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O não de franceses

 

Foram dois franceses, Jean Monet e Robert Schuman, que tiveram a idéia do mercado comum europeu, hoje União Européia.


Submetendo sua idéia aos governos de seis países europeus, inclusive a França, então sob o governo do general De Gaulle, conseguiram que resolvesse aderir a essa proposta e assinaram o documento original de nascimento da instituição, que iria transformar a economia e o sistema mundial alfandegário em plena abertura das imposições aduaneiras, em benefício do desenvolvimento de cada país e da comunidade de que eram os autores muito bem sucedidos. A idéia se expandiu, atraiu novos membros, e hoje temos a União Européia, com pleno sucesso econômico.


Mas, essa União Européia, que constitui uma tentação para todas as nações, e, daí a idéia se irradiar em vários mercados comuns no mundo inteiro, necessita de uma Constituição e o ex-presidente Giscard d’Estaing foi incumbido de presidir a um grupo de estudiosos para elaborarem a Constituição da União Européia.


Na era do constitucionalismo, a idéia foi bem recebida e a Constituição, pronta, segundo o espírito da época, quer dizer, o laicismo que impera em todos os quadrantes da terra, foi submetida domingo último ao povo francês, chamado a participar do referendo que a Constituição reclamava dos franceses. Tudo para a consolidação da União Européia.


A mídia pôs-se em movimento, os partidos também se puseram em movimento, os líderes políticos seguiram a movimentação geral e o dia 29 seria a grande data da história de um pequeno mercado comum que se agigantou e tem hoje moeda forte igual para os membros todos da comunidade.


Assisti por nossa televisão os comícios pró e contra a aprovação da Constituição, presumivelmente de alta qualidade técnica, segundo a nação onde já tiveram vigência diversas Constituições, desde a Revolução de 1789. Desde logo os organismos de pesquisas de opinião começaram a revelar que uma grande parcela do povo francês não queria a Constituição. O presidente Jacques Chirac saiu a campo e defendeu a sua aprovação. Mas o não era favorito cada vez mais, e favorito chegou ao 29 de maio.


O resultado das apurações é conhecido do mundo inteiro. Por pequena maioria os adeptos do não votaram contra a aprovação pelo referendo da Constituição elaborada sob a presidência de um ex-presidente francês. Até o derradeiro minuto da campanha pelo sim, de aprovação, os seus adeptos tinham a esperança de ganhar.


Abertas as urnas, o resultado converteu-se numa ducha de água gelada no presidente da República francesa e todos os demais que o seguiram nessa jornada. Ganhou uma parcela das esquerdas e também do centro e, provavelmente, da direita e do centro-direita. Os analistas vão esmiuçar todos os resultados de cada comuna, de cada município, enfim, de toda a França, para apurarem qual a origem dessa aversão por uma Constituição, que, a rigor, pouco influirá se vier a ser reintroduzida na agenda dos interesses da EU.


Esperemos que tenham êxito, o que é difícil para um povo tão politizado e de tanta sensibilidade quanto o francês. Esperemos, pois, a EU.




Diário do Comércio (São Paulo) 06/06/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 06/06/2005