em que o estilo do autor chega à maturidade da forma encontrando na crítica dos doutos a melhor acolhida. Dele diz Ferreira Gullar: “Romance poético nascido de uma experiência de vida. Há ali a vivência do mar e da pesca, mas tudo serve apenas de apoio e contraponto à fabulação do ficcionista, do poeta, que nos arrasta para dentro de um mundo feérico, habitado de monstros e fantasmas, tendo nascido dos abismos do mar e da alma humana. A mistura da realidade e do sonho, da paixão e do mito, da fantasia e da história, dá o tom específico do livro.”

Deixados os presidentes da República, buscamos como expressão política os ministros de Estado que, demais disso, tenham tido mandato parlamentar, e aqui a messe se multiplica de forma inacreditável, combinando a Academia e a política brasileira, numa simbiose inconsútil. E logo se lembre Rui Barbosa (Cadeira 10) (1849-1923), que foge aos critérios, figura maior da cultura nacional, que engrandeceu a Política, o Direito e a Literatura, encarnou o civismo e o amor à pátria. Sua atividade incansável na Política e no Direito inicia-se na Câmara dos Deputados, amplia-se na campanha abolicionista, atinge o esplendor na elaboração de Constituição de 1891, que teve nele o seu indiscutível autor, vindo depois as campanhas populares, que fortaleceram, entre nós, o civismo e a democracia; além de ter realizado uma grande obra, que  ainda não se coligiu totalmente, embora ultrapassados em muito os cem volumes.

Figura inigualável, cujo nome marca a história da República e desta Casa, da qual foi presidente, logo após Machado de Assis.

Depois dele, seguindo a ordem das Cadeiras:

João Neves da Fontoura (1897-1963), (Cadeira 2), a quem aprendi a admirar ainda menino, nas disputas parlamentares da Aliança Liberal, e que, depois, ocupou o Ministério das Relações Exteriores. Orador primoroso, memorialista, jornalista, advogado, é o autor de páginas magníficas de nossa eloqüência parlamentar, impondo-se, pelo menos, a lembrança das Memórias.

Aníbal Freire da Fonseca, (1884/1970), (Cadeira 3), deputado estadual e federal, secretário de Estado, consultor-geral da República, ministro da Fazenda, ministro do Supremo Tribunal Federal, professor, autor de obras de História e de uma biografia de Rosa e Silva.

Cândido Motta Filho (1897/1977), (Cadeira 5), jurista, professor de Direito, humanista, ministro da Educação, deputado por São Paulo, ministro do Supremo Tribunal Federal, partícipe da Semana de Arte Moderna de 1922, deixou-nos vasta obra no campo do Direito e das Ciências Sociais, como Introdução ao estudo da política moderna, Alberto Torres e o tema de nossa geração, Rui Barbosa, esse desconhecido (título que, sem saber, copiei em artigo, faz muito tempo), A vida de Eduardo Prado, Ensaio sobre a timidez, entre outras.

Afonso Pena Júnior (1879/1968), (Cadeira 7), deputado federal e ministro da Justiça, menos político do que envolvido por ela em suas tramas, das quais, a custo, se livrou, como da candidatura à Presidência da República, em 1950. Autor dos festejados estudos sobre A Arte de Furtar e o seu autor e sobre a autoria das Cartas chilenas. Guardo dele, além da leitura das obras, uma reminiscência indelével, pessoal: o telegrama felicitando os cem anos do professor Teófilo Ribeiro. Teófilo Ribeiro foi um grande jurista mineiro que, ao fazer cem anos, recebeu de Afonso Pena Júnior um telegrama dizendo: “META MATUSALÉM NO CHINELO.”

Hermes Lima (1902/1978), (Cadeira 7), professor de Direito, jurista, deputado estadual e federal, ministro do Trabalho e Previdência, das Relações Exteriores, da Casa Civil, ministro do Supremo Tribunal Federal, injustiçado pela Revolução de 1964, o que não lhe impediu de realizar, com garbo, “a travessia” da atividade política para a vida literária; autor de obras de mérito notável no campo do Direito, como a Introdução à Ciência do Direito, na qual todos iniciamos o nosso aprendizado, Problemas de nosso tempo, Tobias Barreto – a época e o homem, Travessia e a biografia crítica de Anísio Teixeira – estadista da educação.

