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O filósofo e o governo

 

Hoje em dia, em todos os países, nos acostumamos a escutar com respeito e reverência os chamados “cientistas políticos” - como se a política fosse algo igual à matemática ou à física - seguindo uma série de regras lógicas e racionais. Se assim fosse, não estaríamos vendo a violência na América Latina, a miséria na África, os confrontos religiosos espalhados pelo mundo inteiro, os americanos e iraquianos mortos em nome de uma causa perdida e de uma guerra arbitrária. Se política fosse uma ciência, mesmo inexata, bastaria aplicar algumas equações certas e conseguiríamos empurrar adiante a civilização e o ser humano.


Estamos cansados de saber que tal raciocínio é absolutamente irreal; e, por causa disso, quanto mais o povo escuta falar do tema, mais associa a palavra “política” a coisas negativas.


Isso é injusto. Existe muita gente bem-intencionada procurando fazer o melhor por seu país e por seu povo. Mas o sistema político, tal como vemos hoje em dia, entrou em um círculo vicioso, que pode nos levar de novo à idade das trevas; um povo cansado de ver suas esperanças frustradas, perdido entre as incompreensíveis e contraditórias análises dos “cientistas políticos”, termina buscando um Messias ao invés de um governante, e assim voltam os ditadores.


O que é a política, no meu entender? Um sistema de valores morais, discutidos livremente pela sociedade e colocados em prática, não pela força, mas pelo bom senso - “é melhor obedecer a algumas regras, que ver tudo a sua volta transformar-se em caos”.


Meio século antes de Cristo, nasceu na China um homem que jamais ocupou um cargo importante, mas que - baseado simplesmente em sua observação pessoal e em suas conversas com o povo - resolveu dedicar grande parte de seu trabalho a compreender a relação entre os governantes e os governados. Todos nós já ouvimos o seu nome: Confúcio. Vale a pena lembrar alguns de seus ensinamentos, que atravessaram milênios, iluminaram alguns dos governos mais importantes da história e continuam mais atuais que nunca (algumas frases estão adaptadas ou condensadas):


1) Quando estamos diante de pessoas dignas, devemos tentar imitá-las. Quando estamos diante de pessoas indignas, devemos olhar para nós mesmos e corrigir nossos erros.


2) Em um país bem governado, a pobreza é algo que envergonha. Em um país mal governado, a riqueza é algo que envergonha.


3) As mudanças podem acontecer lentamente; o importante é que continuem acontecendo.


4) O homem passa sua vida inteira tentando complicar algo que é simples: as relações humanas.


5) Nunca dê uma espada a um homem que não é capaz de sorrir e dançar.


6) Estude o passado, se você quer adivinhar o futuro.


7) Quando o objetivo de um governante parece muito difícil, ele não deve mudar de objetivo — mas encontrar um novo caminho até sua meta.


8) O bom líder sabe o que é certo; o mau líder sabe o que vende melhor.


9) Não existe nada de errado em tentar melhorar sua condição no mundo, desde que você se dê conta que não pode fazer isso sozinho; para crescer, precisa de aliados que cresçam juntos.


10) Cinco condições são necessárias para o bem-estar do povo: seriedade, honestidade, generosidade, sinceridade e delicadeza.


11) Quem escuta comentários maldosos, mesmo que seja por curiosidade, em breve se transformará em um homem mau.


12) A virtude não nasceu para viver sozinha. Todo aquele que a pratica terminará cercado de vizinhos.




O Globo (Rio de Janeiro - RJ) 06/06/2004

O Globo (Rio de Janeiro - RJ), 06/06/2004