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Os Jornalistas

Sobre: 

Senhora Presidente, Acadêmica Nélida Piñon; senhor Secretário-geral, Acadêmico Arnaldo Niskier; senhores Acadêmicos; minhas Senhoras e meus Senhores.

De fato, sou um jornalista muito antigo. Para se fazer uma idéia, venho do tempo do componedor. Para falar a linguagem dos economistas, é provável que 90% dos que aqui estão não saibam o que é um componedor. Era um utensílio com várias dimensões, onde os tipógrafos catavam, tipo por tipo, para fazer a frase. Vejam, então, que venho desde esse tempo até o computador. Portanto, sou aquilo que se chama, verdadeiramente, um veterano.

Coube a mim falar do maior número de acadêmicos, porque o que mais houve na Academia, nesses cem anos, foram jornalistas. É provável que não tenha havido acadêmico (salvo raras exceções) que não tenha passado por jornal, ao menos como colaborador. Fiz uma distinção filosófica: separei o jornalista que exerceu, efetivamente, a profissão, daqueles que colaboraram; entre estes, citei apenas alguns nomes.

O estilo jornalístico, aparentemente, superficial, é um dos mais difíceis de serem praticados. Quem é jornalista, o que é diferente de quem escreve artigos de colaboração, ainda que freqüentes, tem de conhecer perfeitamente bem a língua, tem de adotar a forma direta de se comunicar e, sem cair na banalidade, tem de ser rigorosamente claro, nada ambíguo. Tem de ser preciso nos conceitos, tudo com vocabulário acessível aos leitores de todas as classes sociais. O jornalista escreve para leitores de formação diversificada. Daí ter de se dirigir a eles de forma a ser compreendido.

Jornalismo, como todas as demais profissões, é uma vocação. Para responder ao seu apelo, o jornalista deve conhecer bem o idioma. Evidentemente, Machado de Assis é, a esse respeito, também um mestre. Suas crônicas são magistrais como estilo jornalístico. Lendo-as, o jornalista aprende como bem escrever, bem e claramente. Já Rui Barbosa, que foi grande jornalista, tendo usado o jornal como outra tribuna, além da parlamentar, não raro derivava para o preciosismo. Embora a época em que escreveu admirasse esse tipo de jornalismo, não se enquadra ele na boa técnica periodista.

Assis Chateaubriand, grande jornalista, escrevia com elegância. Seus leitores iam do começo ao fim do artigo – nota esta de uma qualidade que destaca os jornalistas dos colaboradores de jornal. Para citar exemplo muito na moda, o dos economistas. São colaboradores de jornal, alguns com notável brilho, sempre focalizando assuntos da maior oportunidade, mas não são jornalistas, não se enquadram na profissão. O estilo jornalístico é, portanto, uma peculiaridade.

Na atual geração de periodistas, vários merecem louvor. Sabem ir direto ao fulcro do assunto que versam, sabem argumentar e o fazem na medida que o rigor das paginações impõe. Com esta introdução, tratarei, segundo o tema que me foi imposto, dos jornalistas acadêmicos, desde a fundação da Academia.

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Tomemos Machado de Assis como ponto de partida. Exerceu a profissão para ganhar a vida, não como simples colaborador de jornais e revistas. Foi regular a sua presença nos órgãos de imprensa, como cronista do cotidiano, da atualidade vivida, que esse é o dever principal do jornalista. Quem lê as crônicas de Machado, grande parte delas reunidas por Josué Montello, em Memórias póstumas de Machado de Assis, tem vivos os fatos de uma época, como as sessões do Congresso Nacional, a guerra de Canudos, os acontecimentos políticos e outros fatos diversos, aos quais o cronista atribuiu importância. O polígrafo Machado de Assis, o romancista, o poeta, o teatrólogo, o memorialista, como o comprovou Josué Montello, o crítico literário, foi, na exata expressão da palavra, admirável jornalista, pois jornalista o que é? É aquele que vê o que outros não vêem, e lhes revela, não raro os surpreendendo. Nas suas crônicas, Machado praticava o estilo jornalístico, isto é despojado de ornatos literários, embora revestido de certa graça na composição da frase, dando ao leitor a informação e a opinião sobre o que via, observava, sabia e, em sua opinião, tinha interesse público. Li, e reli, as crônicas de Machado de Assis, escritas como profissional, de uma época em que o profissionalismo periodístico não tinha as características de hoje, e sempre encontrei nele um colega, que mereceria até mesmo ser o presidente do sindicato da categoria. Foi, pois, Machado de Assis, jornalista no exato sentido da palavra.

