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Os prêmios do futuro

 

Por se achar bem maior do que ele, ou então acostumado com a guerra, precisava se alongar no usufruto da paz. Mandou sua esposa representá-lo na entrega do galardão, em Estocolmo. Sartre teve uma atitude mais peremptória e orgulhosa: recusou-se a recebê-lo. 

Disse Nelson Rodrigues, com a proverbial verve, que se um brasileiro recebesse o Nobel, iria à nado para a Suécia. E lógico que um brasileiro ficaria entusiasmado, mas ir à nado é metáfora. Talvez nadasse na alegria por ser um tiro na lua ou até a luz de um tiro. Porque o Brasil parece tão fora das navegações do universo, que nunca entrou nesse escolhido rol. Nem por lapso de memória. Ou de esquecimento. 

E o que não acontece? Ou acontece antes de acontecer. Vejam os leitores: os Estados Unidos não elegeram agora Donald Trump, quando o mundo não esperava e as sondagens não funcionaram? As sondagens erraram também no Prêmio Nobel para Bob Dylan este ano. Agradeceu e afirmou que não poderá recebê-lo por compromissos anteriores. Abriu o sorriso e foi tudo. O mesmo fizeram, com outras razões, Harold Pinter e Dóris Lessing. 

Agora a maioria dos noticiários preveem o desastre do governo Trump, ainda que se saiba que a prática difere da teoria e o exercício do poder difere da candidatura. O povo americano fugiu da mesmice ou do juridicamente 0 raciocínio humano não é privilégio de ninguém, nem dos políticos, nem dos cientistas correto da linha democrata. E poderão muitos vaticínios sombrios cobrir-se de engano. Porque a realidade é que enuncia a nova realidade. Houve lapso nas sondagens antes e tende a haver depois. Nem a mídia, nem os governos são futurólogos, com exceções. Adivinhar o porvir, por exemplo, até 2020 do PAC, do Teto da república é esquecer, com Luiz Vaz de Camões, que o tempo é composto de mudança. E se não há mudança -não é tempo. Só se é tempo mui diverso do que conhecemos. Sim, concordo que os gastos dos Estados devem ser contidos e fixados, dentro da variação dos anos. Mas desconfio que o governo tenha o maravilhoso dom de profecia, dado a raros sobre este inefável Planeta. Em regra, o falho raciocínio humano não é privilégio de ninguém, nem dos políticos, dos cientistas ou economistas. Adverte a Bíblia que a cada dia cabe o seu cuidado. 

O poeta Paul Valéry dizia que o futuro não é o que se pensava Mário Quintana, de saudosa memória, prefere os tartarúlogos, aos futurólogos. Porque aqueles, simplesmente, escavam na areia e esses tentam escavar o mapa das vindouras gerações, com certa vocação 

A Tribuna (ES), 11/12/2016