Coluna recente (1°/9) em que falei de Getulio Vargas inspirou aos leitores uma chuva de comentários de ojeriza ao homem que, como mandatário "provisório", ditador cruel ou presidente constitucional, governou o país por 19 anos (1930-45 e 1951-54). Pelo visto, o líder que a história consagrou como o pai das leis trabalhistas e da industrialização do Brasil começa a perder terreno para aquele que, antes, teve a seu serviço uma polícia recordista em prisões ilegais, torturas inenarráveis e assassinato de seus inimigos políticos. Mas, mesmo um passado como o de Getulio, que o futuro só a custo começou a revisar, pode se beneficiar de um presente perpétuo.
Reportagem de Marina Pinhoni, Naief Haddad e Nicholas Pretto nesta Folha revelou que, segundo o IBGE, 2.593 dos 5.565 municípios brasileiros têm uma rua, avenida ou praça em homenagem a ele. A via mais famosa é a avenida Presidente Vargas, no Rio, inaugurada em 1944, no auge de seu poder. Eu acrescentaria os bustos, estátuas, rodovias e duas cidades, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, que ainda levam o seu nome. Uma terceira, em Minas Gerais, que teve sua denominação alterada em 1938 para louvá-lo, só em 1947 recuperou o nome original: Itabira, terra de Carlos Drummond.
Não por acaso, o major Filinto Müller, carrasco oficial de Getulio e uma espécie de pré-coronel Brilhante Ustra, continua a nomear mais de 40 ruas brasileiras, segundo outra reportagem da Folha, por Paula Soprana, Géssica Brandino e também Marina Pinhoni. É verdade que tal apreço pelo abominável Filinto se concentra na zona do agro, gleba bolsonarista. Mas outros nomes de macabra memória continuam a manchar placas de esquinas em toda parte.
Só entre os generais da ditadura militar, há 729 vias com o nome de Castello Branco, 310 com o de Costa e Silva e 279 com o de Médici. Geisel tem meros 94 e Figueiredo, ridículos 73. Onde está o neto deste, Paulo Figueiredo, que ainda não convocou seu fâmulo Donald Trump para nos punir por tal humilhação ao vovô?