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Rui Barbosa, como se sabe, não escreveu uma obra do começo ao fim. O prefácio a O papa e o concílio foi encomendado por Saldanha Marinho, pelo preço ajustado entre ambos de um conto e quinhentos, que Rui não recebeu. Saldanha Marinho, o maçom Ganganellli da Questão Religiosa, simplesmente faltou com a palavra, deixando Rui em grandes dificuldades financeiras, pois correu por sua conta a impressão do volume. Outro volume de circunstância que Rui escreveu foi a Réplica, resposta a Carneiro Ribeiro. No mais sua enormíssima obra, em parte publicada pelo governo federal, é coletânea de discursos parlamentares, de propaganda eleitoral e conferências. Mas a obra considerável de Rui é a de artigos de jornal. Rui foi o maior maître à penser que o Brasil já teve. Ninguém mais admirado, idolatrado ao fanatismo, adorado mesmo, do que o grande baiano. Combateram-no seus detratores, inimigos políticos, próceres dos partidos, mas sua personalidade singular sobressaía no Brasil de sua época solitariamente, como o grande homem, o grande tribuno, embora de voz fanhosa, o assombroso estilista da língua, que não lhe tinha segredos. Como maître à penser Rui doutrinou a elite livresca do Brasil de sua época, o Brasil que, no fim do século XIX, iria acordar sobressaltado com a realidade terrível do abandono de vasta área da população dos sertões, de que o livro de Euclides da Cunha é o testemunho fulgurante.

Liberal típico do século XIX, Rui pregou suas idéias, transformando-as quase como um refrão, e teve a recompensa na exaltação de sua prodigiosa influência sobre seus contemporâneos letrados. Embora tenha ficado distante de parte da realidade de seu tempo – como do Manifesto Comunista, da reação da Igreja manifestada na Rerum Novarum e as encíclicas sociais que se lhe seguiram – Rui, um leitor inveterado dos conflitos de idéias de seu tempo, foi um semideus até morrer.

Esse gigante dos embates, o homem publico que não deixava crítica sem resposta, como, por exemplo, a que reuniu no livro A esfola da calúnia, esse formidável dialeta fez do jornal uma tribuna por excelência de suas idéias e também de suas contradições. Embora tenha afirmado, no seu pomposo estilo, que republicano era do dia seguinte, quem lê os volumes de A queda do Império vê-se diante de um jornalista apaixonado, que distorceu a verdade para afirmar sua posição. Quando, em 1920, escreveu a conferência, não proferida, “A imprensa e a paixão da verdade”, defendeu, como era de seu dever, a obediência a esse cânone do jornalista, o respeito à verdade.

 Mas foi o que lhe faltou na mocidade, quando, liberal que era, combateu o único, rigorosamente, o único período liberal da História do Brasil, da fundação do Império aos nossos dias. Como jornalista, escreveu para vários jornais, regularmente, não, portanto, na condição de colaborador eventual. Foi jornalista. Deixando-nos ficar em A queda do Império temos um argumentador sofista, que sempre quis ter razão. Foi, no entanto, uma das forças que concorreram para derrubar o trono bragantino e instaurar a República, essa República que condenaria com palavras lapidares na última edição, antes de sua morte, da fatídica coletânea de artigos.

 Rui foi, portanto, dos maiores jornalistas do Brasil. Chega a quase uma centena de volumes a coletânea de seus artigos, versando os mais variados assuntos, próprios do jornalismo profissional.

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José do Patrocínio viveu do jornal para o jornal. Lançou-se a campanhas memoráveis, como a da abolição. Todo o seu renome literário, o renome que lhe garantiu o ingresso na Academia, decorreu de seu exercício da profissão de jornalista.

O notável ‘Zé do Pato’ era somente jornalista e, a rigor, não quis ser senão jornalista. José do Patrocínio não foi um grande escritor, nem mesmo um escritor de méritos que o tivessem destacado dentre os contemporâneos, mas foi um combativo jornalista, que soube usar o estilo jornalístico com notável domínio dele. Evidentemente, os estilos mudam com as épocas, mas quando, ainda hoje, lemos José do Patrocínio, nos artigos de jornal, vemos que sua época não poderia deixar de aceitar sua vigorosa argumentação de todos os temas que focalizava.

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Euclides da Cunha mudou-se do Rio para São Paulo, a fim de exercer função pública, como engenheiro, mas entrou para a redação do O Estado de S. Paulo, convidado por Júlio Mesquita, o patriarca de quatro gerações de jornalistas, que mantém o grande e influente jornal em circulação, com o mesmo inalterado prestígio. Quando foi anunciada a guerra de Canudos – e aqui não entramos na polêmica da designação dada oficialmente ao ajuntamento de jagunços e beatos, sob a liderança de Antônio Conselheiro – Júlio Mesquita enviou para o teatro das operações o jovem Euclides da Cunha. Sua correspondência para o grande órgão, as anotações que fez e a obra que completou em São José do Rio Pardo resultaram num dos livros maiores da literatura brasileira. Publicado o capítulo “A luta” no órgão paulista, Euclides teve reconhecida a condição de jornalista, motivo por que figura o autor maior das nossas letras entre os periodistas acadêmicos.

