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Artigos

  • Humilde do bem

    Nossa Senhora, com o Menino Jesus nos braços, desceu à Terra para visitar um mosteiro. Os padres fizeram fila para homenageá-la. No fim estava um padre humilde, que não tivera chance de aprender com os sábios da época. Seus pais trabalhavam num circo. Na vez dele, os monges queriam encerrar as homenagens. Querendo mostrar seu amor pela Virgem, tirou umas laranjas do bolso e começou a atirá-las para o ar, fazendo malabarismos que seus pais lhe ensinaram. O Menino Jesus bateu palmas de alegria. E a Virgem Maria deixou ele segurar seu filho.

  • Em prol dos outros

    Um estudante muito curioso pediu a um mestre sufi que lhe revelasse o quinto nome de Deus. “Saber o nome pode me tornar capaz de mudar a história”, disse o estudante, muito cheio de si. Para observar a postura do jovem, o mestre pediu que ele passasse um dia na porta da cidade. O estudante voltou no dia seguinte e contou o que viu. “Um velho quis entrar na cidade para vender um carneiro. O guarda cobrou imposto, mas ele não tinha dinheiro. Então, o guarda roubou o carneiro e expulsou o homem. Se soubesse o nome oculto de Deus, seria capaz de modificar esta situação”, disse o estudante, como se cobrasse algo do mestre. Sem pensar duas vezes, ele respondeu: “Você podia ter impedido a injustiça, mas preferiu sonhar com uma revelação. Que tolice! Pois vou lhe revelar o quinto nome de Deus: ação em favor dos outros. Só assim podemos mudar a história”, afirmou o sábio mestre.

  • As razões ocultas

    Na fronteira da França, existe um castelo em ruínas. Resolvo visitá-lo, mas, ao me aproximar, um senhor me diz: “Não podes entrar”. Explico que venho de longe, tento lhe oferecer uma gorjeta – de repente, sem nem saber o porquê, entrar no castelo se tornou importante para mim. “Não podes entrar”, ele repetiu. Resta a mim uma alternativa: seguir adiante e esperar que ele me impeça fisicamente. Vou até a porta, ele me olha, mas nada faz. Em certos momentos, o mundo nos pede para lutar por coisas que não conhecemos, por razões que jamais vamos descobrir.

  • Um olhar revelador

    Um experiente político brasileiro, acostumado a fazer visitas às suas bases eleitorais, dá o seguinte conselho: “Ao entrar numa casa, observe o comportamento das crianças. Se alguma começar a lhe olhar torto, pode ter certeza de que escutou seus pais falando mal de você”. O olhar de uma criança é a melhor maneira de decifrar nossas vidas e o mundo em que vivemos. Mas nos sentimos obrigados a sempre fazer gracinhas para elas. Aquela alma ainda é pura. Não permitimos que Deus nos dê seus recados, porque nos julgamos mais sábio do que um olhar infantil.

  • Superar obstáculos

    Mário largou tudo para abrir uma livraria, a “Excalibur”, em Buenos Aires. Certa noite, em sua livraria, blasfemou contra si mesmo. Estava afundando em dívidas, e os colaboradores ameaçavam pedir sua falência. Lembrou-se de um filme, “Windy city”, no qual um ator gordo tem tanta fé que supera seus obstáculos. “Não sou como ele”, pensou. Virou-se para apagar a luz, quando alguém entrou. “Está fechada”, disse para o cliente. Folheando alguns livros estava J. Mostal, o ator de “Windy city”, que visitava a Argentina. Mário compreendeu o sinal e superou os obstáculos.

  • As aves divinas

    O deus Shakra quis testar o bom Rei Sivi. Transformou a deusa Raky numa pomba, que voou até o quarto do rei. Depois, Shakra virou um falcão e foi caçar a pomba diante de Sivi. “Não faça isso!”, pediu o rei. “Por que não?”, disse o falcão: “Meu alimento é carne fresca. O senhor quer subverter a natureza?”. “Então aceite minha carne fresca”. Sacou um punhal e cortou parte de seu braço, oferecendo-a ao falcão. Neste momento, as aves voltaram a suas formas divinas. “Um homem bom sempre vai a extremos para provar suas qualidades”, disse Shakra.

