Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Opinião: Ano vai, ano vem

Opinião: Ano vai, ano vem

 

O sentimento mais profundo do homem é o desejo de imortalidade. Para alcançá-lo, construiu a esperança na imortalidade da alma.


Na minha juventude, quase menino, li um livro que muito me impressionou: O sentimento trágico da vida, de Unamuno, em que aborda essa obsessão de sermos eternos. Ele diz que o cristianismo resolveu esse sentimento com a ressurreição da carne. Todos vamos ressuscitar um dia, com nossas próprias vestes e corpos.


Hoje esse desejo de imortalidade transplantou-se da religião para a ciência. Kurzweill e Grossman dizem que teremos em breve instrumentos científicos para viver eternamente. E arriscam: em 2100 nossa expectativa de vida será de 5 mil anos.


No princípio do século 20, nossa expectativa de vida era de 37 anos. Agora essa expectativa no Brasil é de 72 anos (67 para homens e 75 para mulheres). No Japão, é de 81 anos.


No Maranhão, quando fui governador, era de 29 anos! Todos éramos sobreviventes. Hoje é de 67 anos. A malária, as infecções intestinais, a tuberculose e as doenças epidêmicas e endêmicas asseguravam altas taxas de mortalidade infantil.


Na minha infância em Pinheiro, a Farmácia Paz, de José Alvim, anunciava a famosa "Pílula Contra", usada por todos, que combatia "congestão, sangue grosso, quentura intestinal e todas as doenças desconhecidas".


Fukuyama, aquele do "fim da História", considera "imoral" toda pesquisa para prolongar a vida além dos 80 anos!


Mas nada disso desestimula os cientistas. Noventa por cento das mortes são do coração, câncer, diabetes, e eles já dispõem de caminhos para detê-las. Invocam os avanços da biotecnologia, nanotecnologia, inteligência artificial, novos fármacos e engenhocas do tamanho de uma célula que colocadas dentro do organismo vão curar as doenças onde elas se encontrarem. Espécies de foguetes terra-ar, ou sanguessugas.


A cada ano dobra-se a quantidade de informações que o conhecimento humana acumula. Assim, para 2007 já sabemos que vamos saber o dobro do que sabíamos em 2006 e que quem quiser acreditar em tudo isso ficará na esperança de, a cada ano, aumentar dois anos da expectativa de vida.


Assim todos os anos vão ser bons, se continuarmos vivos graças a Deus.


Sou um otimista, acho a humanidade melhor a cada ano. Com estes olhos agradeço 2006 e saúdo com força positiva 2007.


Agora esse negócio de viver 5 mil não é a minha. Deve ser muito chato e cansativo.


A meus leitores... bons anos, não só 2007.


Jornal do Brasil (RJ) 29/12/2006

Jornal do Brasil (RJ), 29/12/2006