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Alcindo Guanabara, o ateu, a quem se atribui a boutade se deveria escrever um artigo “a favor ou contra Cristo”, ilustrando com essa frase o jornalista profissional, capaz de escrever o avesso e o direito das idéias, foi outro grande jornalista de seu tempo. Destacou-o em seu discurso de posse na Academia o arcebispo de Mariana, Dom Silvério Gomes Pimenta, e foi ácido na resposta o polemista Carlos de Laet. Exerceu o jornalismo no Rio de Janeiro a vida toda, destacando-se como intrépido debatedor de idéias. Seu ateísmo não afetou em nada a opinião de milhares de pessoas, mesmo porque ele não o expunha com freqüência, para não provocar o clero, todo poderoso, nem os fiéis que garantiam, pela assiduidade, a literatura dos jornais.

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Joaquim Osório Duque-Estrada foi redator do Correio da Manhã, mas não se firmou na profissão. Nem mesmo Coelho Neto, ao recebê-lo na Academia, fez alusão ao jornalismo. Celebrizou-se como autor da letra do Hino Nacional brasileiro.

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Constâncio Alves foi folhetinista do venerável Jornal do Commercio, ao tempo em que esse importante jornal era uma espécie de oráculo da política brasileira. Os folhetins de Constâncio Alves eram apreciadíssimos, chegando, por sua importância, a provocar o aguerrido polemista e acadêmico Carlos de Laet. Constâncio Alves não quis, no entanto, polemizar com o temível confrade, e levou o assunto com fleuma, com espírito esportivo, numa espécie de diálogo que acabou muito bem.

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Coelho Neto foi o mais prolífico dos romancistas brasileiros, ao qual faz concorrência o nosso Josué Montello. Dono de vocabulário opulentíssimo, foi o escritor que mais palavras diversificadas usou em seus romances, crônicas, peças de teatro, discursos e conferências. Vulcânico, eloqüente, escreveu para jornais, mas não foi, propriamente, jornalista, isto é, profissional do cotidiano do jornal. Está aqui incluído por ter passado pelas redações dos jornais de seu tempo, sem, no entanto, se fixar profissionalmente.

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Humberto de Campos iniciou sua vida literária no jornalismo, como tantos outros no Brasil inteiro. O jornal foi a sua primeira e grande escola. Autodidata típico, leu muito, leu quanto pôde, criando seu próprio estilo. No jornalismo, ficou adstrito à técnica do jornal; mas, ao passar para as crônicas, amparava seus argumentos em citações mitológicas, sobretudo da mitologia grega. Foi redator da Província do Pará, e, quando veio para o Rio de Janeiro, trabalhou nos Diários Associados, n’O Globo, subscrevendo crônicas avidamente lidas por milhares de leitores. Foi crítico literário, memorialista, contista e poeta, mas, no que nos interessa, sua vida ficou marcada pelo jornalismo, que ele nunca deixou de exercer. Dono de brilhante estilo literário, apurado no cotidiano dos periódicos em que trabalhou para ganhar a vida, chegou a impressionar os políticos da época, vindo a ser eleito deputado federal, embora por curto período. Figura, portanto, entre os jornalistas da Casa, com nome de relevo junto aos profissionais do gênero.

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José Veríssimo foi mais crítico literário e historiador da literatura brasileira do que propriamente jornalista. Mas foi diretor da Revista Brasileira, onde nasceu a Academia. Suas edições agasalharam notáveis colaboradores, entre outros Machado de Assis, do qual a revista publicou Memórias póstumas de Brás Cubas, além de diversas colaborações. Por esse motivo e por ter publicado artigos de nomes famosos, a revista tem lugar de relevo nos periódicos do tempo. A Academia a mantém até hoje em circulação, embora em várias fases – sete ao todo – por ter sido suspendida por dilatados períodos.

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Carlos Magalhães de Azeredo fundou uma revista que, na época, alcançou grande sucesso. Era disputada no dia em que saia. Seu nome, a Cigarra, que acabou integrada nos Diários Associados, e, finalmente, desapareceu. Era uma revista elegante, com matéria sobre eventos sociais, sobre os salões do Rio de Janeiro de fins do século passado e começos deste. Carlos Magalhães de Azeredo dedicava-se sobretudo à crônica jornalística.

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Eduardo Prado, um dos rebentos mais ilustres, da ilustre família Silva Prado, alta expressão do patriciado paulista, manteve jornal em São Paulo, O Comercio de S. Paulo. Combateu a República, contra a qual escreveu artigos violentos. Pagou com o exílio a sua fidelidade à causa que abraçara e considerava a única compatível com o interesse da nação. Mas ficaram os seus libelos, ainda hoje atuais. Durou pouco o exercício efetivamente jornalístico de Eduardo Prado, mas o tempo suficiente para incluí-lo entre os grandes periodistas brasileiros, da têmpera dos combatentes de idéias, que não cedem às blandícias do poder.

