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Zero a zero

 

Nunca foi tão fácil prever o placar do grande jogo entre a afastada presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Ambos ainda podem perder a partida: Dona Dilma voltar à presidência da República e Eduardo Cunha perder o mandato parlamentar, caindo na vala comum dos investigados pela Operação Lava Jato.

Nem por isso a situação política do país ficará pior ou melhor que o atual "pega-pra-capar" que emperrou a política nacional, com inflação, corrupção e estagnação administrativa.

Quando Eduardo Cunha aceitou o pedido de impeachment da presidente, comprou uma briga que ainda não teve fim. Por sua vez, dona Dilma jogou contra ele a base aliada, a mídia em sua totalidade e os interessados que acreditam que em qualquer briga alguém sai ganhando ou perdendo. Confesso que tanto a presidente pode ser absolvida dos crimes de responsabilidade como Eduardo Cunha pode provar que não tem conta pessoal na Suíça.

Na dúvida, seguindo a máxima jurídica de casos iguais, a Justiça absolveria os réus. Contudo, o grande e absoluto réu desta briga não é dona Dilma nem Eduardo Cunha, mas o próprio Brasil que está estagnado numa das mais cruentas brigas pelo poder.

Apesar do zero a zero, o governo tem mais condições de desempatar a partida. Mas nunca se sabe. Certeza, só uma: qualquer resultado será desastroso para a paz e para o desenvolvimento do país.

Não creio nos US$ 5 milhões que Cunha teria recebido para a compra de navios e sondas da Petrobras. Sua caneta não teria poder para isso, tampouco vejo razões para culpar dona Dilma das pedaladas fiscais, prática que foi usada desde os tempos de Pedro Álvares Cabral.

A briga ainda corre o perigo de continuar no zero a zero, com direito à tradicional disputa por pênaltis. 

Folha de São Paulo (RJ), 10/07/2016