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Onde estão os pediatras?

 

Uma recente e importante pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais em todo o país reflete a dimensão de um problema que chama a atenção dos responsáveis pela saúde pública e que é sentido pela população com grande intensidade: trata-se da carência de pediatras, médicos de família e clínicos gerais, ou seja, aqueles profissionais que resolvem, ou poderiam resolver, 80% dos problemas de saúde.

Estamos falando de uma carência que não é pequena, registrada em quase um quarto (23,1%) dos municípios brasileiros, sobretudo os menores, e sobretudo os do Norte e do Nordeste. Cerca de dois terços (64,3%) dos hospitais públicos e privados de Minas Gerais têm dificuldade para contratar pediatras, os piores resultados entre 22 especialidades pesquisadas, como anestesiologia e cardiologia.

A percentagem de pediatras entre os médicos caiu de 13,5% em 1996 para 10% atualmente. E no entanto a pediatria sempre teve um apelo muito forte para estudantes de Medicina; afinal, cuidar de crianças doentes mobiliza o que temos de melhor, e é por isso que, na minha turma, um grande número de colegas, todos de excelente nível, encaminhou-se para a prática pediátrica. O que, então, mudou?

Analisando o assunto, o Conselho Regional de Medicina de SP (Cremesp) faz algumas considerações que ajudam a entender as razões dessa desconcertante mudança. “O médico pediatra é, antes de tudo, um orientador”, diz o documento. Mais do que isto, o pediatra deve estar qualificado para atender aos vários problemas que surgem na medicina geral.

E isto coloca a especialidade na contramão dos rumos da medicina atual, na qual a especialização é a regra e na qual a conversa com a família, da qual resulta a orientação pediátrica, é substituída por exames e procedimentos e pela obviamente necessária implantação de unidades de terapia intensiva (UTIs) neonatais e pediátricas.

Há, no pediatra brasileiro, uma diminuição da autoestima; são profissionais trabalhando com baixos salários e em condições inadequadas. Pelo menos este último fator, diz o Cremesp, poderia ser corrigido: “Uma melhora na remuneração dos médicos reduziria a prática de trabalhar em vários hospitais, o que acaba esgotando o profissional, que não tem tempo para se atualizar como deveria.” Igualmente um plano de carreira representaria um estímulo profissional de primeira ordem.

Precisamos de pediatras, de generalistas, de médicos de família. É a nossa situação de saúde que assim determina. E são sobretudo as crianças que o exigem.

Zero Hora (RS), 13/11/2010