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Medeiros e Albuquerque foi diretor de A Tarde, um dos muitos órgãos que circularam no começo do novo regime, defendendo a República. Republicano, comprometeu seu talento ironizando o estro poético do imperador. Em sua época, Medeiros e Albuquerque teve nomeada como jornalista. Foi a chave com a qual abriu as portas da Academia. Uma particularidade: Medeiros e Albuquerque adorava uniformes. Foi ele que propôs o fardão à Academia. Seu jornal, como tantos outros da época, não teve longa duração. Mas ele foi considerado bom e combativo jornalista.

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Olavo Bilac, fundador da Academia, foi poeta, prosador, com nome na época. Militou ativamente na imprensa, ao lado de um dos nomes famosos, em seu tempo, Ferreira de Araújo, articulista dos mais respeitados. Para Olavo Bilac, o jornalismo era profissão. Escrevia crônicas diárias, no jornal de prestígio no Rio de Janeiro, a Gazeta de Notícias, mas escreveu, praticamente, em todos os jornais de seu tempo, que disputavam suas crônicas e poesias.

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João do Rio (nome literário de Paulo Barreto) entrou muito jovem para a Academia. Não tinha 40 anos. Foi repórter curiosíssimo. Não me consta, nem descobri em seus livros, que tivesse formação cultural de certo peso. Ao contrário, era superficial a sua bagagem, mas, como repórter, soube ver e registrar fatos dos mais importantes. Os seus artigos dobre as religiões do Rio são documento sociológico de relevo, embora sem serem revestidos de metodologia. Sob esse aspecto, João do Rio não passaria por uma banca examinadora universitária. Mas nem ele queria ir mais longe do que foi. Era repórter e dos bons que a imprensa brasileira teve. Lemo-lo ainda hoje com interesse, tal a sua inata vocação para captar a realidade, como ela se lhe apresentava.

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Numerosos, praticamente a maioria dos acadêmicos colaboraram em jornais. Não os cito nominalmente por entender que, sob esse aspecto estrito, não foram jornalistas, mas colaboradores que usaram as colunas dos jornais para divulgar idéias e, na maioria, poesias. Estão nessa classificação Coelho Neto, Maurício de Medeiros, de quem sempre li com prazer a sua coluna na A Gazeta, de São Paulo, Carlos de Laet, João Ribeiro, e outros, que também colaboraram ativamente. De Carlos de Laet, o douto professor Alexandre Corrêa, sábio latinista e helenista, o tomista que traduziu a Suma Teológica, recolheu vários volumes de recortes da coluna “O microcosmo”, na qual o temido polemista comentava fatos e acontecimentos, não raro zurzindo com suas críticas ferinas, pessoas, autores e livros. De João Ribeiro lembro-me do encanto com que lia seus curtos e admiráveis artiguetes no O Estado de S. Paulo. Eram de uma simplicidade incomparável, mas todos, sem exceção, de interesse para o leitor, e mais, de interesse permanente.

Um dos jornais de maior influência na opinião pública da cidade altamente politizada que era o Rio de Janeiro, do Império à Republicou e até o predomínio das oligarquias da República velha, a que caiu em 1930, foi Jornal do Commercio. Esse prestígio entrou em fase menor, mas o velho órgão é, ainda, um veículo altamente respeitável. Foi seu diretor o acadêmico Félix Pacheco, que, no exercício do cargo, manteve o alto conceito em que o jornal era tido.

 Uma  das “Várias” do Jornal do Commercio podia abalar o governo, na cidade frondeuse que era o Rio de Janeiro, e pelo fenômeno das repercussões alcançar o Brasil todo. Félix Pacheco era tido em seu tempo, pelo cargo que ocupava, como oráculo político, papel que ele soube representar sempre como diretor do venerável jornal.

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Foi também diretor do Jornal do Commercio o acadêmico Elmano Cardim, notável conferencista, articulista e ensaísta. Na direção do jornal, Elmano Cardim manteve a tradição que fez do Jornal do Commercio não o simples órgão de opiniões políticas, mas o veículo de artigos de interesse permanente, como o comprova a coleção de seus mensários. Todos os discursos de recepção e resposta proferidos nas sucessões da Academia foram, sempre, publicados pelo jornal. Elmano Cardim era jornalista da velha escola, do artigo de fundo, de opinião serena, superior, concentrada no interesse público. Espírito aberto e imparcial, historiador seguro e esclarecido, merece que se lhe destaque notável conferência sobre a imprensa no Império, durante cujo período nunca foi aplicada censura aos jornais. Elmano Cardim afirmou-se como um liberal do mais puro estofo, qualidade que transferiu para sua gestão no Jornal do Commercio, mantendo a louvável tradição do velho órgão.