João Luís Alves (1870/1921), (Cadeira 11), professor de Direito, jurista, autor de um dos mais precisos e concisos comentários de nosso Código Civil, ministro do Supremo Tribunal Federal, ministro da Justiça, que teve o privilégio de, nessa condição, receber do Governo da França a doação do Petit Trianon, em nome do Governo brasileiro. Quem recebeu a doação do prédio da Academia, em nome do Governo brasileiro, em face do Governo francês, foi João Luís Alves.

Veio integrar esta Casa em sucessão a outra figura admirável, Pedro Lessa, que a honrou com seu talento e sua cultura, bem como ao Supremo Tribunal Federal, que o teve entre os seus integrantes mais notáveis, sucessão que envolveu também Eduardo Ramos, falecido antes de se empossar.

João Luís Alves exerceu todos os altos cargos da República, desde chefe do Executivo Municipal, em Campanha, Minas Gerais, deputado estadual, federal, secretário das Finanças e senador pelo Espírito Santo.

Darcy Ribeiro (1922/1997), (Cadeira 11), antropólogo, político e literato, preocupado com a busca da identidade nacional, deixou-nos, além da obra científica, os romances que o trouxeram a esta Casa: Maíra, O mulo, Migo, e sonhou realizar obra educacional que equacionasse os nossos problemas civilizatórios.

José Carlos Macedo Soares  (1883/1968), (Cadeira 12), político, deputado, constituinte, professor, diplomata, ministro da Justiça, das Relações Exteriores, interventor em São Paulo, aqui pontificou, tendo publicado inumeráveis ensaios sobre matérias várias, além de discursos e conferências.

Abgar Renault (1903/1996), (Cadeira 12), de quem amargamos ainda a saudade da partida, prosador exímio, poeta de inigualável estro, tradutor escorreito, deputado em Minas Gerais, ministro da Educação e Cultura. Permanece entre nós pelo grande patrimônio de sua obra literária, valendo salientar: Sonetos antigos, Sofotulafai, A outra face da lua, Poemas (Coletânea), além das admiráveis traduções, em especial a poesia de Rabindranath Tagore.

Pedro Calmon (1902/1985), (Cadeira 10), professor e historiador de largo fôlego, deputado estadual e federal, ministro da Educação, orador elegante e culto, expositor claro, fluente e completo, com sua obra de História: História da Independência do Brasil, O Rei cavaleiro, A vida de Dom Pedro I, O Rei filósofo, A vida de Dom Pedro II, O Rei do Brasil, A vida de Dom João VI, História de Castro Alves, História do Brasil, História social do Brasil, etc.

Félix Pacheco (1879/1937), (Cadeira 16), deputado, senador, ministro de Estado, poeta e jornalista, com Via-Crucis, Luar de amor, etc.

Luís Viana Filho (1908/1990), (Cadeira 22), político que ocupou os mais altos cargos. Deputado federal, com quem tive o privilégio de conviver, fraternamente. Senador e presidente do Senado Federal, governador da Bahia. Nesta Casa, o historiador e o notável grande biógrafo de grandes vultos como Rui, Nabuco, Barão do Rio Branco, Machado de Assis, José de Alencar, Eça de Queiroz, além dos estudos históricos em que se exceleu, como O Governo Castelo Branco.

Lafayette Rodrigues Pereira (1834/1917), (Cadeira 23), jurista eminente, escritor notável, eleito para esta Casa na vaga de Machado de Assis, a quem defendera das críticas do Sílvio Romero no Vindicta. Conselheiro e senador do Império, chefe de Gabinete, autor de obras jurídicas, ainda hoje atuais, como O Direito das Coisas, Direito da Família, Direito Internacional Público, escritor de estilo nobre, polemista temido, sarcástico e ferino.

Octavio Mangabeira (1886/1960), (Cadeira 23), político respeitado e digno, orador poderoso pela dialética e pela precisão vocabular, parlamentar de inigualáveis virtudes. Ministro das Relações Exteriores, que a Revolução de 1930 mandou ao exílio, e que voltou triunfante, com a redemocratização de 1945. Governador da Bahia, autor de notáveis discursos e conferências.

Barão de Loreto (Franklin Dória), (1836/1906), (Cadeira 25), crítico, orador, professor, presidente do Maranhão, do Piauí e de Pernambuco, vereador, ministro de Estado, poeta de Lirismo popular e campesino, como disse Sílvio Romero, com Enlevos, Cântico comemorativo da Guerra do Paraguai, etc.

