"Você sabe o que é caviar?", canta Zeca Pagodinho. Ele mesmo responde: "Nunca vi nem comi/ Eu só ouço falar/ [bis]// Caviar é comida de rico/ Curioso fico/ Sou mais ovo frito/ Farofa e torresmo/ Pois na minha casa/ É o que mais se consome// Por isso se alguém/ Vier me perguntar/ O que é caviar/ Só conheço de nome". Tudo bem, mas isso foi naquele tempo. Hoje, uma lata de 50 gramas de caviar sai por R$ 150, e o Zeca pode tirar essa chinfra. É verdade que só sai por esse preço porque é feito de ovas de tainha ou salmão, não do esnobe esturjão. Mas, se bem preparadas, o pessoal nem notará a diferença.
Aquele tempo a que me referi era o dos russos, cujos mares Cáspio e Negro forneciam o grosso do caviar no planeta. Mas a China entrou em cena, com sua mão-de-obra quase grátis, abundância de cursos d’água (o esturjão pratica a dupla militância, circula por mares e rios) e variedade de tipos, cores e sabores do produto. Vende desde o caviar cor de pérola, que exige traje a rigor para ser consumido, até o cinza escuro, que você tira da tigela com colher de pau e passa no pão como as baianas fazem com o acarajé.
Daí, na categoria ovos, o grama do caviar chinês tornou-se comparativamente mais em conta do que um ovo produzido por uma galinha brasileira. E olhe que, à media de um ovo por dia, uma galinha, dependendo de sua expectativa de vida, permitirá o preparo de incontáveis omeletes. Já a fêmea do esturjão não tem essa sorte: suas ovas são removidas cirurgicamente com ela ainda viva e logo postas no sal, para se conservarem frescas e soltinhas. É possível que, em seus últimos momentos de vida, ela veja suas ovas indo para a salmoura.
Um amigo meu, o jornalista Fernando Pessoa Ferreira, comentou certa vez sobre o caviar violeta, produzido, segundo ele, pelo esturjão apaixonado. Como nem os chefs mais atualizados tinham ouvido falar, jogaram-se a uma frenética busca pelas aquaculturas orientais.
Não sabiam que Fernando, além de grande repórter, era também poeta.