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Artigos

  • A oração da água

    Os monges sufis costumam manter o olhar fixo numa poça d’água, para rezar “a prece do olhar fixo”. Ela se divide em cinco etapas: a) agradecer a Deus por estarmos rezando; b) pedir que Ele nos mostre o melhor caminho a seguir; c) fazer revisão do dia anterior, procurando ver os momentos em que Deus quis se revelar; d) pedir perdão por não tê-lo reconhecido; e) fazer um ato de fé, dizendo que estaremos atentos a Sua presença. O olhar fica fixo na água por cinco minutos. Surgem imagens. O Espírito Santo, então, nos mostra o caminho e nos ajuda a percorrê-lo.

  • Ligação com o belo

    Certa vez, conversava com um cantor de ópera sobre a necessidade que o homem tem de compreender a si mesmo. Passamos perto de uma pequena passarela e ele disse: “Existe quem é capaz de construir pontes entre os seres humanos. Quando estou no palco, um laço fino, mas forte, me permite mostrar a poesia de quem escreveu as árias. A beleza nos ajuda a ficar perto de Deus. Ela pode não ter a força de uma ponte, mas tem a utilidade de uma passarela que, mesmo aparentemente frágil, cumpre sua missão de transportar os homens sobre águas turbulentas”.

  • Encontro na ilha

    Um missionário espanhol estava de passagem por uma ilha quando encontrou, neste caminho em que seguia, três sacerdotes astecas. “Como vocês rezam?”, perguntou ele aos sacerdotes. “Temos apenas uma oração”, respondeu um deles prontamente, diante de sua dúvida. “Dizemos: ‘Deus, tu és três e nós somos três. Tende piedade de nós’.“ “Vou ensinar-lhes uma oração que Deus escuta”, disse o missionário, mostrando-lhes uma reza católica que conhecia bem. Pouco antes de retornar à Espanha, ele passou por aquela mesma ilha em que esteve antes. Quando a caravela se aproximou, o padre viu os três sacerdotes caminhando sobre as águas. “Padre, padre”, disse um deles. “Nos ensine novamente a oração que Deus escuta, porque não conseguimos lembrar”. “Não importa”, disse o padre, vendo o milagre. Em seguida, pediu perdão a Deus por não entender que Ele fala todas as línguas.

  • Visita na caverna

    Joshé passou anos sozinho meditando numa caverna. Os donos do terreno em que ficava o local, compadecidos com sua dedicação, enviaram-lhe um recado: iriam visitá-lo e aproveitariam para fazer algumas doações. Joshé arrumou toda a caverna, preparando-se para a visita. Quando terminou a limpeza, começou a se perguntar: “Não quero parecer melhor que sou”. Tornou a sujar tudo, jogando inclusive um pouco de terra no altar do deus Zyuk. Zyuk apareceu para Joshé e disse: “Assim você nunca vai melhorar. Há momentos em que precisamos de mudança”.

  • A intuição

    Os monges do deserto afirmavam que era necessário deixar as mãos dos anjos agirem. Para isso, faziam coisas absurdas, como falar com flores ou rir sem razão. Os alquimistas seguiam os “sinais de Deus”, pistas que muitas vezes não faziam sentido, mas que levavam a algum lugar. “O homem moderno quis eliminar as incertezas e dúvidas de sua vida. E terminou por deixar sua alma morrendo de fome. A alma se alimenta de mistérios”, diz o deão da Catedral de São Francisco. Não tenha medo de ser chamado de louco. Faça hoje algo que não combine com a lógica que aprendeu. Contrarie um pouco o comportamento sério que lhe ensinaram. Esta pequena atitude, por menor que seja, pode abrir as portas para uma grande aventura humana e espiritual.

  • Derrota e experiência

    Eu estudava na escola de teatro, quando o ex-campeão de pesos pesados Mohammed Ali resolveu lutar com George Foreman pela reconquista do título. O boxe era um esporte popular entre atores e diretores. No dia da luta, um dos professores da escola me chamou: “mohammed Ali vai ganhar”, disse. “Não creio”, respondi. “Afinal, George Foreman nunca perdeu uma luta“. “Justamente por isso”, replicou o professor: “Quem já foi à lona uma vez está mais preparado para vencer do que quem nunca perdeu”. E, mais tarde, Ali recuperou pela segunda vez seu título.