Afonso Arinos de Melo Franco (1905/1990), (Cadeira 25), digno representante da melhor estirpe dos políticos mineiros, deputado, senador, ministro de Estado das Relações Exteriores, escritor que se notabilizou nas letras jurídicas, na memorialística e no ensaio, honrando esta Casa com um conjunto de obras admiráveis, valendo lembrar: Introdução à realidade brasileira, Conceito de civilização brasileira, Estadista da República, A alma do tempo, A escalada, Planalto, Alto-mar mar alto, Amor a Roma, etc.

Lauro Müller (1863/1926), (Cadeira 34), deputado, governador, ministro da Viação e Obras Públicas, das Relações Exteriores, orador e expositor, autor de Os ideais republicanos.

É cansativo, mas mostra como os políticos tomaram conta desta Academia e continuam tomando e alguns acadêmicos até à Presidência da República já chegaram.

Maurício Medeiros (1885/1996), (Cadeira 38), deputado estadual e federal pelo Rio de Janeiro, ministro da Saúde, novelista, jornalista, professor, salientando-se em sua obra: Peço a palavra, Segredo conjugal (novela), Idéias, homens e fatos, Pensamento de Mendeiros e Albuquerque, Joaquim Nabuco, etc.

José Américo de Almeida (1887/1980), (Cadeira 38), secretário do Governo da Paraíba com João Pessoa, senador, realizou na política obra que se malogrou no intento maior da Presidência da República, mas foi ministro da Viação de Getúlio Vargas no Governo provisório e, depois, no Governo constitucional. Deixou vasta obra de ficção e de estudos brasileiros, devendo citar-se: Reflexões de um cabra (novela), A Paraíba e seus problemas, Boqueirão, A bagaceira, Coiteiros, Ocaso de sangue e as memórias Antes que eu me esqueça.

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Se passarmos agora aos que, no Parlamento, em outros cargos de alto relevo, exerceram atividade política mais ou menos intensa, o número avulta ainda mais, havendo apenas lugar para enunciar-lhes o nome. Lembremos:

Mário Palmério (1916/1996), (Cadeira 2), fraterno adversário político na Câmara Federal e magnífico autor de Vila dos confins e Chapadão do bugre, espelhando a nossa realidade política do interior.

Barbosa Lima Sobrinho (1897), (Cadeira 6), o incansável paladino democrático, emblema desta Casa, com sua atuação na Câmara Federal e no Governo de Pernambuco e, depois, na luta política nacional. Exemplo de maturidade, de obstinação patriótica, com os ensaios de História, Direito e Literatura, que abarcam todas as grandes questões nacionais.

Augusto de Lima (1860/1934), (Cadeira 12), magistrado, professor, jornalista, político, deputado, presidente de Minas, poeta, autor de Contemporâneas, Símbolos e da Coletânea que lhe enfeixa boa parte da poesia.

Gustavo Barroso (1885/1959) (Cadeira 19), deputado federal e secretário da Justiça do Ceará. Com estudos de História, de folclore, contos, romances, biografias, memórias. Larga obra de cento e vinte e oito volumes – só Josué Montello é quem está ameaçando Gustavo Barroso – iniciados com Terra do sol (1912) e Ensaio sociológico sobre o sertão cearense.

Olegário Mariano (1889/1958) (Cadeira 21), deputado constituinte – pouca gente sabe disso – deputado federal, conhecido como o “poeta das cigarras”, de obra largamente consagrada.

Jorge Amado (1912) (Cadeira 23), que exerceu, no cenário político, saliente atuação na redemocratização de 1945, energias que, depois, voltou a concentrar no romance, não sendo de deslembrar os que publicou, desde O país do carnaval, Cacau, Jubiabá, Mar morto, Capitães de areia, Terras do sem fim, Gabriela, cravo e canela, A morte e a morte de Quincas Berro d’Água, Dona Flor e seus dois maridos, Tenda dos milagres, Tereza Batista cansada de guerra, Tocaia grande, na infatigável obra do ficcionista.

Joaquim Nabuco (1849/1910) (Cadeira 27), o grande líder abolicionista, tribuno e escritor de Minha formação, Um estadista do Império e de tantos outros ensaios de excepcional valor, reunidos nas Obras Completas, em quatorze volumes.

Gilberto Amado (1887/1969) (Cadeira 26), deputado federal por Sergipe, depois dedicado à diplomacia. Poeta, romancista, memorialista, professor, político, com ensaios primorosos reunidos em: A chave de Salomão, Grão de areia, Aparências e realidades e outros, além de dois romances: Inocentes e culpados e Os interesses da Companhia.