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Trabalhei com Assis Chateaubriand. Fui um dos diretores mais moços de seus órgãos paulistas, Diário de S. Paulo e Diário da Noite, este de duas edições distintas. Dirigi, portanto, três jornais diários. Chateaubriand foi uma personalidade singular, isolada, com sua psicologia, sua assombrosa ação, seu talento incomum, suas idéias, sua coragem, sua determinação na conquista de objetivos que se propunha alcançar. Afirmo, por isso, que um dos maiores debatedores de idéias do Brasil ainda aguarda uma biografia que o estude em profundidade, que lhe trace o retrato psicológico, o retrato do patriota, não os aspectos bizarros, que ele os teve, sem dúvida, mas que foram acidentais em sua personalidade, extremamente forte. Chateaubriand nunca me disse o que deveria fazer ou deixar de fazer, pois, acentuava, quem trabalhasse com ele tinha de ter antenas. Tenho conhecido milhares – sem exagero – de pessoas. Não conheci até hoje ninguém com as singularidades de Chateaubriand. É possível imaginar-se em um Brasil de comunicações precárias um império da extensão do que Chateaaubriand criou? Mais de sessenta jornais e rádios, a televisão, tudo montado, tudo funcionando, e, ainda, fazendas em vários Estados. Não era fácil conviver, no trabalho, com Chateaubriand. Eu convivi, e muito bem. Acertei, como alguns poucos outros acertaram. Inteligência fascinante, rústico e carinhoso, amigo e inimigo aos extremos, companheiro que sempre prestigiou os companheiros, foi, na plenitude da palavra, o jornalista completo, isto é, o que vê o que os demais não vêem, o articulista impecável, dono de estilo original, sem lugares-comuns. Seu artigo diário era obrigatório. Considerava falta grave não aparecer.

Daí ter, como ele mesmo dizia, três escravos estáveis e alguns avulsos, para o socorrerem quando lhe faltava tempo para escrever. Éramos, eu, Austregésilo de Athayde e Teófilo de Andrade, este mais para assuntos cafeeiros. Athayde escrevia em seu próprio estilo, que era diferente do de Chateaubriand. Eu pastichava. Muitas e muitas vezes datei, de minha sala, na Rua Sete de Abril, em São Paulo, os artigos, de bordo da Panair do Brasil, entre Salvador e Dakar, ou de Fortaleza ou de Porto Alegre.

Dotado de palavra fácil, era orador que cativava oratórios. Não tinha a voz e o estilo oratórios de Athayde ou Carlos Lacerda, mas ninguém podia falar depois dele. Durante os anos em que com ele trabalhei, se ele estava em São Paulo, me chamava para ouvir o artigo que escrevera e ele mesmo revisara, molhando a pena de velha caneta na tinta do tinteiro. Era o que ele chamava “a hora da cotovia”. Depois, não raro, gostava de falar sobre literatura. Sabia de memória, e os declamava, centenas ou milhares de versos da poesia brasileira, portuguesa e francesa.

 Curiosamente, não era completo admirador de Machado de Assis. Certa vez, escreveu mesmo um artigo, reprovando a decisão de um governador de dar o nome do nosso patrono a uma escola. Não considerava Machado bom exemplo para a mocidade, por sua amargura, sua ironia e a frase final das Memorais póstumas. Chateaubriand foi, em suma, um dos maiores jornalistas que o Brasil teve e, certamente, outro não haverá que realize obra como a sua. Os tempos são diferentes. Provavelmente ele também seria diferente. Confesso aqui que guardo saudade, ou, no exato sentido da palavra, nostalgia dos tempos em que convivi com o extraordinário cidadão Chateaubriand, o jornalista que defendeu, intrepidamente, o liberalismo econômico, a economia de mercado, a livre empresa, quando o mundo parecia marchar para o socialismo, nos anos 50.

Quando Assis Chateaubriand foi adquirir O Jornal, com 30 contos de réis, emprestados por Alfredo Pujol, acompanhou-o Austregésilo de Athayde, e durante a vida inteira estiveram juntos, prolongando o nosso saudoso presidente vinte e cinco anos na direção dos Diários, como presidente do condomínio criado pelo seu fundador.

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Athayde viveu desde a juventude dentro de jornais. Sua vida inteira dividiu-se entre o jornal e o lar e, depois de eleito presidente da Academia, dividiu-se entre o jornal e esta Casa, devotando-se a ambos com verdadeira paixão, e mais ainda nos últimos anos de vida, depois da morte de sua adorada e bela esposa.

Como jornalista, Athayde pode ser apontado dentre os maiores do país. Escrevia admiravelmente bem, direi que parcimoniosamente bem, expressando-se com elegância e concisão. Não houve tema, de meados da década de 20 até o seu falecimento, em 1993, que não tivesse focalizado com superior critério.

Defensor intrépido dos direitos humanos, participou ativamente, como membro da delegação brasileira, da redação do documento que viria a ser assinado por todas as nações livres em 1948. Sua participação foi mesmo tão ativa que René Cassin, chefe da delegação francesa e presidente da assembléia que elaborou a Declaração, afirmou, ao ganhar o Prêmio Nobel da Paz, que merecia a láurea o nosso Athayde, ou, no mínimo, que fosse ela dividida.

Athayde figura entre os grandes jornalistas, mas também entre os grandes oradores do nosso país. Admirável causeur, prendia horas seguidas os interlocutores, com sua verve . Sem nenhuma dúvida figura no Panteão dos maiores periodistas brasileiros.

