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Pirâmides do ódio

 

Não conhecia Felipe Neto, o mais famoso youtuber brasileiro, influenciador de jovens, inclusive da geração de minha neta de 10 anos, até que ganhou também prestígio político, depois que, num vídeo no “New York Times”, considerou Bolsonaro o pior presidente do mundo na reação à pandemia. A repercussão lá fora foi enorme.

Vendo domingo sua entrevista na GloboNews, descobri que os bolsonaristas o detestam também por inveja. Fluente e articulado, ele é capaz de falar com brilho mais de uma hora sem pronunciar um palavrão, enquanto o presidente solta 34, como fez naquela inesquecível reunião do Ministério em 22 abril.

Não por acaso, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, solidarizou-se com ele pelas ameaças de que está sendo alvo pela internet e fisicamente, em frente ao condomínio onde mora. Aproveitou para convidá-lo a participar dos debates no Congresso sobre o combate às fake news.

Pelo que expôs aos entrevistadores (Natuza Nery, Cristiana Lobo, Cecilia Flesch, Camarotti e Gabeira), Felipe conhece bem, vítima que é, o funcionamento do “maior esquema de fomentação de ódio na internet”. Ele acha que, isso destruído, será desarticulada a “maior ferramenta da extrema direita hoje no Brasil”. A melhor notícia é que ele espera que se esteja perto disso. “A polícia já deu indícios de que sabe quantos e quais são. Eles não são muitos, os grandes, os cabeças”.

O plano é aparentemente simples: tem a forma de uma pirâmide, uma “pirâmide de grupos”, e funcionaria assim: “no grupo duro, de cima, estão os cabeças, poucos, que determinam o que será propagado e os alvos a serem atingidos. Esses grupos repassam para os de baixo, até chegarem aos grupos de WhatsApp, que são milhares.” Não seria preciso nem mais os “robôs”, já que as ordens chegam aos capilares desse método de destruição de reputações como se fossem informações verdadeiras, montagens, hashtags. “São pessoas comuns, inocentes, bolsominions 2022, que transmitem as mensagens sem saber a origem.”

Por fim, Felipe Neto procurou tranquilizar os entrevistadores garantindo que, como comunicador, rejeita qualquer tipo de censura.

O Globo, 05/08/2020