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Separando o joio do trigo

 

São muitos os especialistas que consideram Ezra Pound o maior poeta do século 20. Nascido nos Estados Unidos, era o Petrônio Árbitro da sua geração. Revisou o texto básico de Joyce e de outros monumentos literários do seu tempo.

Preferiu viver na Itália e foi entusiasta do regime fascista, chegando a fazer pesadas críticas à literatura americana e mantendo uma campanha feroz contra a sua própria pátria, inclusive num programa radiofônico radical.
Com a vitória dos aliados, foi preso e condenado à morte, mas, em respeito à sua projeção literária, escapou da sentença radical e foi recolhido ao manicômio, onde morreu desmoralizado.

Pound deu régua e compasso à produção literária e cultural e foi ele o juiz da manifestação artística.

Foi ele quem descobriu a mediocridade das obras da humanidade. No entanto, na literatura, pintura, música e outras manifestações artísticas, descobriu os pontos luminosos ("os punti luminosi"), que deram os melhores momentos da arte universal — poucos, mas bastantes, que até hoje servem de medida para avaliar os gênios universais.

Apesar de seu alucinado respeito pelo fascismo, considerava que os grandes momentos da arte universal tinham pontos luminosos que deram dignidade e valor ao patrimônio cultural do seu tempo. Num processo judicial feito pelos aliados, não foi condenado à pena capital, mas recolhido ao hospício.

Pulando de assunto: verificamos que, principalmente na política, educação e na vida em geral faltam pontos luminosos que justifiquem mais da metade da trajetória do homem.

Com as crises dramáticas que marcam o nosso tempo, sentimos a falta de um Ezra Pound que consiga descobrir os pontos luminosos que possam nos levar a um destino melhor. 

Folha de São Paulo (RJ), 09/10/2016