Aníbal Freire, alto espírito de humanista, foi diretor do prestigioso Jornal do Brasil, jornal rigorosamente de opinião, e, por isso mesmo, de obrigatória circulação na classe política. Granjeou elevado prestígio entre os de sua classe, pela lucidez e critério, sobretudo, e pela franqueza com que exercia a profissão de jornalista, no autorizado e importante órgão.

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Amadeu Amaral passou a vida na redação do O Estado de S. Paulo, um dos mais influentes jornais do país. Poeta, dos maiores da literatura brasileira, ensaísta, pesquisador glotico de uma região de fala típica, Capivari, no interior de São Paulo, aventurou-se pela política partidária nos anos 20, mas foi sobretudo jornalista. Amadeu Amaral sabia usar o jornal, com eficiência. Cito um exemplo. Washington Luís nunca proferiu a frase “a questão social é caso de policia”. Numa entrevista, perguntado sobre uma arruaça num dos bairros de São Paulo, disse que aquilo era um caso para a polícia resolver, nada tendo com questão social. Amadeu Amaral, que era candidato a deputado por facção oposicionista, apanhou a frase, adaptou-a ao seu interesse e a lançou pelo O Estado de S. Paulo. Difundida amplamente, repetida em comícios, colou-se a Washington Luís, e nunca mais se lhe despregou. Amadeu Amaral exerceu o jornalismo como redator do grande jornal paulista.

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Guilherme de Almeida também militou no O Estado de S. Paulo, durante toda a vida, dele afastando-se quando o Estado Novo o ocupou. Mas não deixou o jornalismo. Convidado por seu concunhado, Assis Chateaubriand, passou a escrever no Diário de S. Paulo, voltando ao O Estado depois que o governo de José Linhares devolveu o jornal aos seus legítimos donos, os Mesquitas. Foi, de resto, o jornal O Estado que abriu a Guilherme, como a Amadeu Amaral, as portas da Academia.

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 Menotti del Picchia foi redator do vetusto Correio Paulistano, jornal do Partido Republicano Paulista, o famoso PRP, fora do qual não havia salvação. Menotti foi editorialista do jornal e mantinha, também, uma crônica, assinada com o pseudônimo de Helios, crônica na qual fez toda a campanha do Modernismo, do qual seria uma das figuras de proa, em 1922. Curioso é acentuar que foi das colunas do Correio Paulistano que saiu toda a campanha pela Semana de Arte Moderna, à qual outros jornais aderiram, mas somente depois de sua realização. O jornalista Menotti del Picchia foi, ainda, diretor de A Noite, em São Paulo. No exercício do jornalismo, Menotti defendeu, incansavelmente, os interesses de São Paulo, mas dentro da comunidade brasileira. Sempre o tivemos, em São Paulo, como um grande jornalista.

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Cassiano Ricardo também foi redator do Correio Paulistano, mas sua atuação jornalística destacou-se quando dirigiu o jornal A Manhã, na época um dos melhores e mais bem feitos jornais do país. Nesse jornal, Cassiano entregou a Múcio Leão a incumbência de preparar semanalmente um suplemento literário. Múcio executou a tarefa com exemplar diligência, oferecendo aos leitores do jornal uma história da literatura brasileira, infelizmente interrompida quando A Manhã deixou de circular. Cassiano foi, também, companheiro de Menotti, ao fundarem ambos, pelas alturas de 1936, o jornal Bandeira, que se opôs ao integralismo. Foi um jornal vibrante, que defendeu as tradições paulistas, o sentimento nacional, a democracia, as liberdades, em suma, os valores que configuravam o Brasil no original, título de um dos livros de Cassino. Esse jornal foi suspenso em 1937, quando Getúlio Vargas instaurou o Estado Novo.

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Cândido Motta Filho foi diretor do Correio Paulistano, como acabo de dizer, órgão do Partido Republicano. Nessa função escrevia, diariamente, o editorial político do jornal. Mantinha, também, uma coluna de recensão literária, na qual dava a conhecer aos leitores do jornal os últimos livros lançados pelas editoras. Como diretor do Correio Paulistano foi indicado por Altino Arantes para a pasta da Educação do governo Café Filho, cargo em cujo exercício fundou o Instituto Superior de Estudos Brasileiros. Este iniciou atividades com um programa, exposto por San Thiago Dantas, em sessão solene, no Ministério da Educação, para servir à democracia. Mas, passado algum tempo foi tomado de assalto pelos comunistas, que desvirtuaram totalmente os seus objetivos. Posto a serviço do marxismo-leninismo mais exacerbado, foi finalmente extinto pelos presidente Castelo Branco. Motta Filho foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal por indicação de Jânio Quadros. Mas nunca deixou de se referir ao jornalismo como a sua vocação, ao qual devia, de resto, a sua brilhante carreira nas letras e no Judiciário.

