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Netas de Tiradentes

 

Fiquei com pena de Tiradentes. De repente está passando à História como sugador da Nação. Tinha tantos privilégios que até hoje transmite a quatro trinetos pensões de dois salários mínimos. Não temos realmente o gosto de fazer justiça. O maior de todos os heróis brasileiros não pode ser alvo de notícias que podem levar a conclusões erradas. Um menino francês, numa enquete sobre a identidade nacional, disse que ser francês era cantar a Marselhesa, belicosa, a convidar os cidadãos às armas. Aqui, tenho medo de perguntar a um estudante quem é Tiradentes e ele me responder que é aquele que tem quatro trinetos recebendo pensão do governo.

O Brasil, formado, ao contrário dos países da América Espanhola, num processo de construção civil, tem relativamente poucos heróis nacionais na verdadeira acepção do termo. Sem dúvida o maior, pelo martírio e pela dedicação à causa da Independência brasileira, é o Alferes Joaquim José da Silva Xavier. O governo português o condenou à morte na forca, ordenando que “depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde no lugar mais público dela, será pregada em um poste alto, até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregados em postes, pelo caminho de Minas, no sítio da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve as suas infames práticas, e os mais nos sítios das maiores povoações, até que o tempo também os consuma, declaram o réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, […] e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada”.

Nos autos da devassa registra-se que prepararam uma cilada para que ficasse provado que Tiradentes conspirava contra o Rei. Um espião lhe diz: “Eu aqui estou para trabalhar para ti”. Tiradentes responde: “E eu, a trabalhar para todos.” Nossa dívida com Tiradentes deve continuar para sempre. Na Câmara o projeto 7.377/2010, encaminhado pelo Presidente Lula, apoia os jogadores das seleções campeãs do mundo de 1958, 1962 e 1970. O projeto assegura aos jogadores e seus sucessores um prêmio de 100 mil reais euma pensão de cerca de 3.500 reais. Alguns vivem em estado de penúria. Sou a favor deles. É justo que assim procedam com os que deram nome e glória ao país e ao nosso povo. Também é aceito com naturalidade que os que sofreram perseguição política recebam aposentadorias especiais e indenizações, por vezes vultosas.

É justo. Nossos heróis devem ser cultivados. Seus descendentes devem ser respeitados e ajudados pela nação. Quem trabalhou por todos merece o reconhecimento de sua
pátria.

Diário de Amapá, 10/10/2011