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Respondendo à barbárie no Brasil e na Nova Zelândia

 

Vejam a diferença entre duas culturas atacadas ao mesmo tempo pelo mesmo tipo de barbárie. Logo depois do massacre de duas mesquitas onde 50 muçulmanos foram mortos e 80 feridos pela ação de um supremacista branco, a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, reagiu rapidamente e prometeu mudar a lei para reforçar o controle de armas — isso num país com baixo índice de homicídios e que é um exemplo de bom comportamento urbano.

No Brasil, depois do massacre da escola de Suzano, em que dois ex-alunos executaram oito pessoas e um dos atiradores matou o outro, suicidando-se em seguida, a reação foi bem diferente. O líder do governo na Câmara, Major Olímpio, declarou que “a tragédia seria evitada se os professores estivessem armados”. Ou seja, ele quer armar as 182 mil escolas do país, talvez influenciado pela foto dos 117 fuzis do arsenal de um dos acusados de matar Marielle Franco e Anderson Gomes. A sugestão é considerada por muitos, como Fernando Henrique Cardoso, um “desatino”. “Armas devem estar nas mãos de policiais e militares que saibam usá-las”, diz o ex-presidente.

A ideia de que armado o cidadão tem mais chance de defender a si e a sua família caso sejam atacados foi o argumento usado por Bolsonaro para facilitar, por decreto, a posse de armas de fogo em casa ou no local de trabalho (na época, ele disse ser “apenas o primeiro passo”).

Essa crença é desmentida por um dos principais especialistas no assunto, o professor David Hemenway, da Universidade de Harvard. Baseado em estudos e pesquisas, ele afirma que se trata de uma lenda que, na verdade, aumenta os riscos para os moradores. “O que sabemos com certeza é que uma arma em casa pode ser um perigo, pois é usada muito mais frequentemente não contra o invasor, mas contra sua própria família”, ele adverte.

Por outro lado — o lado da sensatez — vale a pena comemorar os resultados da Operação Lei Seca, que age em favor da vida. Nos dez anos que está contemplando, as 22 mil blitzes realizadas reduziram em 53% as mortes em acidente de trânsito no Estado do Rio.

O Globo, 20/03/2019