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Vilões e megeras

 

Novela sem megera e mídia sem vilão deixam de ser novela e mídia. O sucesso da primeira depende de uma boa megera, intrigante, sem qualquer escrúpulo, capaz de todas as misérias humanas, de inventar que o filho não é do pai e que sua nora é adúltera. A mídia, em geral e com a certeza de que precisa de uma bola da vez, tem necessidade da fabricar um tratante, um ladrão dos bens públicos, um traidor e inimigo da sociedade.

Não assisto novelas, embora tenha sido diretor de teledramaturgia de um canal que teve alguns sucessos. Quando Ruy Guerra telefonou de Portugal para comprar os direitos de um romance meu, avisei-o de que a minha história não tinha nenhum vilão, nenhuma megera. Ruy, famoso, com sucessos internacionais no cinema, apenas respondeu: "Deixa comigo".

Na mídia, seria impossível algum órgão desprezar os vilões, e no caso de não haver vilões disponíveis na praça, os inventa. Nem preciso citar exemplos, mas já fui acusado de possuir uma luxuosa rede hoteleira no Rio Grande do Sul e de ter um contrato com a antiga União Soviética para acusar o regime totalitário, nascido em 1964, de intrigar os militares com a sociedade civil -o que, em parte, foi verdadeiro, embora sem nenhum vínculo contratual ou ideológico.

Deveria lembrar muitos casos, mas vou me limitar aos vilões do dia. Não entro no mérito das questões nem tenho provas ou vontade para acusá-los ou defendê-los. Dois deles são recentes: Eduardo Cunha e Paulo Maluf. Os jornais publicam quase que diariamente os extratos bancários de contas na Suíça e outros paraísos fiscais.

Contudo, faltam provas de que os dois, isolados ou conjuntamente, mataram o arquiduque da Áustria, em Saravejo, o que causaria a Primeira Guerra Mundial. E que botaram fogo na biblioteca de Alexandria

Folha de São Paulo (RJ), 27/10/2015