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Os Vivos

 

“O homem deve ser destruído de novo” – a frase do grande Goethe nos deixa perplexos. Ou “a funda dos homens”- para o Poeta francês Michaux.

Nem uma coisa, nem outra. Porque já não bastam as coisas que oprimem o homem, sejam as forças econômicas na recessão ou sob o império do capital, sejam as forças da natureza na peste, nos terremotos, tempestades, ou desastres.

Mas destruição é o que se vê de muitos lados, construção rareia. Observa o poeta “Destruir é coisa fácil/ construir, quem poderia?”

Há que ter piedade, misericórdia, amor. O que destrói é o ódio, a inveja, o ressentimento, o que edifica é amor.

O que destrói não é palavra, é a erosão do nada, a erosão do desiquilíbrio, a loucura ou obsessão.
Muitas vezes, os animais se assemelham aos homens na ferocidade, outras são exemplos de fidelidade, maior do que a dos humanos, como os cães.

Mas a palavra é pura, inocente, quando soprada pelo Espírito, a palavra purifica, reanima, consola e muda a existência. Porque essa palavra é sangue e o sangue, Espírito.

Não, não creio que o homem deve ser destruído, salvo o velho homem em nós, para brotar o novo. Diz Hemingway, num livro magnífico, que é “O Velho e O Mar” que “o homem pode ser derrotado, mas não vencido”.

Vivemos diante de impactos sociais, econômicos, políticos ou da natureza. Não sabemos muito dos mortos, mas sabemos do que é vivo. E a Obra de Deus – não é dos espertos – mas dos sábios e vivos. Sonhamos entre os vivos, por nos nutrirmos de palavra.

Elias Canetti, com acerta, assevera: ”De noite o coração é lâmpada”. E a Palavra é “lâmpada para os pés”, segundo a Bíblia.

Nesta noite, sob o vírus, se o coração é lâmpada, a Palavra é o coração dos vivos, que se levantam da escuridão. Está próxima a aurora.

Tribuna Online, 19/09/2021