  • Sem medo de viver

    O homem moderno quis, com o passar dos anos, eliminar as incertezas e dúvidas de sua vida. Agindo desta maneira, ele acabou deixando que sua alma morresse de fome, já que o espírito do ser humano se alimenta de mistérios. Não tenha medo de ser chamado de louco e faça hoje, ou agora mesmo, se possível, alguma coisa que não combine inteiramente com a lógica de tudo o que você aprendeu ao longo da sua vida. Esta pequena coisa, por menor que seja, pode abrir para você as oprtas para uma grande aventura, tanto humana quanto espiritual.

  • Atritos e faíscas

    Certa vez, eu faria uma importante conferência em Kyoto, com o coreano Tea-Chang Kim. Quando o encontrei para acertar os detalhes da nossa conferência, senti imediatamente que havia uma antipatia mais do que clara entre nós dois. Resumindo, como se diz por aí, a verdade é que meu santo não cruzou nada com o dele. E vice-versa. Durante o nosso debate, as coisas até foram melhorando gradativamente. E a rivalidade inexplicável foi sendo transformada numa grande energia positiva, o que fez com que cada um de nós dois desse o melhor de si mesmo. E tomasse o dobro de cautela para não se tornar agressivo com o outro. O resultado do debate foi um sucesso, mas a verdade é que eu realmente não gosto dele e sei que ele continua sem gostar de mim. Um amigo meu, que percebera nossos sentimentos, disse, no mesmo dia: “É o atrito de duas pedras que permite a faísca de luz”.

  • Caminho do Coração

    A oração é um dos caminhos mais eficazes de desenvolvimento espiritual. As grandes transformações dos sábios e guerreiros espirituais só surgiram porque a oração lhes servia de bússola nos mares da descoberta mística. “Busque primeiro o reino dos Céus e todo o demais lhe será acrescentado”, disse Cristo. Mas nem sempre escutamos isso. Nas raras vezes em que rezamos, preferimos pedir algo que julgamos ser melhor para nós. De vez em quando, rezamos para agradecer. Ou para pedir perdão. À nossa volta há uma luz transformadora. Rezemos para fazer parte dela.

  • Primeira palavra: milagre

    Durante alguns meses, estimulei meus leitores a escrever em meu blog sobre sete palavras que considero fundamentais nos dias de hoje: milagre tortura, prece, sofrimento, conselho, xenofobia (medo ao estrangeiro), casamento. Começo hoje a série de respostas, usando os pseudônimos ali colocados. Quem quiser ver todas as respostas, visite www.paulocoelhoblog.com, clicando em Discuss.

  • Para se entregar

    Um homem disse a Buda certa vez: “Eu queria seguir os seus passos, mas antes tenho questões filosóficas a indagar”. Buda perguntou: “O que você faria se, de repente, fosse atingido por uma flexa?”. O homem pensou. “Iria ao médico”, respondeu em seguida. “E você diria a ele para não retirar a flexa do seu corpo até saber tudo sobre ele?”, perguntou Buda. “Se eu esperar para saber isso, morro antes”, respondeu o homem. Buda então concluiu: “Da mesma maneira, se você quer ter todas as respostas antes de dar um passo, irá morrer sem sair do lugar”.

  • Novos caminhos

    Roger Pemrose conversava com amigos. Pararam de falar para atravessar a rua. “Quando chegamos à outra calçada e retomamos o assunto, fiquei com a sensação de que um pensamento incrível me ocorrera durante a travessia, mas não conseguia lembrar o que era”, conta. Resolveu então recapitular cada minuto do dia e, ao lembrar-se de atravessar a rua, a idéia voltou. Era a teoria dos buracos negros, uma verdadeira revolução na física. E tornou a surgir porque Pemrose acreditou em inspiração e lembrou do silêncio que fazemos ao atravessar a rua.

  • Do lado esquerdo

    Os antigos mestres costumavam inventar vários personagens para ajudar seus discípulos a lidarem com o lado mais sombrio e obscuro de suas personalidades. Muitas dessas histórias relacionadas com a criação de personagens terminaram se transformando em famosos e conhecidos contos de fadas. O processo de criação é simplesmente e pode se revelar muito útil: basta colocar todas as suas angústias, seus medos e também suas decepções em um ser invisível, que fica, simbolicamente, do seu lado esquerdo. Esse ser invisível vai funcionar como o grande vilão de sua vida, sempre sugerindo atitudes que você não gostaria nem pensaria em tomar de maneira nenhuma – mas termina tomando. Uma vez criado esse tal personagem, fica muito menos difícil não obedecer a seus conselhos e, portanto, provilegiar o lado iluminado da personalidade. É um processo extremamente simples. E, por isso, funciona bem.