Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Quatro histórias passadas no Japão

Quatro histórias passadas no Japão

 

Concorrendo com os americanos

Ao visitar o Japão, para promover O Diário de um Mago, perguntei ao editor Masao Masuda, por que os japoneses conseguiram conquistar mercados que antes eram dominados pelos americanos.


– Muito simples – respondeu Masuda. – Os americanos têm uma idéia, trancam-se numa sala com pesquisas, tomam decisões, e gastam uma energia imensa para provar que estavam certos. Nós não queremos provar nada a ninguém: deixamos que cada ser humano manifeste suas necessidades, e procuramos solucioná-las. O resultado prático é que cada um termina comprando aquilo que já desejava antes.


“Quem só deseja demonstrar que está certo, termina por agir errado.”


Destruindo e reconstruindo

Sou convidado a ir a Guncan-Gima, onde existe um templo zen-budista. Quando chego lá, fico surpreso: a belíssima estrutura está situada no meio de uma imensa floresta, mas com um gigantesco terreno baldio ao lado. Pergunto a razão daquele terreno, e o encarregado explica:


– É o local da próxima construção. A cada 20 anos, destruímos este templo que você está vendo, e o reconstruímos ao lado.


“Desta maneira, os monges carpinteiros, pedreiros e arquitetos têm possibilidade de estar sempre exercendo suas habilidades, e ensiná-las – na prática – aos seus aprendizes. Mostramos também que nada na vida é eterno – e até mesmo os templos estão num processo de constante aperfeiçoamento.”


A medida do amor

Sempre desejei saber se era capaz de amar minha mulher como o senhor ama a sua – disse o jornalista Keichiro a meu editor Satoshi Gungi enquanto jantávamos.


– Não existe nada além do amor – foi a resposta. – É ele que mantém o mundo girando e as estrelas suspensas no céu.

– Sei disso. Mas como vou saber se meu amor é grande o suficiente?

– Procure saber se você se entrega, ou se você foge de suas emoções. Mas não faça perguntas como esta porque o amor não é grande nem pequeno; é apenas o amor.


“Não se pode medir um sentimento como se mede uma estrada. Se você fizer isso, vai começar a comparar com o que lhe contam, ou com o que está esperando encontrar. Desta maneira, sempre vai escutando uma história, ao invés de percorrer seu próprio caminho.”


O verdadeiro respeito

Durante a evangelização no Japão, um missionário foi preso por samurais.


– Se quiser continuar vivo, amanhã terá que pisar a imagem de Cristo, diante de todos – disseram os guerreiros.


O missionário foi dormir, sem nenhuma dúvida no coração: jamais cometeria tal sacrilégio, e estava preparado para o martírio.


Acordou no meio da noite, e ao levantar-se da cama, tropeçou num homem que dormia no chão. Quase caiu para trás: era Jesus Cristo em pessoa!


– Agora que já pisou em mim, vá lá fora e pise na minha imagem – disse Jesus. – Porque lutar por uma idéia é muito mais importante que a vaidade de um sacrifício.


Diário da Manhã (GO) 21/1/2007