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Álvaro Maria da Soledade Pinto da Fonseca Velhinho Rodrigues Moreira da Silva. Simplesmente, nas letras, Álvaro Moreyra, assim mesmo “com i grec”, como ele gostava de dizer. Trabalhou como jornalista em todos os jornais cariocas de seu tempo. Escritor, destacou-se como memorialista. Lêem-se com prazer As amargas, não e A vida é de cabeça baixa. Na imprensa, Álvaro Moreyra prestou enorme serviço à divulgação das letras. Foi um paladino, se me permitem a palavra, da difusão das letras nacionais. Seus dois jornais, Para Todos e Dom Casmurro fizeram época, publicando não só nomes consagrados, como os estreantes, pelos quais ele tinha o maior apreço. As novas gerações pouco ou nada conhecem de Álvaro Moreyra, mas ele foi, em seu tempo, um dos mais prestigiosos homens de imprensa do país. A divulgação de trabalhos literários deveram-lhe espaço nos dois principais órgãos que ele fundou e dirigiu com exemplar eficiência e empenho em servir às letras. Foi essa atividade que lhe abriu as portas da Academia, que ele freqüentou com regularidade, enquanto pôde fazê-lo.

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Odylo Costa, filho, foi chamado ao Jornal do Brasil para reformá-lo, dinamizá-lo, modernizá-lo, em suma, despoeirizá-lo. Grande órgão de opinião, sólido, revestido de uma carapaça de confiança da opinião pública, que consistia na sua solidez, necessitava apenas de obra regeneradora. Odylo realizou essa obra, e, quando deixou o jornal, por entender que a havia concluído, e também alanceado pela tragédia que lhe entrou pelo lar, impulsionada por mão assassina, estava quite com sua consciência profissional. O grande órgão mantinha viva a sua tradição, ereto o seu prestígio.

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João Neves da Fontoura foi editorialista de O Globo, onde deixou nome como autor dos melhores editoriais de seu tempo. Dominando o estilo jornalístico, ele que foi mais orador do que prosador, que não assinava, evidentemente, os textos que escrevia, era disputado pelos leitores do grande jornal, pela alta qualidade periodística de seus editoriais. Poucas vezes a imprensa diária do Brasil terá tido um editorialista como João Neves da Fontoura.

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Raymundo Magalhães Júnior, nas letras R. Magalhães Júnior, tinha a fama de ser o mais rápido redator que passou pela imprensa brasileira. Era, diziam galhofando seus colegas, “uma verdadeira metralhadora”. Redator da revista Manchete e de outros jornais, como os Diários Associados, R. Magalhães Júnior destacou-se não só como jornalista, submisso aos acontecimentos cotidianos, que é a característica fundamental da nossa profissão, mas se fez pesquisador, vindo a dotar a bibliografia brasileira de livros merecedores da perpetuidade das estantes, com exceção, a meu ver, do livro escrito contra Rui Barbosa. Por quê? A sua biografia de Deodoro mereceu de Afonso de Taunay os maiores elogios, fato para mim inédito no grande historiador, que era avaro deles. Taunay disse-me que o livro de R. Magalhães Júnior era modelar. Sua biografia de Machado de Assis, em quatro volumes, esgota o assunto, e os vários volumes de inéditos do autor de Dom Casmurro nos revelaram a fisionomia do patrono de nossa Casa. Mas foi como jornalista que R. Magalhães Júnior aprimorou o estilo, vindo a tê-lo ágil, claro, dinâmico, em tal dimensão, que arrastava o leitor do começo ao fim de seus artigos ou páginas de seus livros, crônicas, sueltos e comentários variados.

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José Cândido de Carvalho, natural de Campos, Estado do Rio de Janeiro, é conhecido como o autor de O coronel e o lobisomem e Olha para o céu Frederico, ademais de outros romances, mas ele insistiu sempre em que era jornalista, que fora romancista e bacharel em direito por acaso. Estreou em 1930, no semanário campista O Liberal, e trabalhou em todos os jornais da cidade, inclusive no venerável Monitor Campista. Mudando-se para o Rio de Janeiro trabalhou no Jornal do Brasil e outros jornais. Foi diretor da Rádio Roquette-Pinto e redator do Serviço Público Federal, do jornal A Noite, da revista O Cruzeiro e de O Jornal. Sua coluna nos órgãos associados, assinada JCC, era muito apreciada.

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Francisco de Assis Barbosa foi jornalista completo. Noticiarista, repórter, comentarista político, crítico literário, responsável por suplementos, era desses profissionais para o qual não havia segredos na profissão. Trabalhou em numerosos jornais. Em A Nação, O Imparcial, A Noite, A Noite Ilustrada, Vamos Ler, Carioca, Diretrizes, Correio da Manhã, Diário Carioca, e outros jornais do Rio de Janeiro e São Paulo. O jornalismo deu-lhe a ductilidade de estilo, que vemos nas biografias por ele escritas, de Lima Barreto e Juscelino Kubitschek, o perfil de Antônio de Alcântara Machado, de João Pinheiro, de Santos Dumont, para a juventude. Francisco de Assis Barbosa pertence, portanto, à galeria dos jornalistas mais bem dotados do Brasil.