Levy Carneiro (1882/1971) (Cadeira 27), deputado constituinte, jurista eminente, orador, conferencista, juiz da Corte Internacional da Haia.

Menotti del Picchia (1892/1988) (Cadeira 28), temperamento político ativo e inquieto, que não se acalmou nem com o êxito de Juca Mulato e os poemas modernos, que lhe deram fama e popularidade. Exerceu na Câmara Federal intenso trabalho de análise da situação brasileira, que pouca gente conhece. E a Câmara deveria publicar-lhe as obras parlamentares, o que eu já propus e ainda não foi feito completando  e corrigindo a obra que encetara nos Estudos sobre a democracia, em discursos de profundas observações sobre nossa realidade, e que nos deixou, além dos versos famosos do Juca Mulato, As máscaras, Chuva de pedra, romances consagrados como Salomé, contos, novelas, memórias em A longa viagem, até os estudos sobre A crise da democracia.

Antônio Austregésilo (1870/1960) (Cadeira 30), deputado federal por Pernambuco, médico e professor, ensaísta. Com pendor literário para o simbolismo, escreveu, entre outros livros, Mancha (poesia) e inúmeros ensaios.

Viriato Correia (1884/1964) (Cadeira 32), deputado estadual e federal pelo Maranhão, que nos legou crônicas históricas, contos, romances, teatro e obras de literatura infantil, amplamente difundida.

Dom Aquino Correia (1885/1956) (Cadeira 34), poeta e orador, presidente do Estado de Mato Grosso. Com Odes (dois volumes) Terra natal, A flor de aleluia.

Magalhães Júnior (1907/1981) (Cadeira 34), teatrólogo, contista, cronista, biógrafo, poeta e historiador, com imensa obra em todas essas áreas, vereador à Câmara Municipal do então Distrito Federal, em 1949 e 1954.

Alcântara Machado (1901/1935) (Cadeira 37), contista de mérito, cronista, deputado federal por São Paulo, bastando lembrar: A morte do bandeirante, Brás, Bexiga e Barra Funda e Laranja da China.

Assis Chateaubriand (1892/1968) (Cadeira 37), o jornalista todo-poderoso e, mais, o político atuante, ousado e perspicaz, participando ativamente de todos os grandes movimento políticos nacionais que, nele, tiveram figura de comando. Senhor de inigualável força inspiradora, que dominou por bom tempo a imprensa do país, tendo além disso publicado obras como O conceito de Direito, Alemanha, Terra desumana - tem tido, ultimamente, toda a sua obra republicada.

Candido Mendes (Cadeira 35), deputado federal, o arguto analista e erudito expositor, que alia o poder da exegese à vontade do poder e valoriza a disputa dos cargos públicos com a sua presença, como a Cadeira que honra nesta Casa, com as obras de ensaísta de largo espectro: Nacionalismo e desenvolvimento, (citarei apenas algumas), Memento dos vivos e as recentes análises da democracia: A democracia desperdiçada, Poder e imaginário social.

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E há os que, exercendo a atividade política, não desempenharam mandato eletivo, ainda que os cargos que ocuparam sejam, na verdade, de intensa feição política.

Miguel Reale (1910) (Cadeira 14), jurista, professor, filósofo, poeta das mais nobres vocações humanistas do Brasil contemporâneo, com admirável obra que abrange os debates dos grandes temas atuais. Secretário da Justiça, mais de uma vez, em São Paulo – como um secretário da Justiça poderia não ser político? Fundador do Partido Popular Sindicalista que, mais tarde, serviu de base ao Partido Social Progressista.

Antonio Houaiss (1915) (Cadeira 17), filólogo e dicionarista. Político de idéias, ministro da Cultura, presidente que enobreceu esta Casa, ostentando vasta obra no campo da crítica e dos estudos lingüísticos, além de inúmeros outros ensaios.

Aurélio de Lyra Tavares (1905) (Cadeira 20), que somou à carreira das armas, na qual atingiu os mais altos postos, a condição de escritor elegante e sóbrio. Ministro de Estado (e o cargo de ministro é um cargo político por excelência), em momento político difícil da vida nacional. Vale lembrar de sua obra: O Brasil de minha geração, Aristides Lobo e a República, além de trabalhos ligados à arte militar.

Dantas Barreto (1850/1931) (Cadeira 27), teatrólogo, jornalista, tendo participado da Campanha de Canudos, sobre a qual escreveu Última expedição a Canudos.

