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A rebelião dos macacos

 

Terminou em impasse a audiência pública promovida pela Secretaria do Meio Ambiente de Uberaba (MG) para decidir o futuro de Chico, macaco-prego que vive no parque Mata do Ipê. Ele é acusado de invadir um prédio público, de furtar e destruir objetos e documentos. Cotidiano, 11 de agosto de 2007


Dois macacos-prego viraram caso de polícia, em Exu, Pernambuco, após invadir e causar prejuízos em pelo menos cinco casas da cidade. Em um dos imóveis, um dos animais promoveu um incêndio, segundo moradores. Um dos macacos foi detido por moradores, que também acionaram a polícia para retirar o outro macaco de uma casa. Disse o delegado de Exu, Romildo dos Santos: "Ficamos sabendo que ele entrou na casa de um pastor e fez a maior bagunça. Quebrou o teclado do computador, espalhou comida pela casa e até rasgou as páginas de uma Bíblia". Cotidiano, 14 de agosto de 2007.


Dizem que já convocaram um misterioso personagem chamado Tarzan para chefiar as forças da repressão


NUM PRIMEIRO momento, os incidentes envolvendo macacos-prego, com apenas três dias de intervalo, causaram surpresa. E, como costuma acontecer nessas ocasiões, hipóteses foram levantadas. Há quem sustente que os incidentes não ocorreram por obra do acaso, ao contrário, têm fundamentos científicos. Os agravos sofridos pelos macacos teriam acelerado dramaticamente o processo de evolução, pelo qual os humanos, segundo Darwin, passaram.


Como resultado desse avanço biológico e social, os primatas aprenderam a se organizar e constituíram aquilo que está sendo chamado de FLM (Frente de Libertação dos Macacos). O objetivo dessa organização é retomar o controle do território dos quais os humanos se adonaram.


Um processo que começou há milênios e está tendo continuidade agora, assumindo a aparência de suposta legalidade. Como ocorreu na audiência pública convocada para decidir o futuro de Chico, um bravo macaco-prego que demonstrou sua inconformidade invadindo um prédio dos humanos, onde, tomado de justa ira, destruiu objetos e documentos. Foi detido e levado a uma audiência, num ato de flagrante humilhação. Entre parênteses também é humilhação dar, arbitrariamente, um nome caracteristicamente humano a um macaco-prego. Perguntaram a ele se queria ser chamado de Chico? Ele autorizou o uso desse nome?


Essas coisas acabaram provocando a ira dos macacos-prego, uma ira que se espalhou pelo país e que tem resultado em atos de protesto, sobretudo na cidade de Exu (nome significativo, como se sabe). Daí a formação da FLM. Daí a plataforma que garantirá a cada macaco, não apenas o seu galho, com uma farta dose diária de bananas, essa fruta maravilhosa que alguns humanos do establishment tentaram desmoralizar criando a expressão "república de bananas".


É claro que os donos do poder reagirão. É claro que tentarão anular o movimento emancipador, recorrendo até à violência. Dizem inclusive que já convocaram um misterioso personagem chamado Tarzan para chefiar as forças da repressão. Nada conseguirão, porém. Os macacos-prego se propõem a bloquear todos os cipós que esse Tarzan eventualmente usaria para seu transporte. Como os humanos, mas sem macaqueá-los, os membros da FLM lutarão até o fim por seus direitos.


Folha de S. Paulo (SP) 20/8/2007