  • Confiança em si

    Um homem estragou os sapatos. Anotou o número que calçava e saiu para comprar um novo par. Ao chegar à sapataria, viu que havia esquecido a medida de seu pé. Voltou, pegou o papel e retornou à loja, que já estava fechada. O homem reclamou com um amigo o que havia acontecido. E este comentou: “Por que você não experimentou alguns sapatos até descobrir que número calçava?”; “Porque não seria capaz de escolher um sapato que fosse o número de meus pés”, respondeu. “Pobre de quem não confia em si. Terminará sempre escolhendo o caminho mais difícil”, disse o amigo.

  • A chama de Deus

    Lao Shi perguntou ao mestre Wang Tei: “O que faço para ficar mais próximo de Deus?”. Wang Tei pediu que ele o acompanhasse até o alto da montanha. Tirou uma vela do bolso e deu para que seu discípulo acendesse. Lao Shi tentou várias vezes, sem resultado. “Aqui venta, não vou conseguir”. “Mas a três quilometras daqui não está ventando”, disse o mestre. “De que adianta? Eu precisaria andar até lá, se quisesse acender a vela num lugar onde não venta”. Wang Tei concluiu seu ensinamento: “Para iluminar a chama de Deus em você, é preciso caminhar até Ele”.

  • Viajando de maneira diferente

    Desde de muito jovem descobri que a viagem era, para mim, a melhor maneira de aprender. Continuo até hoje com esta alma de peregrino, e decidi relatar neste blog algumas das lições que aprendi, esperando que possam ser úteis a outros peregrinos como eu.

  • Rochas e rotina

    Os monges zen, quando meditam, costumam sentar diante de uma rocha e dizer: “Agora vou esperar esta rocha crescer um pouco”. Tudo o que está a nossa volta muda sempre. Aquilo que nós costumamos chamar de rotina está sempre cheio de novas propostas e oportunidades. Nada é aborrecido, porque tudo sempre está em constante mutação. O tédio não está no mundo em que nós vivemos, mas na maneira como o enxergamos. Como dizia o poeta T. S. Eliott, “é preciso percorrer muitas estradas, voltar para casa e olhar tudo como se fosse pela primeira vez”.

  • Amor na hora certa

    Um padre da Igreja de Copacabana aguardava seu momento de comprar carne em um supermercado, quando uma mulher tentou “furar” a fila. Começou, então, um festival de agressões verbais dos outros fregueses. A mulher, é claro, passou a responder com igual veemência. Quando o clima estava insuportável, alguém gritou: “Ei, madame. Deus te ama”. E todos ficaram calados. “Foi impressionante”, conta o padre. E continuou: “Num momento em que todos pensavam em ódio, alguém falou de amor. Na mesma hora, a agitação desapareceu por encanto”.

  • Velho ditado

    Fiz um velho ditado mágico: quando o discípulo está pronto, o mestre aparece. Pensando nisso, muita gente passa a vida inteira se preparando para tal encontro. Quando cruzam com o mestre, se entregam completamente. Mas, terminam descobrindo que o mestre não é o ser perfeito que imaginaram, mas um home igual a todos, cuja única função é dividir aquilo que aprendeu. Ao se ver diante de uma pessoa com seus defeitos, o discípulo se sente roubado. Vem o desespero e o desejo de abandonar a busca  - quando, na verdadwe, é assim que a coisa funciona. É isso que nos deixa livre para criarmos nosso caminho. Edenilton Lampião deu uma versão muito melhor para o tal ditado mágico: quando o discípulo está pronto, o mestre desaparece.

  • A flauta de Mozart

    O filme “Amadeus” mostra que, massacrado pela crítica musical de sua época, que o acusava de superficial, Wolfgang Amadeus Mozart se consolava sabendo que o público gostava de sua arte. Sua última ópera, “A flauta mágica”, mostra um Mozart de uma leveza extraordinária, ignorando a filosofia sinistra que complica a vida. Para um amigo, ele explicou: “A vida é permanente. Ela não precisa de significados ocultos para mostrar sua beleza. Deus não está na tortura da alma, mas na capacidade que o homem tem de olhar as estrelas e ficar comovido”.