Eduardo Portella (1932) (Cadeira 27), crítico seguro e respeitado, ensaísta correto e poderoso, e que, estando no Ministério da Educação, honrou a pasta com o seu tirocínio e trabalho eficiente, tendo dado, até agora, às letras do país, obras como Dimensões I, II e III, e os vários e primorosos estudos de teoria literária e ensaios críticos.

Domício da Gama (1862/1925) (Cadeira 33), contista, jornalista, diplomata, ministro das Relações Exteriores.

Barão do Rio Branco (1845/1912) (Cadeira 34), ministro das Relações Exteriores, integrador do território nacional, em sua conformação geo-política, e que aqui nesta Casa entrou, também, pela atividade que desempenhou, além das ainda consagradas Efemérides brasileiras.

Arnaldo Niskier (1935) (Cadeira 18), que ao lado de viva atividade educacional na cátedra e nas obras didáticas, esplende num temperamento político insopitável na Secretaria da Educação do Estado do Rio de Janeiro, na disputa política, atuou com civismo, motor de intensa atividade. Com vasta obra, sobretudo ligada aos modernos estudos de educação e às tendências reformistas.

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Isto tudo, imaginem, sem falar nos que ainda, pessoalmente, fora da disputa política, participaram dela, mais atuantes do que a maioria dos seus atores, influenciando consideravelmente, tais como:

Austregésilo de Athayde (1898/1995) (Cadeira 8), no editorial ou no artigo diário nos Diários Associados, ditando rumos, definindo posições. Autor de obra notável nessa área, além de Histórias amargas, com os seus contos e ensaios sobre todos os grandes temas universais.

Carlos Castello Branco (1920/1993) (Cadeira 34), jornalista político por excelência, fazendo de sua coluna a bússola política do país, no tempo em que honrou o jornalismo nacional. E nesta Casa, além de ter sido o ficcionista dos Continhos brasileiros, o romancista de Arco de triunfo – o ensaísta de Introdução à Revolução de 1964 e o Militares no poder.

Obviamente, embora a atividade política seja muito mais ampla do que o simples exercício de cargos públicos, era preciso adotar o critério e da submissão ao veredicto do povo, que, em princípio, pareceu-nos o mais importante.

De outra forma, teria de lembrar, por exemplo, os que participaram da formação e da atuação da política internacional do país, e teríamos uma plêiade de notáveis diplomatas, começando com João Guimarães Rosa (Cadeira 2), Sergio Correia da Costa (Cadeira 7), Magalhães de Azeredo (Cadeira 9), Carlos Chagas Filho (Cadeira 9), Hélio Lobo (Cadeira 13), Sergio Paulo Rouanet (Cadeira 13), Álvaro Lins (Cadeira 17), Ribeiro Couto (Cadeira 26), Josué Montello (Cadeira 29), Paulo Carneiro (Cadeira 36), José Guilherme Merquior (Cadeira 36), Graça Aranha (Cadeira 38), João Cabral de Melo Neto.

Por fim, para ser exato, devo citar, sem qualquer constrangimento pessoal, o nome de um parlamentar e político, estudante de Direito e aprendiz das boas letras, que ocupa a Cadeira 28, depois de ter sido deputado estadual, deputado federal, secretário da Educação em Minas Gerais, ministro do Supremo Tribunal Federal e Ministro da Justiça – que é o orador desta tarde – e que, no afã literário, já tentou do romance à poesia, do discurso ao ensaio, freqüentando a cátedra, o pretório e a tribuna do povo. Eu seria insincero e falso, se não me citasse.

Para coroar esta resenha despretensiosa e certamente lacunosa, pois será impossível traçar, em uma palestra, o perfil de tantos que exerceram a atividade política e se integraram a esta Casa, coorte de cidadãos de vida dedicada ao país, devo lembrar os nomes de dois vultos eminentes que – embora não tendo pertencido à Academia como membros efetivos, vivendo muito antes da fundação dela, embora devessem sonhar com ela, como fruto da liberdade que buscavam –, se integraram como patronos, que aqui a dignificam e lhe marcam o destino: Cláudio Manuel da Costa (1729/1789) e Tomás Antônio Gonzaga (1744/1810).

Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga exerceram a atividade política no mais nobre e elevado sentido: o do sacrifício pela liberdade e pela independência da pátria. Por isso lhes tributamos, agora, nesta Casa, como coroamento, nossa homenagem aos patronos das Cadeiras 8 e 37, servindo para demonstrar que o anseio democrático nascente no Brasil inspirou a glória da Academia e honrou o sacrifício pela pátria comum.

Muito obrigado.

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