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O mundo não acabou

 

"Verdi è morto!" -a saga de Bertolucci "1900" começa com os italianos, apavorados, gritando pelas ruas que o autor de "Aida" tinha morrido. O que seria da Itália sem o seu grande compositor?

Quando Stálin morreu, a cúpula do Kremlin demorou dois dias para que o povo soubesse da morte do "pápuska". Anos depois, interrogado sobre o assunto, o sucessor Khruschov explicou que a cúpula do poder soviético acreditava num suicídio em massa, o sol não nasceria no dia seguinte.

Estava eu na minha mesa de trabalho na Redação da "Manchete" quando o fotógrafo Frederico Mendes se aproximou, contrito, voz patibular, e me declarou: "Chagall morreu. O que vai ser de nós?".

Steve Jobs também morreu. Sua importância para a história dos tempos modernos é evidente, indiscutível. Poucos homens na crônica da humanidade criaram equipamentos sem os quais não podemos mais viver.

Contudo os necrológios que estão sendo feitos na imprensa mundial dão a impressão de que, em termos de informática, de era digital, chegamos ao fim da linha, nunca mais haverá alguém como o criador da Apple.

Ninguém poderá (ou ousará) contestar a importância de Steve Jobs, não somente pelo que ele criou, mas pelo que deixou em processo, um processo tecnológico que alguém de alguma forma continuará e levará adiante. Daqui a dez anos, teremos tais e tantas novidades, aparecerão novos Steve Jobs, que ficaremos sem saber o nome do inventor da roda -como, de fato, não sabemos, embora a roda, atribuída aos sumérios, seja ainda considerada a maior invenção da humanidade.

Lamentamos a morte de Jobs, a sua luta contra a doença. Continuaremos admirando o seu espírito jovial e louvando a sua obstinação de ir cada vez mais à frente no campo eletrônico.

Folha de São Paulo, 11/10/2011