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Oceano sem fim

 

Com tantos assuntos para comentar, com tantos escândalos a criticar, limitei-me a lembrar uma rixa bem carioca: a rivalidade entre os trens e os trilhos da Central do Brasil e da Leopoldina. Nada mais alienado do que a minha cisma contra os leopoldinenses, que para mim eram um palavrão que só usava para os meus desafetos. Na minha injusta apreciação, o leopoldinense era quase um palavrão.

No último domingo, ao folhear revistas e jornais do dia, achei que não fora longe demais. Afinal, nunca a realidade que atravessamos foi tão suculenta para a ferocidade de uma crítica radical.

Não adianta demonizar o PT, embora ele mereça mais que o "leopoldinense" acima citado. Afinal o Partido dos Trabalhadores teve seus momentos. Acontece que tanto se avacalhou que agora é uma metáfora apropriada de todos os escândalos e erros do próprio governo.

Não podemos generalizar considerando todos os petistas como pessoas desprezíveis. No entanto, o estado maior do partido ficou atolado num lamaçal que nem a justiça nem a polícia conseguirão limpar.

Não se pode personalizar a lama e a crise que atravessamos na pessoa da presidente Dilma e de seu fiador mais notório, o ex-metalúrgico, ex-presidente além de muita coisa ex. Tudo leva a crer que em breve será também um ex-candidato à próxima Presidência da República.

Quando uma crise como a atual chega ao ponto a que chegamos, mesmo que haja exagero, prevenção e má-fé nas acusações reais e suposições cada vez mais justificadas, o que resta da credibilidade do governo manuseado pelo PT e seus principais dirigentes?

O que sobra representa um dos períodos mais infames de nossa vida pública. Não se trata de um mar de lama, mas de um oceano sem fim.

Folha de São Paulo, 30/06/2015