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Nebulosas transações

 

Os mais de 55 milhões de brasileiros que votaram em Jair Bolsonaro acreditando em sua promessa de acabar com as velhas práticas políticas certamente não suspeitavam que pouco mais de um ano depois iriam vê-lo associado a vários rolos e escândalos.

O mais vistoso deles tem como origem a denúncia do ex-ministro Sergio Moro, que deixou o governo acusando o presidente de tentar interferir na Polícia Federal para preservar a família. Um inquérito foi aberto pelo ministro do STF Celso de Mello, e o clímax desse enredo com suspense de novela está anunciado para ocorrer até depois de amanhã (ou antes), quando pode ou não ser autorizada pelo ministro a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, que ameaça ser uma bomba, pelo conteúdo e pela forma. Parece que houve mais xingamentos e palavrões do que discussões relevantes.

Enquanto se aguardava, surgiu a entrevista a Mônica Bergamo do empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio e peça fundamental na campanha eleitoral do capitão — chegou a transformar a casa em estúdio e escritório do candidato.

Embora o foco principal seja Flávio, alvo de denúncias que merecem também ser investigadas, sobrou para o chefe do clã. Segundo Marinho, depois de ser avisado por um delegado de que uma operação iria “alcançar” pessoas do gabinete, uma das quais seria Fabrício Queiroz, Flávio ligou para o pai e recebeu a ordem de demiti-lo imediatamente, o que foi feito. No mesmo dia, foi exonerada a filha de Queiroz, Nathália, lotada no gabinete do então deputado federal em Brasília.

Queiroz, amigo de longa data de Jair Bolsonaro, era o operador do esquema de “rachadinhas”, que consistia em encaminhar parte do salário dos assessores para os deputados. Ele andou sumido — ou fugido— do noticiário. Seu retorno promete muitos sustos e emoções.

Por exemplo: em investigações antigas, que deviam ser retomadas, constava que o “Escritório do crime”, apontado como executor da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, estava conectado ao gabinete de Flávio graças a Queiroz.

O Globo, 20/05/2020