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Orígines Lessa foi diretor de um jornal, Planalto, de curta direção. Foi mais ficcionista, conquistando com seus romances o prestígio literário, graças ao qual ingressou na Academia.

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Carlos Castello Branco, o Castelinho, para os colegas e políticos, trabalhou nos Diários Associados no meu tempo. Repórter político, conquistou brilhante reputação. Transferindo-se para o Jornal do Brasil passou a subscrever uma coluna – a Coluna do Castello – com a qual se impôs como o mais autorizado comentarista e analista político brasileiro. Suas crônicas do período dos militares foram reunidas no livro Os militares no poder, obra de consulta obrigatória para se conhecer aquele período. Tão grande era autoridade do Castelinho, que os militares sempre o respeitaram, como profissional probo, forrado de alto espírito público.

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Otto Lara Resende foi mais jornalista do que escritor, embora nos tenha deixado um grande romance, O braço direito. Foi redator de vários jornais, escrevendo admiravelmente bem, tanto que, quando se apresentou à Academia, como candidato, logo as portas se lhe abriram, pois era reconhecidamente um notável escritor. Escreveu pouco. De estilo irônico, ou utilizando-se de palavras comuns, de gíria, não raro gozador, muitas vezes punha em seus artigos essa nota. Nos últimos anos de sua vida, que terminou precocemente, manteve na Folha de S. Paulo uma coluna diária, na qual foi substituído, após sua morte, pelo jornalista Carlos Heitor Cony. Suas crônicas no jornal paulista eram sempre brilhantes, tão brilhantes que aquele periódico o homenageou, postumamente, editando uma seleção delas em volume. Algumas eram redouradas de poesia, encantando, como várias vezes ouvi dizer, seus milhões de leitores. Foi um grande jornalista, pois sabia como poucos captar o cotidiano, essa nota dominante do jornalismo, com palavras de fulgor literário permanente.

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Conheci Antonio Callado, o very british Antonio Callado, como redator-chefe do prestigioso e combativo Correio da Manhã. Diríamos, hoje, diretor de redação. Mas era ele que comandava o jornal, logo abaixo de Paulo Bittencourt, que tinha nele total confiança. A rigor, era Callado quem dirigia o jornal, então no seu apogeu. Escrevia admiravelmente bem, com uma clareza sedutora. Líamos seus artigos diários com verdadeiro prazer. Muito antes de vir para a Academia, onde chegou tarde, já Callado era por antecipação um perfeito acadêmico, pelo estilo literário, com páginas de antologia, e um gentleman para o bom convívio na Academia, que essa é, também, uma condição para ingressar na Ilustre Companhia. Passei longos anos sem me encontrar com Callado. Lia-o na Folha de S. Paulo, jornal no qual ele colaborou com extensos e brilhantes artigos, sempre como o observador atento dos acontecimentos de atualidade e o incomparável estilo que fez dele um dos melhores escritores modernos do Brasil.

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Evidentemente, a série é incompleta, por sua extensão e por terem, se não todos, quase todos os acadêmicos, passado pelo jornal, durante um século, o século de existência da Academia, pois foi o jornal o veículo pelo qual se projetaram para alcançar a gloria acadêmica. Se não dei conta do tema, na sua totalidade, que me perdoem. Fiz o possível para situar os jornalistas da Academia nesse longo período de tempo.

Finalmente, incluo na longa relação de acadêmicos jornalistas o decano da imprensa brasileira, felizmente em excelente saúde, o ilustre Barbosa Lima Sobrinho. Jornalista desde 1921, quando mudou-se para o Rio de Janeiro e entrou no Jornal do Brasil, permaneceu fiel à sua vocação, inclusive quando exerceu a deputação e ocupou cargo na autarquia federal, o Instituto do Açúcar e do Álcool. Sempre jornalista, profundamente integrado no espírito da profissão, Barbosa Lima Sobrinho vai sempre direto aos problemas, aos temas, aos assuntos atuais, com repercussão na sociedade e no interesse público. Seus artigos sempre foram e continuam sendo modelo do melhor jornalismo, pela clareza e objetividade com que são escritos. Eleito presidente da Associação Brasileira de Imprensa para o período de 1926-1929 e novamente em 1978, e nos períodos subseqüentes, até 1997, manteve nessa entidade o prestígio que lhe assegurou um lugar à parte nas entidades de interesse público. Demonstrou-o Barbosa Lima Sobrinho no episódio do impeachment do Presidente Fernando Collor de Mello. Foi o eminente jornalista que entregou ao presidente da Câmara dos Deputados o Memorial no qual era pedida a pena máxima contra o titular ímprobo do mais alto cargo da República. Fazendo a devida reverência ao Mestre, ao decano, ao venerável periodista que tanto honra a nossa profissão, homenageio o seu nome incluindo-o neste rol das altas figuras da Academia que praticaram o jornalismo.

Senhora Presidente, está encerrado o meu depoimento.

 

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