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O desafio

 

Participei, mais ou menos por acaso, de um debate com outros jornalistas tendo como tema a retrospectiva do ano que acaba. Nenhuma novidade nisso. Todos os anos, antes mesmo de haver imprensa, desocupados de vários feitios e intenções faziam o mesmo, como se fossem árbitros da história, o "Petronius arbiter" dos romanos.

Os assuntos foram inevitavelmente pautados pela repercussão dos próprios fatos: a eleição de Dilma, o resgate dos mineiros do Chile, a Copa do Mundo da África do Sul, o Complexo do Alemão, os terremotos, as inundações, a doença do Zé Alencar, os cem anos de Noel Rosa.

Extrair uma conclusão de tudo isso, se o ano foi bom ou mau, além de difícil é inútil. Pessoalmente, acredito que 2010 não deixará rastro no tempo, nem mesmo se o considerarmos como o fim da Era Lula.

Feitas as contas, entre os prós e contras, o saldo será favorável a ele, apesar das muitas porradas que levou, sobretudo da mídia e de alguns cobras avulsos da sociedade. Eu próprio malhei-o repetidas vezes e creio que com razão, mas sem ódio, até mesmo com razoável simpatia. Ele é realmente o cara, capaz de mergulhos inesperados entre o certo e o errado. Sua atuação na última campanha eleitoral foi um dos baixos de sua carreira presidencial, que teve pontos altos, sobretudo no que se refere à sua comunicação. Bem verdade que houve uma exposição quase obscena de sua imagem, sobretudo nesta reta final de seu governo.

Mas sua biografia, seu jeitão e seu suor de povo farão dele um dos grandes presidentes deste país, apesar das pisadas de bola que deu com certo exagero. Ouvi seu último discurso em Recife e fiquei comovido. Lula será um desafio para os historiadores, que terão de explicar os seus foras e o seu sucesso.

Folha de São Paulo, 29/12/2010