Nada mais criativo do que o crime. E não é de hoje. A literatura policial vive há séculos dos mais imaginativos estratagemas para aliviar o alheio de seu dinheiro, propriedades ou poder —e de detetives que os decifrem e combatam. A diferença é que, na ficção, os bandidos não ganham nunca. Na vida real, os ladrões burlam a lei, escapam por seus buracos e, mesmo quando apanhados, quase nunca pagam à altura. Estamos falando dos grandes criminosos, claro —os pés de chinelo, mesmo inocentes, mofam nos cárceres.
Um amigo em recente passagem por um hospital me falou de um novo golpe contra pacientes internados vindo de gente de fora. Através do celular, WhatsApp ou telefone instalado no quarto, eles são contatados por supostos médicos ou representantes do hospital realizando "cobrança de honorários", oferecendo medicamentos importados com desconto e, o mais perigoso, comunicando a entrega de exames contra o pagamento de uma pequena taxa —via cartão de crédito ou débito, com o que capturam os dados da pessoa e limpam suas contas. Meu amigo foi instruído a não aceitar nenhuma oferta pelo telefone interno do hospital e denunciá-la imediatamente aos funcionários.
O velho golpe da filha que telefona chorando dizendo que foi sequestrada e que ameaçam matá-la se o resgate não for pago imediatamente tem agora um aliado terrível: a inteligência artificial. Até há pouco, os "sequestradores" contavam com o desespero impotente do pai ou mãe, fazendo acreditar que a voz entre soluços ao telefone era mesmo a de sua garota. Agora, graças à IA, eles reproduzem a verdadeira voz da falsa vítima. Não me pergunte como conseguem fazer isso. Pergunte à polícia.
Outros golpes correntes são as mensagens informando que você tem dinheiro a receber, que está devendo algo ao correio ou que precisa emitir uma nota fiscal —e, para tal, basta fornecer os seus dados.
Já não chega ficarmos espertos na rua à visão de uma dupla em nossa direção numa moto. Agora não podemos piscar nem em casa.