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Os direitos humanos no ano que finda

 

O final do ano reclama um balanço dos ganhos dos direitos humanos, e do que passará às instâncias das Nações Unidas, como avanço da consciência em nosso tempo.

O repto das "guerras de religiões" nos levou, de saída, aos conflitos com a fé islâmica, e aos limites de sua crítica, frente à liberdade de expressão, vista como uma conquista definitiva do mundo ocidental. Levanta-se a questão de saber-se até onde está em causa o bem comum, no levante imediato dos inconscientes coletivos, senão de nações, depois das caricaturas de Maomé e dos vilipêndios ao profeta nos jornais americanos ou franceses. O repto se propõe como, de fato, um estopim incontrolável, já que as sanções subsequentes deparam um mal feito e todo um abalo de imagem, saída do foro privado para o atentado coletivo, ou, como tal, assumido pelo mundo islâmico. E é esta mesma nova sacralização política que o governo da Fraternidade Muçulmana, no Egito, leva a outra quebra da visão ocidental da coexistência das nações, e da competência dos seus governos. É o que se vê, agora, quando uma universidade - a da milenar AlAzhar, no Cairo torna-se a instância de julgamento dessas tensões, em completa substituição do Judiciário.

Já no domínio da aceleração dos conhecimentos biológicos, cresceu a trazida ao direito internacional da afirmação dos direitos genéticos. Reforça-se uma consciência, possivelmente preventiva, dos tratamentos das doenças de Parkinson e Alzheimer, mas, sobretudo, do que é considerado, hoje, a pior dessas mazelas, ou seja, o Mal de Huntington, visto como incurável, mas suscetível, como propõem várias clínicas, de possível minoração. Doutra parte, dilaceram-se, agora, os Estados Unidos, no que possa ser o paradeiro dos massacres das escolas públicas, extremados depois de Columbine ou do Arkansas, no horror de Newtown. Repetem-se como patologias da sociedade de massas os ritos da vitimação anônima, seguidos pelo suicídio do delinqüente. Toda veemência de Obama, agora, em cortar o mal pela raiz defronta esta resistência enraizada dos republicanos do país, ciosos de garantir o seu direito à arma, assegurado na própria Carta Magna. Fugindo à solução óbvia, a National Riffle Association propõe um compromisso esdrúxulo, qual o de garantir milícias armadas em todas as escolas, frente a esta emergente catástrofe social. E é dentro de uma clara ambiguidade que o novo governo democrata vê as chances da emenda do Congresso, eliminando o porte de armas. Vai à frente, sem dúvida, a iniciativa do plebiscito, mas até onde, nos seus primeiros vaivéns da medida, perderá o governo o momentum do choque, de par com o apoio popular do início do mandato? Na promessa da vitória democrata, pesou, também, esta chance, enfim, de saírem os Estados Unidos da sua solidão internacional, rejeitando a Corte de Haia para os crimes contra a humanidade. Não é outro, talvez, o momento em que Washington possa, de vez, se descartar do fundamentalismo republicano, aceitando a convivência de todas as nações pelos seus estados de direito, na melhor tradição dos founding fathers da América.

Jornal do Commercio (RJ), 28/12/2012