Está sendo comemorado pelas instituições culturais o centenário de uma alta figura do patriciado cultural do Brasil, Affonso Arinos de Mello Franco. Membro de uma das mais ilustres famílias brasileiras, foi brilhante exponencial em todos os gênios literários que praticou, na memorialística, na biografia, na poesia, na ciência política, na oratória, na ação política; em suma, em todos os setores nos quais se fazia necessária a sua presença, e que receberam de sua parte elegância, talento e extremo bom gosto.
Affonso Arinos foi, sem exagero, um Rei Midas da cultura, pois tudo o quanto produziu merece a permanência na estante do interesse intelectual. Cito, ao acaso, um livro que gostaria de ter escrito, o opulento, erudito e estilistamente belo Amor à Roma , obra de grande inteligência e de notável bom gosto.
Na biografia destacou-se na de seu pai, Afrânio de Mello Franco. É todo um vasto painel da história política brasileira, coberto pela ação política do grande estadista. Estupendo pelo estilo literário, pela exposição da atividade política e diplomática de seu pai, pela formidável mancheia de dados históricos e biográficos da política brasileira num período prolongado. Pode ser colocada ao lado de Um Estadista do Império , do grande Joaquim Nabuco. Pode-se afirmar que os dois estudos são clássicos na literatura brasileira. No ensaio O Índio Brasileiro e a Revolução Francesa nos legou um estudo fundamental para se compreender a influência estranha do Brasil na grande revolução de 1789.
Affonso Arinos foi um mestre na atividade política, que exerceu quase sempre como oposicionista, principalmente na fase da UDN mineira, com lances históricos já compendiados pela história republicana. Esse é o grande homem de letras e de ação que se projetou superiormente bem no Brasil de seu tempo.
Diário do Comércio (São Paulo) 30/11/2005
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