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Passaporte do Brasil

 

Escrevi nos velhos tempos dos "Diários Associados" que o passaporte do Brasil como que tinha invisível, nas suas páginas, um filtro sedutor, por aninhar a esperança de uma terra dadivosa, já exaltada pelo primeiro cronista pela sua opulência e as oportunidades de enriquecimento. Fazer América era nos Estados Unidos e no Brasil. Infelizmente, acentuava eu nos artigos que escrevia sobre o assunto, essa fascinante sedução, que enriqueceu o mítico Matarazzo, fundador da dinastia, já está se apequenando, pois outras terras já embalam mais sonhos do que a nossa terra.


No fim do século 20 e início deste século, os passaportes que mais atuam no imaginário dos sonhadores, capazes da aventura da mudança, são os Estados Unidos, que continuam a seduzir, a União Européia, em particular a Alemanha e a Inglaterra, principalmente a Inglaterra. O compatriota Jean Charles, que morreu por incrível fatalidade numa estação de metrô em Londres, cidade imperial, era um dos muitos jovens do Brasil atraído pelas promessas de enriquecimento ou, se não tanto, ao menos vida farta e feliz. Não sei quantos imigrantes brasileiros trabalham em Londres e outras cidades do Reino Unido, mas devem ser muitos.


Pelo que os jornais deram da fatalidade que colheu o brasileiro assassinado no metrô, ele morreu baleado por atiradores de elite por estar correndo, dando a impressão à polícia que fugia dela. Uma coincidência que tirou a vida do jovem atraído pela esperança de vida melhor do que no Brasil, em outras épocas terra compensadora do esforço para enriquecer ou, ao menos ter vida melhor do que aqui, e sem dúvida mais segura. O governo britânico reconheceu o erro, mas reafirmou a decisão de atirar. É o resultado do pânico, originado pelo nefasto exército de sombras, que se constituem no perigo presente nas grandes aglomerações sitiadas que são as do metrô. Esse conjunto de circunstâncias tirou a vida de um forasteiro com visto permanente. Uma pena para ele, a família e o governo britânico. E o destino, como se diz vulgarmente.




Diário do Comércio (São Paulo) 28/07/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 28/07/2005